Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Vivências Interdisciplinares e Multiprofissionais na Universidade Comunitária da Região de Chapecó – Chapecó - SC
Simone Cristine dos Santos Nothaft, Maria Assunta Busato, Maria Elisabeth Kleba da Silva

Última alteração: 2017-12-06

Resumo


Apresentação

O contexto e o entendimento do conceito ampliado de saúde requer um processo de ensino-aprendizagem que considere a importância da articulação de políticas e práticas, de forma a promover o envolvimento do sujeito (usuário e/ou profissional de saúde e /ou estudante) enquanto ator participante, ativa e reflexivamente, do processo de construção e transformação de seu território, incluindo os serviços e processos de trabalho em saúde ali inseridos. Com esse intuito, a Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó), por meio do projeto Vivências Interdisciplinares e Multiprofissionais (VIM), uma das atividades aprovadas no Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (Pró-Saúde), em parceria com a Secretaria da Saúde de Chapecó/SC, promove a interação de professores e estudantes de distintas profissões da saúde com profissionais e usuários dos serviços da área, além de efetivar ações conjuntas na Atenção Básica do município.

Este relato de experiência, desenvolvido no âmbito da disciplina Políticas e Práticas de Ensino do Mestrado em Ciências da Saúde da Unochapecó, tem como objetivo refletir acerca do eixo de orientação pedagógica do Pró-Saúde, com base na experiência de tutoria de um grupo do VIM, ocorrida no período entre fevereiro e maio de 2014. As questões norteadoras que possibilitaram a construção dessa reflexão foram formuladas pelos mestrandos no decorrer das atividades da disciplina, contemplando todos os eixos do Pró-Saúde, porém sendo eleito o eixo orientação pedagógica para essa discussão, pela afinidade e apreço pelos temas que esse eixo aborda.

A edição do VIM no ano de 2014 possibilitou a inserção de mestrandos que desenvolveram atividades como tutores de grupos, tendo como objetivo promover uma estratégia de ensino no contexto de práticas docentes que utilizam metodologias ativas de aprendizagem.

Desenvolvimento

Para o desenvolvimento desse relato, foram elencados tópicos que emergiram de acordo com as questões norteadoras do roteiro de observação do VIM, construído pelos mestrandos, organizadas em três categorias, a saber: a construção da concepção do SUS pelo estudante; o estudante como parte de uma equipe no SUS; e, a corresponsabilidade do estudante no processo de ensino-aprendizagem.

O eixo cenários da prática pressupõe que o processo de ensino-aprendizagem esteja permeado pelas metodologias ativas, possibilitando que os estudantes sejam sujeitos na construção do conhecimento, do aprender fazendo por intermédio da problematização e da ação-reflexão-ação, possibilitada com a inserção nos cenários de prática. O grupo tutorial foi composto por dez estudantes dos cursos de Educação Física, Nutrição, Farmácia, Fisioterapia, Medicina, Psicologia e Odontologia. As discussões abordando os temas aqui apresentados aconteciam durante as tutorias dos grupos, reunidos para desenvolver as tarefas propostas em cada dia de encontro. As atividades realizadas com os grupos incluíam cinco encontros tutoriais, uma inserção no território de uma unidade básica de saúde para realizar observações e conversar com profissionais e usuários, e uma socialização da experiência com todos os estudantes, além da produção de um relato final escrito.

A construção da concepção do SUS pelo estudante

O VIM edição 2014 envolveu os estudantes dos primeiros períodos dos cursos da área da saúde. Na discussão sobre o SUS, constatou-se o desconhecimento por parte dos membros do grupo sobre informações e princípios básicos do SUS. O conhecimento acerca do sistema de saúde estava condicionado ao modelo biomédico, que prioriza no processo saúde e doença o foco na etiologia específica e na cura, com a mínima referência de ações de promoção da saúde. A reflexão acerca do exposto é pela condição de usuários que caracteriza os estudantes se encontram, os quais adentraram há pouco tempo na academia e terem arraigadas as questões relacionadas ao sistema de saúde enquanto cidadãos inseridos num determinado território, sendo influenciados pelas concepções vigentes na sociedade, mas também pelas práticas atuais dos serviços de saúde.

O estudante como parte de uma equipe no SUS

Quando a discussão era acerca da equipe de saúde e de sua expectativa em fazer parte dessa equipe, os estudantes demonstravam pelas suas colocações, uma visão superficial e limitada, centrada na sua profissão exclusivamente. Apresentavam dificuldades de se visualizar como equipe, expressando durante as primeiras tutorias a resistência do trabalho interdisciplinar e multiprofissional, já durante a academia.

A corresponsabilidade do estudante no processo de ensino-aprendizagem

O processo de ensino-aprendizagem no VIM é centrada no estudante que é agente ativo nesse processo, sendo apoiado por um tutor que exerce o papel de mediador do conhecimento através de tutorias. A sistematização das tutorias é percebida pelos estudantes como sendo um desafio, ocasionando inicialmente dificuldades de adaptação a esse modelo, porém eles logo se percebem atuantes diretos do processo, e mesmo que alguns membros do grupo não respeitem os pactos e contratos de trabalho estabelecidos, a maioria assume o compromisso e desenvolvem as atividades com empenho, dedicação e avaliação positiva.

Considerações finais e percepções da experiência na jornada profissional

Os objetivos foram alcançados por contemplarem a reflexão do eixo de transformação de orientação pedagógica, pois a experiência possibilitou a percepção da relevância do VIM por criar um espaço dentro da academia, de discussão do SUS através de metodologias ativas pautadas no conceito ampliado de saúde como fio condutor e no aprender fazendo permeado pela vivência no cenário de prática.

Considera-se que o VIM possibilita a interação ensino, cenários de prática e comunidade, ofertando ao estudante as diversas possibilidades de um processo de formação em redes que estimule sua curiosidade pela busca do conhecimento, exercitando o planejamento das ações, sempre de acordo com as necessidades locais e as premissas do sistema de saúde.

A possibilidade de essa prática ser permanente e estendida a outros cursos além da área da saúde pode transformar o processo de educação das universidades brasileiras na formação de profissionais de saúde condizentes com as necessidades do serviço público e da coletividade.

Após o encerramento da disciplina e o retorno às atividades profissionais como docente no curso de enfermagem de uma universidade pública, percebeu-se que essa prática contribuiu para a qualificação profissional principalmente no que tange a interdisciplinaridade em saúde. Atualmente se percebe que a disciplinarização extrema do saber se contrapõe com a totalidade do ser humano e suas relações de interdependência, bem como a condição necessária para a convivência, que remete à necessidade de uma mudança de paradigma e formas sistêmicas de pensar a formação em saúde. A totalidade não isenta a importância das disciplinas, base na construção do conhecimento, pelo contrário, requer um ato contínuo de reconhecimento enquanto singularidade, diversidade, referência, de forma recursiva e recorrente e reflexão à própria história no processo sistemático do desenvolvimento científico. Porém, não há como fragmentar ou estudar as disciplinas separadamente, na complexidade que é a formação, quando se visa instrumentalizar profissionais para o cuidado integral à saúde de pessoas e coletividades.


Palavras-chave


educação; formação em saúde; orientação pedagógica; interdisciplinaridade