Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2017-11-06
Resumo
Apresentação: A sexualidade da mulher não termina com o envelhecimento, e os avanços na educação e na saúde podem mudar a manutenção e a expectativa de vida sexual das idosas. Sabe-se que há ainda uma falta de abertura social para abordar o tema, e a maioria das idosas se sentem reprimidas e constrangidas por não falar de desejos, que diante de uma sociedade carregada de preconceitos, tabus e dogmas. Assim, a discussão sobe a sexualidade inclui um repensar constante dessa prática, para que essas questões possam ser abordadas pela sociedade, sem reduzi-las aos aspectos biológicos, buscando abranger as percepções do corpo, do prazer e desprazer, entre outros aspectos e valores emergentes relativos à sexualidade na contemporaneidade. Diante disso, este estudo objetivou conhecer a percepção da mulher idosa sobre sexualidade. Desenvolvimento: sabe-se que alguns fatores influenciam diretamente como a mulher idosa vivencia a sua sexualidade, como a falta de informação, a vergonha, o preconceito, sobretudo delas mesmas em relação a sua idade. Nesse sentido, tratou-se de um estudo qualitativo descritivo, no qual foram entrevistadas 50 mulheres idosas no interior da Bahia, e foi realizada a análise de conteúdo das entrevistas. A coleta de dados foi realizada com base no cadastro das 15 Unidades de Saúde da Família (USF) do município. Primeiramente, foi realizado o levantamento aleatório da localização das idosas em cada área de adscrição, em parceria com a USF, para posteriormente a mesma ser abordada em sua residência. A técnica de coleta de dados foi à entrevista direta com utilização de um roteiro não estruturado, composto por duas questões norteadoras, que abordaram a percepção da idosa sobre sexualidade. Os dados foram coletados no período de março a junho do ano 2016, sendo que, cada entrevista, durou em média 40 minutos. Todas as entrevistas foram gravadas mediante a autorização da participante, para posterior transcrição, assegurado quanto à confiabilidade e privacidade dos dados pessoais obtidos. O tratamento dos dados foi realizado a partir da técnica de análise do conteúdo, seguindo às etapas descritas por Bardin (2011) e Minayo (2007), e foi dividido em três fases: ordenação dos dados: na qual o material empírico coletado (documentos e transcrições das entrevistas) foi organizado, com a identificação das idosas por número e a transcrição dos áudios na integra; classificação dos dados e análise propriamente dita. A amostra foi de 50, por conveniência, contudo a saturação das respostas ocorreu com 39 idosas. Resultados: As idosas, por terem uma vulnerabilidade pregressa diante de um cenário de tantos afazeres em sua juventude, na qual eram majoritariamente donas de casa, responsáveis por trabalhar, cuidar de filhos e ainda dispor do seu tempo para o marido, vivem hoje das consequências desses fatores. Muitas vezes a realidade diverge do almejado desejo de querer se cuidar, de realizar atividades divertidas e sair da rotina, pois a falta de tempo e de entusiasmo com a vida e consigo mesma é o que caracteriza e concretiza alguns tabus de que idosa não pode ter uma vida similar à da sua juventude. As idosas mostraram uma associação da sexualidade ao ato sexual, como algo que só pode ocorrer após o casamento, sentindo-se reprimidas pelo medo das críticas e dos julgamentos. Relataram ainda a falta de assistência dos profissionais da saúde sobre o tema, e com isso observou-se a fragilidade da confiança e do vínculo entre paciente e profissionais, devido aos dogmas instituídos pelo tema. Notou-se que mudanças devem ser pensadas sobre a assistência prestada a respeito da sexualidade, podendo ser planejadas estratégias para lidar melhor com esse público usando sugestões dadas pelas mesmas, como a formação de grupos de discussão sobre saúde sexual no envelhecimento. Esse estudo abre caminhos e deixa perguntas a serem respondidas por novas pesquisas, sabemos o que a idosa pensa sobre sua sexualidade, mas como as pessoas enxergam a sexualidade da mulher idosa? Ao falarem da falta de assistência por parte dos profissionais de saúde, levantam um questionamento importante, pois é justamente neste contexto que a dificuldade é retratada, por não terem uma assistência adequada para cuidar da própria saúde, ocultada pela objeção ao assunto. Sendo assim, uma atenção específica voltada para os aspectos físicos e socioculturais, que estão ligados à sexualidade, podem ser um sanador de várias dificuldades vivenciadas por elas. É importante relatar que a sexualidade e o corpo estão intrinsecamente ligados ao cuidado como prática social de vivenciar essa fase, por serem os profissionais que cuidam do corpo no qual se manifesta a sexualidade, desse modo deveriam tratar esse tema com outro olhar, mas falar da sexualidade ainda é um tabu e de certa maneira proibido, onde foi retratada pelas mesmas uma maior dificuldade em abordar o tema. Considerações finais: este estudo visou discutir o olhar da mulher idosa sobre sexualidade, em relatar o tema quebrando os tabus criados por uma sociedade muitas vezes machista e restritiva. Desta forma, constatou-se nesse estudo que entender como a idosa pensa e se sente em sua sexualidade é importante não apenas para compreender o processo de envelhecimento associado à sexualidade, mas fundamental para conhecer e desenvolver estratégias que atenuem os efeitos da senescência relacionado a sexualidade de forma a garantir a vivência da mesma de forma positiva, sem medos ou preconceitos em falar sobre este processo fisiológico. É importante salientar que a perda do interesse sexual relatado, está relacionada à qualidade do relacionamento amoroso e não a fatores biopsicossociais naturais da senescência na compreensão da satisfação da idosa. Este processo depende, sobretudo não apenas da idosa, mas de um acompanhamento de saúde, e neste propósito contribuir para uma assistência voltada para a saúde sexual nesta fase tão importante da vida, que é a terceira idade. Reafirmou-se a falta de abertura social e capacitação dos de saúde profissionais para atender a essa demanda, os mesmos devem se despir de preconceitos, tabus, e principalmente das críticas. REFERÊNCIAS:
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