Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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O CUIDADO EM SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE: A CONSTRUÇÃO DE UM GRUPO TERAPÊUTICO NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA.
Dassayeve Távora Lima, Bianca Waylla Ribeiro Dionisio, Klivia Sibele Távora Lima, Lívina Letícia Costa Araújo

Última alteração: 2017-11-13

Resumo


RESUMO: APRESENTAÇÃO: Este trabalho objetiva relatar a experiência de construção de um grupo terapêutico em saúde mental por residentes em saúde da família, atuantes no Centro de Saúde da Família (CSF) Alto da Brasília, em Sobral/CE, no período de fevereiro à setembro de 2017. Tal experiência diz da implementação de um grupo terapêutico na linha de cuidado em saúde mental da unidade, no qual se objetiva ofertar ações de promoção de saúde mental no nível primário da atenção, partindo de metodologias e atividades diversas que apostam na autonomia do usuário e na sua capacidade de desenvolver potencialidades, construir novos vínculos sociais e ressignificar, por meio da expressividade, questões relacionadas ao seu sofrimento psíquico. Preconiza-se que a atenção primária á saúde (APS) organize seus processos de trabalho no cotidiano da assistência de modo que estes sejam orientados pelos princípios da territorialização, integralidade, longitudinalidade e atuação multiprofissional, apostando nas tecnologias relacionais como basilares do cuidado. É este enfoque no vínculo e nas tecnologias leves no cuidado em saúde que a APS atua como um espaço propício para o olhar integral e humanizado, concebendo o sujeito como um ser biopsicossocial. Este cuidado que aponta para a integralidade do sujeito, permite pensar em uma ampla gama de ações assistenciais que impliquem na melhoria da qualidade de vida dos sujeitos nas mais diversas dimensões da vida, fortalecendo a importância de se trabalhar o cuidado em saúde mental no nível primário da atenção. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o cuidado em saúde mental na APS, corresponde à efetivação plena da mudança do paradigma asilar para a construção de um modelo de assistência substitutivo, pois a superação do modelo hospitalocêntrico e manicomial só é possível com a construção de um modelo de atenção psicossocial de cunho comunitário e que atue no sentido de diminuir estigmas e fortalecer a reabilitação psicossocial destes sujeitos. Por conta da capilaridade característica da APS, a mesma ocupa um espaço estratégico na oferta de ações de cuidado em saúde mental de caráter territorial e comunitário. Sabe-se que, apesar da reforma psiquiátrica brasileira surgir no bojo da reforma sanitária, a articulação entre ambas pouco tem avançado na prática e as ofertas de cuidado em saúde mental na APS ainda são experiências bastante incipientes. Apesar desta limitação na assistência ainda ser uma realidade na maior parte dos serviços de APS no Brasil, no município de Sobral-CE, o cuidado em saúde mental é prioritariamente territorial e conduzido pelos Centros de Saúde da Família (CSF), contando com o apoio matricial das equipes especializadas da Rede de Atenção Psicossocial. Neste contexto, o CSF do Alto da Brasília serve como referência no cuidado em saúde mental na APS no município, pois conta com uma linha de cuidado bem estabelecida, possibilitando uma alta resolutividade dos casos ainda no nível primário da assistência. Neste território em específico, identificou-se uma grande quantidade de usuários que demandavam cuidados sistemáticos em saúde mental. Sendo assim, foi pensado então em um grupo que pudesse dar suporte em saúde mental e que se encaixasse no fluxograma de atendimento do serviço, alinhado também com a atenção compartilhada em saúde mental e os serviços de assistência. Nesse sentido, este trabalho objetiva compartilhar a experiência de construção e implantação de um grupo terapêutico em um serviço de APS, enfatizando não só a possibilidade, mas sim, a necessidade de ofertas de cuidado em saúde mental neste nível de atenção. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: O grupo terapêutico em saúde mental do CSF Alto da Brasília foi idealizado por uma equipe da Residência Multiprofissional em Saúde da Família e tem como objetivo realizar o acompanhamento a usuários que demandam cuidados em saúde mental e que possam ser beneficiados pelas atividades terapêuticas realizadas no grupo. Tais atividades se orientam principalmente pelos princípios da reforma psiquiátrica e sua articulação com a estratégia saúde da família, no sentido da promoção da saúde. Os usuários são acompanhados longitudinalmente e se aposta na liberdade, na escuta empática, na arte, e na humanização do cuidado como ferramentas terapêuticas no cuidado. Os usuários que participam destas atividades são prioritariamente: 1) pessoas que fazem uso crônico de psicofármacos, 2) que foram acompanhados pelo CAPS Geral do município e que receberam alta, 3) egressos de internações na unidade psiquiátrica do hospital geral que oferece suporte à demandas de crise, ou ainda, 4) quaisquer usuários em situação de sofrimento psíquico que possa ser beneficiado pelas atividades terapêuticas realizadas no grupo. Com a identificação dos usuários que demandavam de cuidados sistemáticos em saúde mental pela unidade, foram planejadas ações de mobilização dos mesmos e de alinhamento teórico-conceitual para a equipe de referência da unidade. Após a mobilização dos profissionais e o convite feito aos usuários, deu-se início às atividades do grupo, com periodicidade quinzenal. Os horários, dia da semana e local do grupo foram pactuações feitas com os próprios participantes. As atividades realizadas são dinâmicas e participativas, buscando a expressividade destes usuários e respeitando os limites de cada um. No geral, realizam-se atividades como oficinas, atividades arteterapêuticas, práticas corporais, técnicas de relaxamento (meditação, autocinética e consciência corporal), exibição de filmes e rodas de conversa. Dentre algumas metodologias utilizadas para a condução dos momentos, destacam-se a da colcha de retalhos, a construção do painel coletivo, expressividade com argila, pintura em pedras, cine debate sobre o dia nacional da luta antimanicomial, oficina de medicamentos fitoterápicos, atividades de pintura e arteterapia. Os facilitadores das atividades do grupo são os residentes em saúde da família, a preceptora de campo e contamos ainda com o apoio de alguns agentes comunitários de saúde. RESULTADOS: Desde sua implantação, o grupo tem se mostrado um dispositivo potente na promoção de saúde mental, apresentando-se como um importante recurso na construção de planos de cuidado e projetos terapêuticos singulares. A oferta de um espaço acolhedor e facilitador de atividades expressivas têm promovido um fortalecimento da autonomia e do autocuidado destes usuários. Tal retorno é obtido pelos mesmos na avaliação das atividades que acontece ao final de cada momento. Este grupo ainda atua como um espaço de cuidado com os cuidadores, pois alguns profissionais da unidade participam das atividades no sentido de vivenciar um momento de cuidado de si. O grupo apresenta ainda uma dimensão formativa, pois além da formação dos próprios residentes em saúde da família, atua como um espaço de educação permanente em saúde para os profissionais da equipe mínima, e recebe também acadêmicos que procuram compreender como acontece o fazer da saúde mental e da atuação multiprofissional na atenção primária. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A experiência relatada se apresenta como uma estratégia promotora de saúde mental, com enfoque no papel fundamental da APS nos cuidados em saúde mental. Cabe ressaltar que esta experiência se fundamenta no paradigma do cuidado e da promoção da saúde, onde, mais do que buscar a “cura” das pessoas em sofrimento psíquico, objetiva-se fortalecer gradientes de autonomia, compreendendo-os como fatores de qualidade de vida. Por fim, enfatiza-se a importância do cuidado em saúde mental na APS, entendendo-o como critério fundamental para a efetivação de um modelo substitutivo alinhado com os princípios da reforma psiquiátrica brasileira.


Palavras-chave


Serviços em Saúde Mental; Saúde Mental; Atenção Primária à Saúde.