Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2017-12-06
Resumo
APRESENTAÇÃO
Dentre outras disposições e em resposta à Lei orgânica nº 8.080 de 1990 que confere à União o papel de desenvolver e formar recursos humanos para a saúde bem como a Política Nacional de Atenção Básica que articula os Ministérios da Saúde e Educação a fim de induzir mudanças na graduação em saúde com vistas na formação de um profissional cujo perfil seja adequado à atenção básica, foi criado o PET – Saúde (Programa de Educação pelo Trabalho em Saúde).
O cenário de prática do PET foi o serviço público de saúde, sendo as unidades básicas de saúde o local de desenvolvimento de práticas pedagógicas do Sistema Único de Saúde (SUS). Neste sentido, objetivou estimular os trabalhadores da atenção básica à saúde a receber e, sobretudo orientar o graduando envolvido no processo.
O presente trabalho objetiva relatar a experiência de participação do PET – Saúde/UFVJM (Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri) no período de 2010 a 2011 sob o ponto de vista de um preceptor do programa, vinculado a uma unidade de Estratégia de Saúde da Família (ESF) do município de Diamantina, Minas Gerais.
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
A UFVJM, através das Faculdades de Ciências Biológicas e da Saúde com o apoio da Secretaria Municipal de Saúde de Diamantina propôs o projeto intitulado “Integração universidade, serviço de saúde e comunidade: atuação multiprofissional aplicada à estratégia saúde da família” a fim de pleitear o PET-Saúde. O objetivo foi integrar universidade, serviços de saúde e comunidade no município de Diamantina, Minas Gerais.
O PET-Saúde contou com três grupos tutoriais (grupos 1, 2 e 3), todos sob uma coordenação geral. Cada grupo contou com 18 graduandos (12 voluntários e 6 bolsistas), 6 preceptores e um tutor, sendo que este último era um docente com função de coordenação do grupo. Os graduandos denominados petianos (termo criado pela coordenadora do projeto e usado durante todo o seu percurso), eram estudantes dos seguintes cursos: Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Odontologia, Nutrição e Medicina, sendo este último o internato rural da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
As atividades curriculares para cada curso foram assim descritas:
- Enfermagem: Visitas domiciliares; orientações sobre aleitamento materno; pesar e medir crianças; atividades educativas com pacientes portadores de doenças crônicas transmissíveis; estágio supervisionado.
- Farmácia: Gestão e organização dos serviços farmacêuticos; seleção dos fornecedores/licitação e armazenamento de medicamentos; distribuição de medicamentos; dispensação de medicamentos; atenção farmacêutica e prestação de outros cuidados à saúde; estágio supervisionado.
- Fisioterapia: Atendimentos individuais e coletivos, visando além da promoção à saúde e prevenção de agravos, a reabilitação funcional; fisioterapia preventiva; estágio supervisionado.
- Medicina: Internato de saúde coletiva.
- Nutrição: Execução de atividades que garantam a segurança nutricional e alimentar; avaliação nutricional; orientação nutricional; prescrição dietética; orientação na aquisição e manipulação de alimentos; atividades de educação; estágio supervisionado.
- Odontologia: Ações educativas para o controle de placa; uso tópico de flúor; educação para a saúde bucal; atendimento clínico aos usuários do SUS; estágio supervisionado.
Os preceptores eram 18 no total, sendo assim distribuídos: 8 enfermeiras, 02 farmacêuticos, 01 fisioterapeuta, 02 médicos, 01 nutricionista, 02 odontólogas. Estes profissionais estavam vinculados a 09 unidades de ESF localizadas na sede e na zona rural, à farmácia básica do município, ao programa DST/AIDS e à gestão de saúde diretamente e foram selecionados mediante ao fato de apresentarem três anos ou mais atuação no SUS e especialização em Saúde da Família e /ou Atenção Básica e Saúde Coletiva. Coube a eles, a supervisão dos acadêmicos e participação nas pesquisas sendo esta última função parte das atividades cotidianas da ESF ou outro setor do qual faziam parte.
Foram realizadas pesquisas seguindo três linhas:
- Educação em Saúde: interfaces entre os ciclos de vida e o ambiente.
- Mortalidade Materna e Mortalidade infantil no Vale do Jequitinhonha.
- Promoção do uso racional de medicamentos e plantas medicinais nas doenças crônicas e negligenciadas no Vale do Jequitinhonha.
Em dois anos de programa, foram feitas as seguintes atividades no campo da pesquisa, ensino e extensão, a saber:
- Ensino: Discussão temática sobre educação em saúde, uso racional de medicamentos, doenças sexualmente transmissíveis, alimentação saudável e promoção de saúde e relatos de experiências sobre as atividades desenvolvidas no PET-Saúde através de seminários mensais; Cursos de capacitação multiprofissional e interdisciplinar para agentes comunitários (Fig. 1) e cuidadores de creches (Fig. 2); Minicurso para gestantes; I Simpósio de Atenção Primária à Saúde; criação do Mural do PET-Saúde (Fig. 3)
- Pesquisa: Conhecendo os medicamentos e as plantas medicinais. EDITAL 12/2008 pesquisa e extensão - financiado pela FAPEMIG: CDS-APQ-01907); Perfil nutricional em mulheres climatéricas e impacto de um programa de educação nutricional; Caracterização do comportamento alimentar, utilização de alimentos regionais e promoção da saúde por intermédio da educação nutricional- alimentação saudável; Elaboração de artigos científicos.
- Extensão: Implantação da atenção farmacêutica para pacientes hipertensos nas Estratégias Saúde da Família; Implantação da farmacovigilância na farmácia comunitária; Educação para o uso racional de medicamentos; Ensinando as famílias como armazenar e descartar os medicamentos no domicílio; Promoção da alimentação saudável nas Estratégias Saúde da Família; Campanha de doação de sangue para o Hemominas/ Diamantina.
IMPACTOS
Pode-se afirmar que a experiência transformou a realidade no campo da saúde no município de Diamantina, já que ela deixou como herança, a vontade de continuar o processo de mudança instaurado. Os preceptores se apropriaram desta herança, e mesmo com o fim do programa, continuaram a transformar continuamente seus processos de trabalho. Vários ingressaram em mestrados profissionais a fim de manter a linha de mudanças propostas. No fim deste processo o ganho que se teve foi uma melhora substancial nos currículos já que muitos estavam afastados da universidade devido à rotina do processo de trabalho. Este fato, certamente originou indivíduos mais questionadores no que tange seus saberes, suas realidades com a possibilidade de devolver esta mudança positivamente para a comunidade pela qual prestam seus serviços.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As iniciativas coletivas com o intuito de mudar os projetos político-pedagógicos dos cursos de graduação em saúde, integram a universidade aos serviços de saúde e consolidam o processo de educação permanente dos profissionais à serviço do SUS. O PET-Saúde/UFVJM veio corroborar o processo de mudança na formação profissional em saúde. Os atores sociais envolvidos tiveram a oportunidade de ampliar a reflexão sobre o processo de construção do SUS, tendo no centro deste debate a transformação de realidades ocorridas. Neste sentido, pode-se concluir que o PET-Saúde/UFVJM, despertou estímulos relacionados ao interesse pelo conhecimento em si e pelo o que ele pode transformar em acadêmicos, docentes e profissionais dos serviços de saúde.