Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Grupos de Tabagismo na Estratégia Saúde da Família: uma experiência exitosa e desafiante em Fortaleza-CE.
Luiza de Paula Sousa, Marina dos Santos Garruti de Medeiros, Aline Luiza de Paulo Evangelista, Ana Amélia Lima Pequeno, Lorena Andrade Gomes Gadelha, Ana Geyse Gomes da Silva, Maria Clarice Tavares Evangelista, Ivamara Morais Silva

Última alteração: 2018-01-15

Resumo


Apresentação: O “Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis no Brasil, 2011-2022”, lançado pelo Ministério da Saúde em 2011, objetiva enfrentar e deter o crescimento das doenças crônicas não transmissíveis, abordando as quatro principais, a saber: doenças circulatórias, respiratórias crônicas, diabetes e o câncer, bem como os seus fatores de risco em comum: tabagismo, álcool, inatividade física, excesso de peso e alimentação não saudável. Dessa forma, o plano visa à redução da morbimortalidade decorrente destas doenças, através de ações de promoção de saúde e prevenção, aliadas à detecção precoce, ao tratamento adequado e à reorganização dos serviços de saúde, prioritariamente, com o fortalecimento da Atenção Básica. O tabagismo se apresenta como um fator de risco das referidas doenças e, além de causar prejuízos à qualidade de vida da população, é fator de incapacidade precoce, onerando os sistemas públicos de saúde e a previdência social. Estimativas da Organização Mundial da Saúde sugerem que as despesas com saúde e perda de produtividade em decorrência das doenças do tabaco superam US$ 1 trilhão para os cofres públicos no mundo todo, ou seja, trata-se de uma problemática de saúde mundial. Desde 2004, o Ministério da Saúde desenvolve um programa denominado Programa Nacional de Controle do Tabagismo, preconizando que qualquer equipamento do Sistema Único de Saúde, ambulatorial ou hospitalar, pode estar habilitado a executar ações voltadas para a abordagem aos usuários de tabaco, através da capacitação profissional e do cadastro no referido programa, oferecendo meios para a cessação deste hábito. O manual do participante “Deixando de fumar sem mistérios” é o material de apoio utilizado durante as sessões de abordagem cognitivo-comportamental, no tratamento individual ou em grupo, fornecendo informações e estratégias necessárias para apoiar o indivíduo, bem como a prevenção de recaídas. A anamnese com a detecção do grau de dependência e os exames complementares se fazem necessários, além do encaminhamento, aos serviços de referências, de pacientes com comprometimento psicossocial e/ou com comorbidades. O programa conta, ainda, com o apoio farmacológico de medicamentos do componente estratégico da Assistência Farmacêutica. No município de Fortaleza-CE, a implementação de Grupos de Tabagismo, mais especificamente nas Unidades de Atenção Primária à Saúde (UAPS) da Coordenadoria Regional de Saúde 2 (CORES 2), iniciou em outubro de 2013, estando em fase de expansão para a melhoria da assistência à saúde dos tabagistas, além da realização de ações de prevenção ao tabagismo. Diante do exposto, o presente trabalho objetiva descrever a implementação dos Grupos de Tabagismo nas UAPS da CORES 2 do município de Fortaleza-CE. Desenvolvimento:Trata-se de um relato de experiência sobre a implementação dos Grupos de Tabagismo nas UAPS da CORES 2 em Fortaleza-CE. O período da experiência descrita é de outubro de 2013 a outubro de 2017. Os grupos são realizados em 12 encontros semanais, iniciando com a aplicação do Teste de Fargeströn (instrumento que identifica o grau de dependência do indivíduo), sendo este, aplicado nas áreas de abrangência, pelos agentes comunitários de saúde, e nas próprias UAPS, pelos demais profissionais. Os encontros se caracterizam pela adoção das rodas de conversa, oficinas e resgates de experiência, questionamentos e anseios dos participantes, mediante apoio e acompanhamento de, pelo menos, dois profissionais de saúde, que abordam vários temas relativos à cessação do tabagismo, tais como nutrição, saúde bucal, comprometimento cardiorrespiratório, autoestima, qualidade de vida, prevenção de recaídas e como lidar com o estresse. As ações acontecem valorizando os benefícios (individuais e coletivos) de parar de fumar, mas respeitando a particularidade de cada usuário, tendo em vista a autonomia dos mesmos dentro desse processo. Um ponto importante desta abordagem é o fato de cada usuário definir a data para abandonar o uso do tabaco. Os usuários são acompanhados por várias categorias profissionais, sendo necessária a presença do profissional de Medicina, pela necessidade de avaliação e prescrição medicamentosa, a depender do caso, haja vista que segundo o Ministério da Saúde, 75% dos usuários que procuram a unidade de saúde para pararem de fumar, necessitam de apoio medicamentoso. Os medicamentos disponibilizados são: adesivo transdérmico de nicotina (21,14 e 7 mg), goma de mascar de nicotina (2 mg), pastilha de nicotina (4 mg) e cloridrato de bupropiona (150 mg). Os usuários que já cessaram o hábito de fumar passam a ser acompanhados mensalmente, trimestralmente, semestralmente, e somente recebem a alta definitiva do acompanhamento um ano após a cessação completa. Estes usuários, frequentemente, são convidados a darem seus depoimentos para os que ainda enfrentam tal desafio. Além disso, os grupos já em funcionamento servem de referência para os profissionais das demais unidades em fase de implementação, onde estes podem participar como observadores da dinâmica aplicada, norteando as ações dos grupos a serem implantados nas demais unidades de saúde. Resultados: Desde outubro de 2013, foram capacitados cerca de 80 profissionais, entre médicos, enfermeiros, dentistas, farmacêuticos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, psicólogos, assistentes sociais, técnicos de saúde bucal e agentes comunitários de saúde, integrantes da Estratégia Saúde da Família, Núcleos de Apoio à Saúde da Família, Residências Integradas em Saúde e Residência de Medicina de Família e Comunidade. De 2013 a 2016 foi possível a implantação de grupos de tabagismo em duas das 12 UAPS, permanecendo em funcionamento apenas um deles. A partir de julho 2017, após a intensificação e o fomento à capacitação, bem como uma intensa sensibilização junto aos profissionais, conseguiu-se a implantação de Grupos de Tabagismo em mais três UAPS, estando duas unidades em fase final de implantação, visando alcançar até o final de 2017, 50% das UAPS. Considerando o período relatado de quatro anos, 154 pacientes ingressaram no programa de abordagem e tratamento ao usuário de tabaco na CORES 2. De acordo com os registros da área técnica responsável, cerca de 40% conseguiram a cessação completa do hábito de fumar, enquanto 30% conseguiram reduzir o uso de cigarro de um a dois maços/dia para 3 a 4 unidades/dia, o que demonstra uma acentuada redução dos danos causados pela nicotina. Infelizmente, as subjetividades implicadas nas razões de cada indivíduo, mostram que 30% destes pacientes não lograram êxito na cessação do tabagismo, sendo que a literatura aponta índices de cessação entre 30% e 60%. Em uma unidade de saúde, que oferece o tratamento desde 2013, a dinâmica foi diferenciada, onde o grupo permanece aberto ao ingresso de novos usuários, de maneira que o acesso a esse serviço acontece de forma ininterrupta. Considerações finais: A implementação dos Grupos de Tabagismo nas UAPS da CORES 2 demonstra com êxito a possibilidade de redução dos malefícios individuais e coletivos gerados pelo tabagismo. Vale salientar que o frágil vínculo de trabalho e a rotatividade dos profissionais de saúde geram descontinuidade nas ações programadas, ampliando o desafio no trabalho em saúde no âmbito da promoção. A atuação de equipes multiprofissionais, com fortes vínculos empregatícios, com intervenções e estratégias direcionadas às necessidades de saúde da população, desestimulando o tabagismo, aliadas ao estímulo à alimentação saudável e à atividade física, certamente será eficaz no intuito de efetivar a promoção de saúde dentro do contexto da Atenção Primária à Saúde, como bem demonstra o trabalho aqui apresentado.


Palavras-chave


Tabagismo; Promoção de Saúde;Atenção Primária