Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A Educação Popular, Práticas Integrativas Complementares em Saúde e Controle Social, na perspectiva da mudança de comportamento e atitudes, diante das doenças e inquietações das comunidades da Cidade de Campo do Brito-Sergipe.
MARIA BETÂNIA BULHÕES

Última alteração: 2018-01-15

Resumo


Introdução:

A educação popular em saúde como potência de empoderar, bem como promover o protagonismo, sugere e oferece um leque de iniciativas no sentido de mobilização e conscientização dos cuidados e direitos legais de forma leve, simples viável e perfeitamente assimilável pelo usuário do SUS, fazendo uso da palavra informal entendendo e respeitando a cultura local. Partindo dessa premissa, se faz necessário a promoção de diálogos em rodas de conversa onde a troca dos saberes acadêmicos e populares possam criar vínculos entre os profissionais de saúde de todas as categorias, com a comunidade através da escuta e das rodas de diálogos que são ferramentas potencializadoras dessa relação, e se fazem a partir da criatividade de saber conduzir, saber facilitar esse processo de construção de um sistema de saúde resolutivo saber provocar. Introduzir as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde é uma forma de estreitar esses laços e ofertar mais qualidade de atendimento de forma holística e transformadora. O Controle Social executado na formatação de trocas de experiências dentro da comunidade, de forma leve, com a metodologia simples da educação popular, onde a fala de cada um à sua maneira, se completa e contempla os objetivos através da problematização e da busca de soluções possíveis e também criativas.

Descrição da Experiência:

Em 2015, a primeira oficina de Controle Social, se deu de forma inusitada e nem mesmo a equipe sabia de fato o que era esse fazer e como começar a roda. O primeiro passo foi usar uma mística de acolhimento para deixar o ambiente leve, e o tema da roda foi sobre o protagonismo e a linguagem foi direta, trocamos a palavra “protagonismo” pela palavra, “ator principal da história”, e assim se deu início a busca da memória, cultura e história local e as inquietações de cada ator da roda. Usamos o formato da Tenda do Conto, onde montamos uma mesa com vários objetos levados por eles e desses objetos saiam histórias e desejos, lágrimas e esperanças de melhorias na saúde e na qualidade de vida que almejavam. Após a roda fizemos grupos de trabalho, misturamos os atores e de cada fala na Tenda do Conto, saíram propostas com várias expressões. Ainda nos grupos, foram utilizadas dinâmicas de grupo com os facilitadores para que os vínculos ficassem mais estreitos. As propostas foram feitas, lidas, debatidas, votadas e encaminhadas ao Conselho Municipal de Saúde através de um relatório. O relatório falava da necessidade de um trabalho de prevenção em saúde mais efetivo, falavam da falta de remédios e queriam mais médicos na região, da falta de atenção dos governantes, pediam atenção às mulheres nas casas de farinhas que não tinham tempo de sair dos locais de trabalho. O relatório não teve resposta e as perguntas da comunidade eram frequentes sobre a solução e não tínhamos essas respostas. Dessa negativa da gestão em acatar os pedidos, buscar soluções ou dialogar, nasceu a iniciativa da Terapia Comunitária no sentido de tentar minimizar as angústias, onde as rodas se tornaram frequentes e à medida que se davam esses encontros, tínhamos depoimentos de melhoras de várias patologias, dentre elas as mais comuns que eram a depressão e a Hipertensão. Resolvemos ir as casas de farinhas e lá fazíamos trabalhos preventivos e agendamentos e ao mesmo tempo fazíamos o momento do abraço e esses gestos simples começaram a modificar o olhar para saúde dando um novo significado na vida de cada um. Eles já não perguntavam mais sobre os pedidos á gestão e resolvemos agregar mais outras ações até então desconhecidas da comunidade, como Dança Circular, Biodanza, pesquisamos sobre o efeito de cada uma na proposta de cura, relaxamento e implantamos mais essa prática que se dava sempre no hiperdia e ao mesmo tempo que fazíamos essas ações, também usávamos os sucos e chás medicinais, falávamos sobre espiritualidade em saúde, sobre cidadania de fato e de direito e assim construímos um alicerce. Todas as ações provocavam a necessidade de exteriorização das emoções de cada um, percebíamos que tudo era essencial, que era o “pulo do gato”, dessa forma, conseguimos desmamar cinco pessoas do grupo que usavam psicotrópicos e diminuição de remédios de pressão arterial dando lugar ao trabalho de mente e corpo são, com ações de consciência corporal, consciência cidadã, mudança de alimentação, mais escuta, mais troca nas rodas de conversas, da dança, exercícios de respiração, arte e música. Essas ações sessaram na época e nossos planos foram abortados por questões políticas, onde profissionais foram transferidos ou demitidos, quebrando elos e os que ficaram, sentiram-se desmotivados a continuar e foi assim até o fim do mandato do gestor. As pessoas ficaram tristes pelo fato mas compreenderam tanto que quando receberam visitas dos políticos em suas portas, exerceram o que exercitamos antes que foram os direitos de serem felizes e esse movimento surtiu efeito pois lutaram de maneira pacífica e porque não dizer, poética e as ferramentas foram a amorosidade , o diálogo e a suavidade de persuadir através das rodas de reivindicações com músicas sugestivas  e dança local para atrair e sensibilizar os políticos.

Em 2017, com uma gestão aberta a diálogos e a novos projetos, implantamos definitivamente as Práticas Integrativas e Complementares e Populares em Saúde aprovada com unanimidade pelo novo Conselho Municipal de Saúde, bem como um calendário de oficinas de Controle Social com a formatação da educação popular, considerando que através dessa lógica, a saúde seja efetiva e resolutiva. A atenção Básica oferece hoje, a Auriculoterapia que atende a uma grande demanda, e com lista de espera, bem como Reiki e Massoterapia. Retornamos as terapias comunitárias, danças circulares e biodanza. Outros municípios vizinhos sabendo dos resultados buscam informações e nos procuram, uma educadora e terapeuta holística leva a nossa experiência exitosa para apreciação das gestões desses municípios. Essa conexão intermunicipal gera nos usuários uma satisfação de serem os protagonistas, donos da suas próprias histórias, culturas e memórias e de serem vistos como vitoriosos nesse processo de construção de um SUS sustentável e possível.

Resultados alcançados:

A partir das rodas de conversa com ênfase na escuta e no cuidado, percebemos que as pessoas sentem mais confiança nos profissionais de saúde que também estão com outra visão do fazer criativo e resolutivo e repassando esses fazeres e saberes com a as ações transformadoras e potencializadoras da educação popular agregando as Práticas Integrativas  nas vivências diárias em saúde, consideramos ainda que, a saúde se faz com diálogo, com arte, respeito as culturas e as memórias de cada território, escuta e cuidados simples através da fala simplificada nas rodas de conversas. Na prática a educação popular dentro do Controle Social fazem um casamento perfeito para as soluções em saúde. Outra percepção interessante foram as mudanças de atitudes que sentimos nos encontros seguintes e as falas já não estão mais presas nas gargantas, a comunidade está empoderada, já se reúnem e discutem com a equipe o que sentem e querem, resgataram a autoestima e a confiança e estão se auto cuidando procurando alternativas de cura através das Práticas Integrativas Complementares em Saúde.

 


Palavras-chave


Controle Social,Educação Popular, Práticas Integrativas