Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A figura da Antropologia Médica na Amazônia
Ana Letícia Santos Silva

Última alteração: 2018-01-25

Resumo


A Ciência Social é dividida em três grandes áreas: Sociologia, Antropologia e Ciências Políticas.  A antropologia enquanto área dessa ciência busca especificamente sobre o conceito cultural e comportamental simbólico do homem, como disse Lévi-Strauss. A antropologia Médica se desenvolveu a partir da Antropologia Cultural e social, estudando a forma como o individuo explica as causas dos problemas de saúde, os tipos de tratamento nos quais acreditam e a quem recorrem quando adoecem, a partir da sua base cultural. Também é o estudo de como essas crenças e práticas relacionam-se com as alterações biológicas, psicológicas e sociais no organismo humano, tanto na saúde quanto na doença. (Helman, 2009, o.c)

Foi na década de 70 que o conceito de saúde foi reformulado, considerando o homem e suas relações socioculturais, compreendendo assim, a medicina com um sistema cultural que se vale e se molda ao redor dos valores estabelecidos de acordo com o lugar em que é exercida.  Na Amazônia, esse ramo da antropologia mostrou-se presente nos levantamentos de pesquisa antropológica sobre os métodos indígenas de tratar seus males. Um povo que há séculos trata com os mesmos rituais e receitas “caseiras” que mostraram sua eficiência à medicina moderna.

A medicina indígena conforma uma série de enunciados acerca da saúde e da doença que se constituem a partir de elementos empíricos, naturais e místicos. Por fim, para encerrar a descrição do que é a Medicina Indígena, a OMS- Organização Mundial da Rede Unida recomenda que os estados nacionais integrem a sua política de saúde oficial às medicinas tradicionais indígenas, a fim de reorganizar aspectos socioculturais do cuidado com a mesma.

Foi olhando por essa perspectiva que o Antropólogo João Paulo Barreto, idealizou o projeto do primeiro Centro de Medicina Indígena do Brasil, localizado em Manaus. O pesquisador desenvolveu a ideia após um parente ter sido curado de uma picada de cobra com um tratamento que utilizou da ciência e das crenças milenares da etnia tukano, assim criando um centro de tratamento que reúne cuidados originados nas etnias Tikuna, Satere Mawé, Baniwa, Apurinã.

O objetivo da criação do Bahserikowi´i ou Centro de Medicina Indígena do Amazonas e da integração do conhecimento tradicional dos povos indígenas à saúde ocidental não é contrapor a indicação dos médicos tradicionais, mas sim agrega-los de forma que o tratamento de saúde embasado em tecnologias indígenas, passados de geração em geração, se torne uma opção para o paciente na cidade, assim como para o índio que reside em comunidades distantes da medicina “branca tradicional” aonde apresentam resultados positivos.

Resultando do olhar antropológico e do diálogo entre as Ciências Sociais e as Ciências Biológicas, a inauguração desse centro de tratamento é a materialização da presença da Antropologia Médica na Amazônia e tudo que ela representa para o desenvolvimento científico. Talvez seja possível, como apresentado pelos próprios idealizadores, ao agregar as duas formas de tratamento, encontrar a solução até para a depressão e a ansiedade, o que os médicos chamam de “Mal do século”.