Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
COMPORTAMENTO GOVERNADO POR REGRAS NO CONTEXTO HOSPITALAR: UM ESTUDO DE CASO
Anchielle Crislane Henrique Silva, Jarbas Reis Da Paz, Lídia Teixeira Machado, Betânia Cardênia De Souza, Jaciany Mota

Última alteração: 2017-11-18

Resumo


 

Pessoas interagem em distintos contextos conforme suas vivencias e regras vigentes em todos os momentos. Existe duas maneiras dos seres humanos aprenderem a se comportar. Uma delas é realizando ações sob as situações e sofrendo suas consequências, chamado de comportamento modelado por contingências. E a outra maneira de aprender, é através de instruções emitidas por outras pessoas (falante), ao qual nomeia-se de comportamento governado por regras.

As instruções aumentam a probabilidade das pessoas aprenderem de forma mais rápida e eficaz a se comportarem em contextos específicos. Vale ressaltar que regras ou instruções são descrições de relações entre eventos (e.g. situações) que influenciam/alteram as ações de um ouvinte (quem pode ou não seguir a regra). São exemplos de regras: orientações, ordens, avisos, leis, pedidos, mandos, receitas, prescrições medicas, instruções, entre outras.

O hospital, é um dos contextos ao qual ocorre várias situações em que é necessário estabelecer regras entre ouvinte e falante. As regras têm características múltiplas e não a garantias que uma pessoa vá seguir conforme a instrução pronunciada. Além disso, saber quais as contingências favorecem o comportamento de seguir uma regra é essencial para a interação entre profissionais, paciente-profissional, paciente-paciente, paciente-família. Ditar regras nesse contexto é de grande valia, pois, poderá proporcionar maior probabilidade de eficácia para as interações dos envolvidos no ambiente hospital. Com isso, o presente trabalho tem o intuito de descrever a funcionalidade do estabelecimento de regras para diminuir o comportamento inadequado de um paciente no contexto hospitalar.

O presente trabalho trata-se de um estudo do caso acompanhado no ambiente hospitalar, por terapia breve e de apoio. Em que usou-se de procedimentos psicológicos: escuta terapêutica, estabelecimento de regras, psicoeduação e momento lúdico. E como materiais estratégicos para auxilio dos atendimentos: figuras de expressões de emoções, desenho com níveis de emoções. Foram realizados 5 atendimentos, sendo um por semana.

Paciente do sexo masculino, com idade de 12 anos encaminhado pela equipe médica, por apresentar gritos constantes, mesmo medicado e com hipótese de uma reação incongruente em relação a própria dor física.

No primeiro contato foi realizado uma escuta terapêutica com a acompanhante (avó), pois, o paciente se encontrava dormindo sob efeito do medicamento. Por sua vez, buscou-se obter informações através de sua acompanhante, sendo: Severino (nome fictício) admitido no hospital devido sofrer atropelamento em que lesionou o membro inferior esquerdo com possibilidade de amputação. Sua mãe morreu no momento de seu parto e seu pai é desconhecido. Mora com sua avó, irmãos/ãs (filhos de outro pai) e com os tios. A solicitação de atendimento psicológico foi demandada pelo fato do paciente apresentar gritos muito altos clamando pela enfermeira, se debatendo na maca, incomodando toda a clínica pediátrica. Com isso, foi levantada a hipótese de que o paciente se comportava de tal modo por sentir dor ao lembrar ou ter sensações que levem-no a recordar do momento do acidente.

No segundo atendimento, usou-se figuras de expressões de emoções para incentivar as conversas sobre os sentimentos e emoções do paciente relacionados ao comportamento problema (gritar). O paciente apenas respondeu os nomes das emoções expressas e não aos questionamentos relacionados a emoção, justificando está sentindo dores e iniciando gritos clamando pela enfermeira e pelo maqueiro. Analisando a situação, ditou-se uma regra que descrevia eventos reforçadores para o paciente, que foi: “caso você fique sem realizar gritos por alguns instantes, irei conversar com a enfermeira e o maqueiro (reforçadores) para te levar ao local onde será feito os procedimentos que você tanto deseja, certo? ” O paciente respondeu “sim”, e apesar de relatar sentir dor, o mesmo parou de gritar. Então, o estagiário retirou-se da enfermaria e ficou durante 5 minutos no corredor conversando com a enfermeira sobre o caso e atentando se iria ocorrer o descumprimento da regra. Antes da chegada do maqueiro, aproveitando o momento do comportamento de seguir regra do paciente, realizou-se a psicoeducação. Procurou-se descrever as condições desfavoráveis do comportamento de gritar: “Sabemos que você está sentindo dor, mas não é necessário gritar a todo momento, pois se continuar assim, os profissionais não irão saber o momento certo de vir até você e a intensidade da sua dor, entendeu?”. “Quando sentir dor e quiser chamar a enfermeira, apenas peça para a sua acompanhante chama-la e descreva o que você está sentindo, certo? Fazendo isso terá maior probabilidade da enfermeira vir até você”.

Para o terceiro atendimento, utilizou-se de desenhos com níveis de expressões de emoções em conjunto com a figura de um termômetro. Com isso, era perguntado como ele  sentiu-se durante os dias da semana, qual a intensidade da emoções que sentiu. Em meio a isso, foi perguntado ao paciente o que faz ele se acalmar, o mesmo descreve que a presença da enfermeira, pois ela faz passar a dor (aplica os medicamentos), além disso, essa profissional dedicava parte do tempo para assistir desenhos com o paciente e brincar. Neste encontro o paciente encontrava-se tranquilo, porém nos dias anteriores ainda realizou comportamentos apontado pela equipe e outros pacientes como inadequados.

O quarto atendimento, teve o intuito de coletar informações sobre os gostos do paciente. Para isso, foi realizado momento lúdico utilizando-se de desenhos para estimular o paciente a falar sobre os seus gostos. Após isso, estabeleceu-se nova regra para o paciente, descrevendo consequências reforçadora e punitiva: “Olha, tenho uma proposta para você! Se você não gritar durante essa semana, irei te recompensar com algumas das coisas que você disse tanto gostar, certo? Mas, caso não o faça isso, não receberá a recompensa, combinado? Enquanto isso, sua acompanhante e a enfermeira estarão te observando e irá dizer se você ganhará ou não, a recompensa”.

No quinto atendimento, realizou uma escuta de verificação dos comportamentos inadequados no paciente durante a semana e momento lúdico. Conforme a acompanhante, enfermeira e o paciente, descreveram ter extinguido o comportado de gritar a todo momento, com isso, foram discutidas com o paciente as vantagens de tal comportamento apesar de sentir dor. Após a confirmação de “bom comportamento” foi entregue a recompensa seguida de elogios e no momento lúdico, o paciente realizou um desenho ao qual entregou para o estagiário, o que afirma o bom vínculo criado entre ambos.

Além disso, fora conversado sobre o processo de amputação da perna esquerda, o paciente e acompanhante apresentavam-se cientes do procedimento, mostrando boas expectativas futuras expondo-se naquele momento tranquilidade. O paciente passou pelo procedimento cirúrgico, obtendo alta hospitalar antes do próximo atendimento, impossibilitando o acampamento pós cirúrgico.

O presente trabalho teve o intuito de descrever a funcionalidade do estabelecimento de regras para diminuir o comportamento inadequado de um paciente no contexto hospitalar. Percebeu-se que a intervenção baseada no estabelecimento de regras foi eficiente, na medida em que descreveu quais consequências poderiam correr. Vale ressalta, que todo o conjunto de procedimentos e materiais utilizados contribuíram para a intervenção, pois foram pertinentes para a busca de informações que fizeram compreender o comportamento problema e a elaboração de uma intervenção efetiva.


Palavras-chave


Comportamento; Atendimento Psicológico; Âmbito Hospitalar