Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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O PORTADOR DE TRANSTORNO MENTAL: DIFICULDADES E PERSPECTIVAS ACERCA DO CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL – CAPS
Brenda dos Santos Coutinho, Andreza Dantas Ribeiro, Isabela Maria da Costa Buchalle, Renan Fróis Santana, Thais Chrystinna Guimarães Lima, Érika Marcilla Sousa de Couto

Última alteração: 2017-11-23

Resumo


Apresentação: Os direitos humanos obtiveram destaque com a ditadura militar, e a experiência bem sucedida dos países europeus na substituição do modelo hospitalocêntrico por um baseado em serviços comunitários fez com que a atual política de saúde mental brasileira fosse possível, mediante a mobilização de usuários, familiares e trabalhadores da saúde, no início da década de 1980. Dentro desse eixo, os CAPS assumem papel estratégico na articulação da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), sendo definido como um lugar de referência e tratamento para pessoas que sofrem com transtornos mentais, psicoses, e outros quadros, cuja permanência é justificada pela severidade e/ou persistência. Diante do exposto, buscou-se estabelecer uma aproximação dos discentes do curso de graduação de Enfermagem, da Universidade do Estado do Pará (UEPA), campus XII, com os usuários de um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), no município de Santarém/PA, a fim de compreender as dificuldades enfrentadas pelo portador de transtorno mental no seu cotidiano, bem como sua percepção sobre os serviços oferecidos pelo respectivo CAPS. Desenvolvimento do trabalho: Estudo de caráter descritivo, qualitativo, do tipo relato de experiência, desenvolvido durante a experiência acadêmica realizada em um CAPS, no município de Santarém/PA, no mês de maio de 2016, durante a oferta da disciplina de Saúde Mental, no quinto período do curso de enfermagem da Universidade do Estado do Pará (UEPA). Por meio da vivência e do diálogo estabelecido com os usuários foi possível compreender as dificuldades enfrentadas pelo portador de transtorno mental no seu cotidiano, sua percepção referente aos serviços oferecidos e como estes os auxiliam no seu cuidado. Resultados: As unidades retiradas a partir das vivências e do diálogo com os usuários do respectivo Centro de Atenção Psicossocial – CAPS II puderam ser divididas de três formas: 1. O portador de transtorno mental e as dificuldades enfrentadas; 2. Os desafios dos Centros de Atenção Psicossocial e 3. As potencialidades dos Centros de Atenção Psicossocial. Diante disso, o primeiro tópico foi construído a partir da identificação no discurso dos portadores de transtorno mental, das dificuldades vivenciadas por estes no seu contexto familiar e social, algumas diretamente relacionadas ao próprio transtorno mental, dado que as alterações dos processos afetivos, cognitivos, do desenvolvimento intelectual e social causam danos aos pacientes, assim como para sua família. Dessa forma, alguns usuários relataram que a tristeza, em especial o desejo de isolamento e fobia social bloqueiam seu convívio, participação social, bem como o seu desejo de frequentar os serviços ofertados pelo CAPS. Outro obstáculo relatado pelos pacientes diz respeito à mudança de personalidade, sobretudo onde permeiam a indiferença e irritabilidade, características relatadas pelos usuários como irreprimível e inexplicável, que atua como objeção para a coabitação com os familiares. À vista disso, é notório que a família é afetada quando um de seus membros encontra-se em sofrimento psíquico e, ao considerar esse meio social como protagonista do cuidado, este sofre com as demandas, como as dificuldades de lidar com as situações de crise, com a culpa, pessimismo, pelas complexidades do relacionamento com esse familiar e, dentre outros quadros. Outra problemática referida pelos portadores de transtorno mental é o estigma que parte da sociedade e da própria família, bem como a expressão de “mente fraca”, ou que está “sofrendo porque quer”. De forma velada, foi observado que os próprios usuários guardam estigma da sua condição. Observa-se que se faz necessário superar o estigma da população, dos trabalhadores da saúde, da família e dos próprios usuários, uma vez que dificulta a busca pelo tratamento e a compreensão da doença, o que afeta diretamente a reabilitação psicossocial do indivíduo. Já a segunda unidade retrata as deficiências visualizadas pelos usuários nos serviços ofertados pelo CAPS, apesar de todos terem referido que os serviços contribuem de forma significativa para a sua reabilitação, foram discutidos dois eixos principais: o primeiro destaca a falta de atenção dos profissionais de saúde em decorrência da não frequência dos usuários, ou seja, a não procura pelos profissionais, dos motivos que levaram o individuo em sofrimento psíquico a não comparecer as atividades. Dentro dessa perspectiva, ressalta-se que deveria haver articulação entre saúde mental e atenção básica, o que amplificaria o potencial do CAPS como gerenciadores de novos modos de cuidado e estenderia a outros espaços a responsabilização pelo cuidado integral às pessoas em sofrimento psíquico. Outro aspecto citado foi à sobrecarga dos profissionais com inúmeros pacientes, o que dificulta a humanização. Entretanto, um ponto implícito visualizado nos pacientes diz respeito à atribuição do CAPS como uma “família”, desse modo, se não for dada a devida atenção, o risco de repetir nesses ambientes antigas práticas, criando um manicômio sem muros torna-se real, considerando que a reabilitação psicossocial consiste em restituir o pleno exercício da cidadania ao portador de um transtorno psíquico, com a presença do cenário da casa, trabalho e rede social. No que diz respeito à última unidade, esta traz as potencialidades dos CAPS, na visão de seus usuários. Em vista disso, os pacientes alegaram que o CAPS contribui de forma significativa para a melhora do seu quadro, destacado por estes o acompanhamento realizado pelos profissionais especializados, o tratamento medicamentoso, em especial as terapias e atividades realizadas em grupos, que permite a interação com outros usuários. A socialização e interação com outros portadores de transtorno mental também são aludidos como um momento de relaxamento e descontração pelos usuários, além de assumir uma ocasião para visualização de que não é somente um indivíduo que se encontra em sofrimento psíquico, ao contrário é um problema compartilhado por muitas pessoas e, que estas estão superando-os. As pessoas que estão com um grau elevado de sofrimento psíquico, muitas vezes, deixam de fazer atividades que lhes dão prazer. O fato de o indivíduo ser portador de um transtorno mental não é sinônimo de invalidez e isolamento, por isso o lazer e inserção na sociedade devem ser sempre estimulados, visto que atividades prazerosas melhoram a autoestima e contribuem para o bem-estar e eficácia do tratamento. O fato de o usuário estar em tratamento no CAPS não significa que ele tenha que ficar a maior parte do tempo no CAPS, ao contrario a reabilitação psicossocial pode ser articulado pelo CAPS, no seu inicio, entretanto o objetivo primordial é a reinserção social do individuo na comunidade, no trabalho e na vida social. Considerações Finais: Esta experiência contribuiu para o crescimento humano, intelectual e profissional dos acadêmicos envolvidos, pois foi estimulado o ver e tratar o paciente com particularidade, sendo este um indivíduo, e como parte de uma sociedade, de um coletivo, atentando para suas dificuldades, perspectivas e realidade de vida não apenas no CAPS, mas no meio em que se vive. Diante do cenário e do que foi vivenciado, destaca-se a importância das atividades realizadas no CAPS para o portador de transtorno mental, assim como os benefícios gerados, o que por vezes reflete a dependência e ligação afetiva destes ao centro. Devem-se considerar também as dificuldades e fragilidades relatadas pelos pacientes, dentro e fora do CAPS e refletir sobre possíveis soluções, facilitando, apoiando e orientando os usuários e seus familiares a serem protagonistas das mudanças necessárias.

 


Palavras-chave


serviços de saúde mental; transtornos mentais; sistemas de apoio psicossocial.