Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A GESTÃO DO CUIDADO COMPARTILHADO EM SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE: A CONSTRUÇÃO DE UMA LINHA DE CUIDADO EM SAÚDE MENTAL NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA.
Dassayeve Távora Lima, Bianca Waylla Ribeiro Dionísio, Klivia Sibele Távora Lima, Paulo César de Moura Luz

Última alteração: 2017-11-27

Resumo


RESUMO: APRESENTAÇÃO: Este trabalho objetiva relatar a experiência de implantação de uma linha de cuidado em saúde mental por residentes em saúde da família, atuantes no Centro de Saúde da Família (CSF) Novo Recanto, em Sobral/CE, no período de março à outubro de 2017. A experiência em questão diz da construção da atenção compartilhada em saúde mental, através da pactuação de um itinerário assistencial que contemple a atuação multiprofissional na organização dos processos de trabalho da unidade de saúde. Sabe-se que a Atenção Primária à Saúde (APS) é o nível de atenção responsável pelo cuidado sanitário de um determinado território, devendo se orientar pelas necessidades de saúde de sua população adscrita. Na realidade brasileira do SUS, a APS ocupa um papel estratégico na organização das redes assistenciais à saúde, buscando atuar em consonância com os princípios da integralidade, resolutividade, longitudinalidade, e ainda, atuar enquanto porta de entrada e coordenadora do cuidado dos usuários na rede. Significa dizer que a APS é a base do cuidado em saúde, buscando contemplar as diretrizes da clínica ampliada e concebendo o usuário como sujeito biopsicossocial, inserido numa teia de relações existentes no território onde habita. No que diz respeito às demandas psicossociais, ressalta-se que, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de um terço das demandas que chegam à APS apresentam componentes relacionados a questões de sofrimento psíquico, e enfatiza que a mesma seja a base dos cuidados comunitários em saúde mental. Ainda que a literatura reconheça a importância fundamental da integração da APS na atenção psicossocial, ainda é comum a concepção de que este seja um campo complexo demais para os cuidados primários, delegando-os aos serviços especializados e superlotando-os, muitas vezes, com demandas que poderiam ser manejadas de forma resolutiva pela atuação multiprofissional na APS, principalmente as que atuam sob o modelo da estratégia saúde da família (ESF), desde que exista um alinhamento entre as ações da equipe, e uma organização dos processos de trabalho dentro do serviço. Desse modo, por mais consensual que seja a importância do cuidado em saúde mental nos níveis primários da atenção, construí-lo na prática ainda configura-se como um desafio. Nesse sentido, este trabalho objetiva compartilhar a experiência de implantação e organização do itinerário assistencial em saúde mental, em um CSF no município de Sobral/CE, bem como ações que tencionam realizar um alinhamento teórico-prático acerca do papel estratégico da APS na efetivação do cuidado comunitário em saúde mental. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Apesar da importância do cuidado em saúde mental na APS, principalmente no que diz respeito ao olhar da clínica ampliada, a assistência à pessoas em sofrimento psíquico neste nível de atenção ainda é incipiente. É comum encontrar equipes que se sentem inseguras ao lidar com essas demandas, e resumem o cuidado a prescrições medicamentosas e encaminhamentos a serviços especializados. No CSF Novo Recanto, a realidade não destoava com a da maior parte da APS no Brasil. O cuidado compartilhado era deficitário, pois sempre que surgia alguma demanda que se aproximasse da saúde mental, o caso era prontamente encaminhado para o psicólogo residente, desresponsabilizando o restante da equipe da gestão do cuidado deste usuário. Além dos encaminhamentos excessivos, e por vezes, desnecessários, havia grande dificuldade em compartilhar o cuidado com o restante da equipe, pois a organização dos processos de trabalho impediam momentos de atuação conjunta, seja para discussão de casos, interconsultas ou formulação de projetos terapêuticos singulares. Após um ano de atuação no serviço, compreendendo que aquele modelo de atenção em saúde mental instituído até então era precário, pouco resolutivo e fragmentado, a equipe de residentes levou a proposta de atenção compartilhada em saúde mental, propondo um novo itinerário assistencial. A proposta objetivou envolver os profissionais da equipe e trabalhar de forma multiprofissional, proporcionando a reorganização do trabalho, bem como promover os diversos olhares de núcleos distintos no sentido de ofertar um cuidado integral aos usuários. No primeiro momento, discutiu-se no formato de educação permanente em saúde, o papel da ESF no cuidado em saúde mental, bem como o seu caráter estratégico na efetivação da Reforma Psiquiátrica Brasileira. Foram levantadas questões sobre as demandas mais frequentes e de que forma a ESF pode ser resolutiva na condução desses casos dentro do próprio território. Desse modo, foram estabelecidas linhas de cuidado e fluxogramas específicos no cuidado em saúde mental, atentando-se à classificações de vulnerabilidade dos casos e quais as intervenções que poderiam ser realizadas em cada um deles, e ainda, pactuou-se uma agenda mensal de atenção compartilhada em saúde mental. O fluxo seguiria então da seguinte forma: a demanda é identificada pelo agente comunitário de saúde, enfermeiro e/ou médico. Identificada a demanda, o caso seria agendado para o momento de acolhimento em saúde mental, que acontece duas vezes no mês (1° e 3° terça-feira do mês, no turno da tarde). Esses turnos são dedicados exclusivamente para demandas relacionadas à saúde mental, ou seja, ainda que não exista nenhum agendamento para atendimento conjunto da equipe, o turno pode servir para discussão de casos e formulação de planos de cuidado para estes usuários. Este momento seria estratégico para a organização do cuidado em saúde mental na unidade, pois ele tem um caráter resolutivo, pedagógico, bem como atua no sentido de formulação de planos terapêuticos e orientador das demais estratégias de cuidado que o usuário demande. RESULTADOS: Após a implantação da linha de cuidado na unidade, desde março de 2017, a equipe relata ter mais unidade nas ações, e mais facilidade para a gestão dos casos. Houve ainda uma potencialização no cuidado longitudinal, tendo em vista que a discussão sistemática dos casos possibilita um olhar mais próximo da equipe. Importante ressaltar que depois da implantação das tecnologias de cuidado multiprofissional, as demandas compartilhadas com serviços de atenção secundária diminuíram consideravelmente, bem como encaminhamentos para atendimentos individuais para os profissionais de referência em saúde mental da unidade, permitindo uma melhor administração da agenda e possibilitando a realização de atividades mais diversas. A equipe também relata sentir-se mais confiante ao discutir e manejar os casos, mostrando a potência do apoio matricial e da atuação multiprofissional, que por si só se configuram como estratégias de educação permanente em saúde. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A experiência aqui relatada tem se mostrado eficiente na resolução das demandas que têm surgido no território, e a sua socialização pretende oferecer recursos teóricos e práticos para a criação de novos modelos de cuidado que melhor se adequem a cada realidade de atuação. Em linhas gerais, esta experiência busca enfatizar a importância dos cuidados em saúde mental na APS, por meio da efetivação e instrumentalização de conceitos basilares da atenção psicossocial no contexto da ESF, tais como a integralidade, multiprofissionalidade, gestão do cuidado, longitudinalidade, resolutividade, acessibilidade, entre outros. Nesse sentido, mais importante que replicar esta experiência nos mais diversos contextos e locais de atuação, é priorizar arranjos assistenciais que possibilitem a efetivação destas diretrizes na organização dos processos de trabalho, compreendendo que existem caminhos diversos para a concretização destes princípios no cotidiano dos serviços.


Palavras-chave


Saúde Mental; Atenção Primária à Saúde; Assistência Integral à Saúde.