Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Integração ensino-serviço: atuação do residente em saúde da família no Núcleo Telessaúde Bahia
Naiara Freitas Carvalho de Andrade, Mariana Costa Matos, Gladys Reis de Oliveira, Erica Lima Costa de Menezes, Elis Carla Costa Matos Silva, Adeilda Ananias de Lima, Karina Rodrigues Lelis

Última alteração: 2018-05-25

Resumo


Trata-se de um relato de experiência sobre a vivência da autora no Núcleo Telessaúde Bahia enquanto residente do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família FESF-SUS – FIOCRUZ.

Os Núcleos de Telessaúde foram implantados com o objetivo de promover a qualificação em serviço e aumentar a resolubilidade da atenção primária à saúde prestada à população. A integração ensino – serviço, no âmbito da Residência Multiprofissional em Saúde da Família se dá a partir do trabalho articulado entre os profissionais residentes em formação e as equipes dos serviços de saúde onde estes desenvolvem suas práticas.

Durante o período de estágio foram desenvolvidas diversas atividades, como: (1) resposta à teleconsultorias; (2) auditoria das teleconsultorias avaliadas como insatisfatórias ou indiferentes e/ou que não atenderam ou atenderam parcialmente a dúvida principal do solicitante; (3) revisão de teleconsultorias avaliadas com potencial para Segunda Opinião Formativa (SOF); (4) apoio a equipe na construção de um sistema próprio de classificação das teleconsultorias solicitadas e, (5) desenvolvimento de protocolo e ficha de auditoria das teleconsultorias. Dentre as cinco atividades elencadas, foram selecionadas três para melhor análise dada relevância da experiência.

A auditoria das teleconsultorias foi desenvolvida com o objetivo de qualificar as respostas desenvolvidas pelos teleconsultores e, consequentemente, melhorar a experiência dos profissionais no uso da ferramenta. Foram analisadas 47 teleconsultorias classificadas em sua avaliação como insatisfatórias ou indiferentes e/ou que não atenderam ou atenderam parcialmente a dúvida principal pelos solicitantes, no período de janeiro à 08 de agosto do ano de 2017. Os solicitantes foram contatados, preferencialmente, via telefone e havendo impossibilidade ou tentativas sem sucesso nesta via, foram contatados via e-mail.

Os temas que mais geraram avaliações insatisfatórias foram: orientação quanto a condutas para pacientes específicos (13), sistemas PEC/CDS (10); quantidade de atendimentos/procedimentos mínimos que devem ser realizados por profissionais da  por turno (4), sistema de classificação CIAP, PMAQ e material para atividade educativa (3 ).

Foi possível perceber que grande parte dos solicitantes desejam respostas mais objetivas e fórmulas prontas para suas solicitações, mesmo quando é sinalizada na resposta do teleconsultor que essa resposta não existe de forma oficial ou então que faltam estudos que a confirmem.

Nas solicitações que tratam de condutas para pacientes específicos, vemos que muitas vezes a pergunta, como está formulada, não traz elementos suficientes para que o teleconsultor indique de maneira responsável e segura o melhor caminho a seguir, trazendo de maneira geral qual seria a conduta, o que desagrada o solicitante. Com relação às solicitações referentes ao manejo do sistema Prontuário Eletrônicos do Cidadão/Coleta de Dados Simplificadas (PEC/CDS) percebemos na maioria das vezes que por se tratar de um sistema novo e desconhecido pelos profissionais, as respostas não conseguem sanar as dúvidas apresentadas.

Percebe-se que as solicitações por quantidade de atendimentos/procedimentos mínimos exigidos por profissional em um turno de trabalho são constantes. Porém por não existir legislação específica, a orientação do teleconsultor sempre é de que esta quantidade deve ser pactuada entre equipe e gestão municipal, o que não torna a resposta satisfatória para o solicitante, uma vez que o mesmo desejaria receber um número exato.

Nas questões relativas à Classificação Internacional da Atenção Primária (CIAP) no sistema PEC, muitos solicitantes afirmam não concordar com o código fornecido pelo teleconsultor, ou ficam insatisfeitos quando não é fornecido o código exato para o que se pergunta, mesmo que nesta classificação este código não exista. Outro tema que gera muita dúvida dos profissionais é o Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ), em decorrência da proximidade da avaliação externa.

Quando o solicitante não concorda com a forma ou critério de avaliação apontada pelo teleconsultor, a avaliação, muitas vezes, é insatisfatória. Somente um solicitante apontou que a avaliação da resposta foi insatisfatória, pois havia divergência do informado pelo teleconsultor, com o que está escrito em manuais do Ministério da Saúde.

Nas solicitações de material educativo, percebemos avaliações insatisfeitas quando o solicitante não informa que tipo de atividade será realizado e a qual público-alvo ela se destina. Alguns solicitantes informaram que realizaram a avaliação de forma errada, marcando o campo de insatisfatória, quando na realidade a resposta foi satisfatória e atendeu a sua dúvida, porém não há forma de realizar esta correção.

Apenas em alguns poucos casos percebe-se um não entendimento da solicitação pelo teleconsultor, mesmo quando o objeto da dúvida está descrito. Por isso, acredito que o contato telefônico ou via e-mail com o solicitante, em caso de dúvidas ou dificuldades em elaborar a resposta, é imprescindível para gerar uma teleconsultoria satisfatória para ambos.

De maneira geral, os solicitantes contatados afirmam ter tido experiências exitosas com o uso do Telessaúde, que as respostas têm ajudado na sua prática cotidiana na atenção básica e, que pretendem continuar utilizando os serviços prestados.

Outra atividade, que merece destaque, foi o apoio dado à equipe na construção de um sistema próprio de classificação das teleconsultorias solicitadas. Antes de enviar a solicitação ao Teleconsultor, o Telerregulador tem a tarefa de classificá-la junto ao banco de dados do Núcleo de Telessaúde, para fins de monitoramento, pesquisa, prestação de contas aos órgãos financiadores, e, também, para facilitar a recuperação de teleconsultorias já respondidas. Atualmente o núcleo de Telessaúde da Bahia utiliza a Classificação Internacional de Atenção Primária (CIAP), para realizar a classificação das teleconsultorias solicitadas.

Foi iniciado um trabalho de construção de um novo sistema de classificação, por meio da análise de conteúdo das teleconsultorias já realizadas. O sistema de classificação proposto encontra-se mais próximo da realidade do Núcleo Telessaúde Bahia, assim como mais alinhado ao perfil de solicitações que por ele são recebidas.

Espera-se, com a implantação do sistema de classificação, através da plataforma do Telessaúde Bahia, contribuir para o ordenamento de ofertas do serviço de Telessaúde do Núcleo de Telessaúde Bahia, como web palestras, mais voltadas para as demandas e necessidades destes profissionais, proporcionando uma experiência proveitosa e significativa com o uso desta ferramenta.

Por fim, no período de encerramento do estágio foi revisado o protocolo e ficha de auditoria das teleconsultorias. A auditoria tem por função manter um padrão de qualidade e de uniformidade nas respostas produzidas para as teleconsultorias, bem como verificar se o Protocolo de Resposta está sendo cumprido pelo Teleconsultor. Além disso, serve como referência para novos Teleconsultores que forem agregados à equipe, e aponta para necessidades de qualificação da equipe de telessaúde que possam ser sanadas individualmente ou em grupo.

As atividades descritas proporcionaram à autora a aquisição de habilidades em educação permanente em saúde e educação à distância, além do contato com diversas ferramentas de tecnologia da informação que podem ser utilizadas nestas atividades, como web conferências, web palestras, mini cursos à distância, teleconsultorias, telerregulação, entre outros. O relato das vivências e o processo de observação e críticas foram registrados em um portfólio.

A prática no Núcleo Telessaúde Bahia demonstrou como esta ferramenta é potente na resolução das demandas dos profissionais da Atenção Básica, aumentando a capacidade clínica das equipes e qualificando o acesso a serviços especializados ou evitando encaminhamentos desnecessários. Diante do exposto, apreende-se que a integração ensino-serviço pode fortalecer e apoiar ainda mais a expansão dos cenários de prática onde os residentes desenvolvem suas atividades, além de representar uma importante estratégia para a qualificação do processo de formação profissional no âmbito do SUS.


Palavras-chave


Telessaúde; Residência; Ensino-Aprendizagem; Ensino-Serviço; Atenção Primária