Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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“SAÚDE DA FAMÍLIA EM DEBATE”: UM DISPOSITIVO DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE EM UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE DO DISTRITO FEDERAL
Leonardo Passeri de Souza, Maria Martins Alessio, Simone Fátima da Silva

Última alteração: 2017-12-06

Resumo


O QUE É O “SAÚDE DA FAMÍLIA EM DEBATE”?

O Distrito Federal (DF), no ano de 2017, iniciou o movimento de consolidar a Estratégia Saúde da Família (ESF) como estratégia prioritária de reorganização da APS do DF, promovendo o processo de conversão do modelo tradicional de APS para ESF nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). Nesse contexto, o “Saúde da Família em Debate”, trata-se de um dispositivo de EPS, estruturado como um ciclo de encontros de debate, direcionado aos profissionais de saúde de uma UBS do DF, como estratégia de apoio a esses profissionais no processo de conversão apontado, cujo seu objetivo consistia em empoderar e fortalecer esses profissionais a atuarem no modelo de ESF.

Para as discussões nos encontros foram elencadas temáticas introdutórias relativas à ESF, a fim de oportunizar que os profissionais tivessem contato com essas temáticas. Portanto, foram definidas 4 temáticas, e assuntos correlatos a cada uma, que foram distribuídas em um ciclo de 4 encontros.

Entendendo que as mudanças trazidas com a conversão para ESF também geravam impacto no campo pessoal/individual dos profissionais, procurou-se também trazer para os encontros assuntos mais direcionados a esse campo, como forma de promover reflexões sobre as mudanças trazidas além do campo dos processos de trabalho.

Como metodologia usada nos encontros optou-se por uma metodologia ativa de aprendizagem, a metodologia da problematização onde cada encontro foi construído em cima do uso de estratégias de interatividade e participação como: dinâmicas de grupo, estudos de caso, vídeos, dramatizações, construção de painéis conceituais e até mesmo recorreu-se à estratégias dos campos da pedagogia e psicologia como, por exemplo, o uso de um livro de imagens e uma atividade de terapia comunitária integrativa.

Definiu-se que o mais propício seria um encontro semanal com duração de cerca de 2 horas, pelo período da manhã. Além disso, pelos encontros estarem construídos em cima de participação coletiva e interativa, para cada ciclo de encontros foi definido o número médio de 15 participantes como adequado para oportunizar que todos tivessem oportunidade de se expressar e interagir, considerando-se também, o não prejuízo à rotina e organização da UBS com a ausência dos profissionais.

Perante essa definição, para atender o quantitativo de profissionais elegíveis à participarem, foram promovidos 3 grupos de participantes, realizados entre os meses de julho, agosto e setembro de 2017, sendo que, ao total, estava previsto para participar cerca de 40 profissionais, entretanto, alguns deixaram de participar de um ou mais encontros. Portanto, efetivamente, participaram de todos os encontros, cerca de 25 profissionais, entre técnicos de enfermagem, cirurgiões dentistas, técnicos de higiene bucal e técnicos administrativos, não havendo a participação de médicos e enfermeiros devido já estarem passando por formação externa.

A idealização, formatação e execução do “Saúde da Família em Debate” partiu de uma parceria com um Sanitarista, Residente do Programa de Residência Multiprofissional em Atenção Básica do Hospital Universitário de Brasília (HUB/UnB), que durante seu segundo ano de residência estava apoiando o processo de conversão da UBS para o modelo de ESF, tendo também ficado sob sua responsabilidade a execução e condução dos encontros propostos.

O QUE FOI POSSÍVEL COM O “SAÚDE DA FAMÍLIA EM DEBATE”?

Como forma de avaliação, os participantes no último encontro responderam, anonimamente, um pequeno questionário, estilo Likert. Composto por 5 afirmativas, para cada uma delas, os participantes tinham que escolher entres as opções: “concordo”, “concordo parcialmente” e “discordo”, onde para nenhuma afirmativa houve a escolha pela opção “discordo” por parte dos participantes.

Embora todas as afirmativas no questionário fossem importantes para a avaliação, as afirmativas 4a e 5a são as que estavam mais relacionadas ao objetivo definido de fortalecer e empoderar os profissionais a atuarem na ESF. São elas: “Depois de ter participado do “Saúde da Família em Debate”, passei a compreender melhor sobre o que é a Estratégia Saúde da Família.” e “Sabendo que terei que atuar na Estratégia Saúde da Família, achei importante ter participado do “Saúde da Família em Debate” e me sinto mais preparado (a) para minha atuação profissional.” Portanto, a fim de mensuração, tinha-se a meta de 75% de participantes que escolhessem a opção “concordo” para essas afirmativas, meta essa, atingida para a 4a afirmativa, com 83,3%, e próximo de ser atingida para a 5a afirmativa, com 66,7%.

O questionário também tinha um espaço para comentários e sugestões, que foi utilizado por alguns participantes, podendo-se destacar alguns trechos, como: “Achei um cuidado especial com o servidor ter tido a oportunidade de aprender sobre a Estratégia Saúde da Família.”; “Gostei muito dos encontros, parabéns pelo trabalho.”; “Foi muito importante como tudo foi apresentado.”; “Achei interessante a iniciativa desses encontros. Obrigada.” e “Queria parabenizar pela iniciativa e que tenham mais encontros.”.

Esses comentários e sugestões, junto com as avaliações das afirmativas, mostram que de uma forma geral os participantes gostaram da realização da iniciativa, do formato como foi desenvolvida/promovida e que conseguiram se aproximar das temáticas introdutórias sobre a ESF, assim como, a compreender melhor do que se trata e se sentirem mais preparados para atuarem nesse modelo.

Além da avaliação obtida através do questionário, fazendo uma análise observacional, o que pôde ser percebido, nos 3 grupos realizados, é que inicialmente os profissionais se mostravam reativos e resistentes a participarem. Entretanto, conforme a realização dos encontros percebeu-se que os profissionais iam ganhando maior empatia e interesse pelos encontros e pelo o que se estava discutindo. Como indício dessa observação, participantes que inicialmente não queriam interagir e se colocar/expressar no grupo, com o decorrer dos encontros apresentaram maior participação e interatividade. Além disso, no último encontro dos grupos, alguns participantes, também se expressaram verbalmente, agradecendo a realização dos encontros, afirmando que consideraram importante participarem e que gostariam que tivesse continuidade, pois nunca tinham tido a oportunidade de participarem de uma iniciativa dessa no próprio ambiente de trabalho deles.

Esse feedback dos profissionais, demonstram que os profissionais consideram importante participar de iniciativas como a que foi oportunizada e que teriam interesse em continuar participando casso tivesse continuidade, o que indica que os profissionais de saúde, a partir da participação nos encontros, se despertaram para a importância e necessidade de um processo contínuo de EPS no cotidiano de trabalho deles. Neste sentindo, a realização dessa iniciativa tinha um impacto esperado, que era a partir de sua realização iniciar o fomento de um processo de EPS na UBS, e que, portanto, pode-se dizer que, a partir desses resultados descritos, foi possível gerar esse impacto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Promover processos de ensino-aprendizagem participativos e crítico-reflexivos nas organizações de saúde requer considerar as complexidades inerentes aos contextos dessas organizações, logo, recorrer a EPS como estratégia pode se apresentar como um desafio. Entretanto, os resultados e efeitos apresentados pela experiência aqui relatada revelam a importância de essa iniciativa ter recorrido a EPS, visando uma estratégia de apoio aos profissionais de saúde para o momento em que estavam vivenciando, mostrando que, mesmo que se possa apresentar como um desafio, recorrer a ela pode trazer significativos resultados e transformações nos contextos em que se é empregada, e que, portanto, o seu potencial em promover transformações revela o valor em se buscar superar o desafio imposto.


Palavras-chave


Educação em Saúde. Atenção Primária à Saúde. Pessoal de Saúde.