Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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“A PRIMEIRA IMPRESSÃO É A QUE FICA”: caminhos para o acolhimento à demanda espontânea com classificação de risco na Estratégia Saúde da Família
Bianca Waylla Dionisio, Dassayeve Tavároa Lima, Paulo Cesar de Moura Luz

Última alteração: 2017-12-21

Resumo


APRESENTAÇÃO:A imersão na saúde da família e o conhecimento prévio sobre seu histórico e processo de trabalho, nos permite perceber o quanto o desenvolvimento de ações/atitudes de produção de cuidado passaram a ser praticadas de maneira mecanizada, norteada por números, metas e porcentagens, atendimentos voltados a queixa-conduta e a medicalização da vida, suprimindo e descaracterizando o maior e mais importante princípio da atenção básica, o vínculo, bem como as funções do exercício profissional da equipe interdisciplinar e multiprofissional que a compõe. Inúmeros são os fatores que vêm desencadeando essa situação, entre eles, a sobrecarga, a precarização dos vínculos e as condições insalubres de trabalho. Em nossa vivência, como Residentes Multiprofissionais em Saúde da Família (RMSF), conseguimos imergir nesse cenário com olhar crítico-reflexivo e um perfil oxigenador, motivados por um processo de formação constante em nossa prática diária, com apoio de tutoria e preceptoria, que facilita reconhecer particularidades, fragilidades e potencialidades das equipes e comunidades.   Notamos que há uma renovação constante de saberes tecnológicos em saúde, contudo, compreendemos que a soma dos fatores negativos citados acima, vem impedindo que os profissionais do sistema possam se envolver de modo mais ativo. Reconhecendo esta fragilidade, ressalta-se o investimento em Educação Permanente em Saúde (EPS) no município. A proposta de intervir sobre as problemáticas e a ressignificação dos conhecimentos utilizando a EPS é fundamental, pois caracteriza-se como uma educação em serviço. Contudo, percebemos que esses momentos precisam ser cuidadosamente pensados, ampliando/incentivando a participação da equipe na construção da EPS, desde o levantamento das problemáticas, desejos e curiosidades a serem discutidos, à metodologias que possibilitem o diálogo e a participação ativa dos sujeitos, a fim de desconstruir a imagem desses momentos como incômodos e desnecessários, e os relatos frequentes acerca da desmotivação, cansaço e sobrecarga. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Este resumo é um recorte do primeiro encontro da intervenção realizada pela enfermeira residente da RMSF, sobre o acolhimento a demanda espontânea com classificação de risco de um Centro de Saúde da Família (CSF), composto por duas eSF, no município de Sobral/CE, entre os meses de novembro de 2016 e fevereiro de 2017, com apoio da tutora e equipe de RMSF. Partindo da premissa discutida anteriormente, ao idealizarmos intervir sobre o acolhimento, o primeiro ponto elencado como fragilidade para o desenvolvimento da intervenção foi como envolver a equipe no processo, para que faça sentir e sentido a ressignificação das práticas de cuidado e no agir em saúde coletiva.  Por vivenciarmos durante um ano e meio, de maneira direta e diária, os encontros e desencontros dos “acolhimentos”, que, por vezes, se configuravam apenas como triagem para consulta médica,  nos aproximamos dos processos de trabalho da equipe de saúde, e seu histórico de conflitos internos, dispersão, desmotivação, e não envolvimento com os momentos de caráter pedagógico, por conta disso, abraçamos a EPS, tecnologias leves, metodologias participativas e ferramentas lúdicas como suporte para implementarmos a proposta. Foi através do famoso ditado popular “a primeira impressão é a que fica", que refletimos sobre o mais importante passo de toda nossa intervenção: o primeiro encontro. O encontro teve como objetivo sensibilizar os profissionais sobre a intervenção e principalmente motivar a participação no processo de desconstrução e ressignificação dos saberes, práticas e atitudes frente ao acolhimento a demanda espontânea, a partir da reflexão e problematização do trabalho em equipe. Compreende-se por acolhimento o encontro entre profissionais e usuários, que possibilita criar e/ou fortalecer vínculos, confiança e o cuidado longitudinal. Mediante essa premissa, abordamos o cuidar e o confiar, acreditando serem pontos-chave para efetivar a prática do acolher de maneira empática e humanizada. Compreendendo os processos internos da equipe, realizamos duas atividades simultâneas, o “quebra-cabeça do cuidado” e a “oficina das sensações”, com o intuito de evitar dispersão e ociosidade. O “quebra-cabeça do cuidado: relações com o verbo cuidar e seus encontros reais”, ferramenta desenvolvida pela pesquisadora, nasce do interesse de estimular a reflexão coletiva sobre o cuidar multiprofissional e as Redes de Atenção em Saúde (RAS), além de tentar possibilitar a alusão entre os profissionais e as peças do quebra-cabeça, compreendendo que para atingirmos o objetivo final proposto pela atenção básica como ordenadora do cuidado humanizado e resolutivo necessitamos “encaixar” saberes, serviços e cuidados. A “oficina das sensações”, vem com o propósito de aguçar o confiar, através das percepções sensoriais, abraçando as suas diversas ramificações como o trabalho em equipe, o respeito e o reconhecimento do local de trabalho a partir do estimulo dos cinco sentidos. Transformamos o consultório em um espaço que remetia as sensações vivenciadas no cotidiano do CSF, no qual, cada profissional foi conduzido a porta, e antes de adentrar respondia a seguinte pergunta geradora: “Como estou entrando”? Em seguida era vendado, a fim de estimular a percepção pelos outros sentidos. Recebidos por um abraço e guiados ao longo do espaço, estimulamos a audição durante todo o percurso através de falas cotidianas; o olfato foi despertado pelo café; ao paladar ofertamos o açúcar; ao tato apresentamos alguns objetos, como prontuários, seringas entre outros, bem como um momento de relaxamento com massagens, e por fim novamente um abraço. Ao sair da sala, o profissional respondia a outra pergunta: “Como estou saindo”? IMPACTOS: Percebemos nos discursos sobre o “quebra-cabeça do cuidado”, que essa ferramenta possibilitou uma reflexão sobre cuidado, a importância do trabalho em equipe e a compreensão acerca dos diversos saberes que se complementam. Inquietaram-se com a falta de uma peça, e conseguiram perceber que esse espaço se caracterizava e se preenchia com RAS, mas pontuaram que o usuário sempre estará sobre os cuidados e a corresponsabilização do CSF. Estimulamos o diálogo acerca das sensações experimentadas no caminhar pela trilha da oficina das sensações. Ao compararmos as respostas do antes e após a oficina, percebemos o quanto os sentimentos foram ressignificados. Antes de entrar na sala os participantes se sentiam cansados, desmotivados, curiosos e tensos. Ao saírem responderam que estavam se sentindo cuidados, leves, em paz, cuidados com carinho e gratos. A oficina produziu um efeito impulsionador para trabalhar a confiança, o sentir de ser acolhido, remetendo a lembrança da chegada do usuário na unidade de saúde. Por fim, todos expressaram mais leveza, elencando o desejo de ser abraçado pela comunidade e pela equipe de saúde, enfatizando que o acolher não é realizado apenas entre profissionais e comunidade mas, também, entre a equipe. Fica claro que, para além de provocar um relaxamento na equipe, iniciarmos as intervenções através da sensibilização dos profissionais, possibilita inúmeras ressignificações, estimula a participação e implicação ao longo do processo, permitindo o reconhecimento do outro como parte da essência em fazer sentido para si. CONSIDERAÇÕES FINAIS: O acolhimento parte dos encontros e desencontros e é um ponto de tensionamento, desde a chegada do usuário, resolubilidade de sua demanda e principalmente o cuidado longitudinal, pois, é neste que nasce as impressões, que podem ou não fortalecer o vínculo e a confiança.  O acolher brota principalmente do encontro inicial entre os trabalhadores, onde emerge a necessidade de pensarmos sobre o trabalho em equipe e as diversas formas de cuidado que permeiam o conviver dentro do CSF. Cabe pensarmos, que a intervenção no acolhimento foi efetivada com sucesso, pois conseguimos envolver a cada passo da pesquisa os profissionais, tornando-os parte integrante e essencial na ressignificação das práticas do acolher.

 


Palavras-chave


Acolhimento; Saúde da Família; Atenção Básica.