Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
VIVENCIAS NA FACILITAÇÃO; CONQUISTAS E DESAFIOS NA CONSTRUÇÃO DOS PORTFÓLIOS REFLEXIVOS
DEBORA DAIANA LOPES FERREIRA

Última alteração: 2017-12-05

Resumo


Este trabalho consiste na descrição da vivência educacional como facilitadora no curso Gestão de Emergências em Saúde Pública com enfoque para o portfólio reflexivo como um instrumento valioso no processo de aprendizagem destacando as conquistas e desafios. O objetivo é relatar as experiências vividas na facilitação no curso de Gestão de Emergências em Saúde Pública a partir de uma metodologia descritiva abordando o portfólio reflexivo como método de ensino, aprendizagem e avaliação no âmbito da formação centrada em competências, bem como as conquistas e os desafios ao utilizar esse instrumento. O despertar surgiu ao perceber ao longo dessa trajetória como o processo de mudança em alguns especializandos foi valioso e fortalecedor levando em consideração que o primeiro contato com o instrumento foi algo assustador, tenso, frustrante, impactante e desconhecido por muitos. Vivenciar momentos de desconstrução do tradicional para construção de novos saberes em adultos foi uma tarefa árdua. Por alguns momentos os desafios foram mais evidentes que as conquistas. Orientar a construção de um instrumento novo para muitos foi algo complexo mas que trouxe grandes resultados. Os portfólios trazem na sua essência a construção de um novo ser, renovado na esperança de contribuir para uma saúde com mais qualidade, para um SUS melhor, para um ensino melhor. A literatura e a experiência nos fazem destacar que o portfólio é um instrumento de aprendizagem, tanto para o estudante como para o docente/facilitador.  Avaliar por meio de portfólios demanda tempo, paciência e prática. Os comentários do professor/facilitador e do aluno junto às amostras são importantes para explicar e analisar contextos, demonstrar como determinados trabalhos foram desenvolvidos e o que ocorreu durante a execução. Acompanhar portfólios de 20 participantes do Curso de Gestão de Emergências em Saúde Pública no decorrer desses 8 meses proporcionou repensar o quanto a prática educacional deve ser renovada no Brasil e principalmente na nossa região. A falta de conhecimento pelos especializandos, dificuldade na elaboração, na escrita, portfólios descritivos e pouco reflexivos, a falta de compromisso na entrega do instrumento foram algumas situações críticas vivenciadas no decorrer desse processo de construção dos portfólios. No início do curso era evidente sentimentos como frustração, dúvidas e arrependimentos por parte da turma na sua grande maioria por não ter conhecimento das metodologias ativas e suas ferramentas. O que veio acompanhado também da falta de entendimento quanto à essência do curso e mais uma vez o sentimento de frustração por não ser um curso voltado para emergência hospitalar. Como facilitadora me sentia num campo guerra, bombardeada de perguntas, sentimentos negativos e resistências. A medida que o curso acontecia foi possível observar alguns produtos bem elaborados. A criatividade na construção e a pontualidade na data da entrega foi algo motivador. Cada um com características próprias, singulares, porém todos com muita descrição e pouca ou quase nenhuma reflexão. As composições eram diversas: físicos, digitais, blogs, personalizados, de tudo um pouco. Títulos como um “matuto na cidade”; “metamorfose”, descreviam a criatividade e a singularidade com detalhes ricos e muito bem elaborados. Porém não foi possível acompanhar todos pelo não compromisso na entrega conforme pactuado. A trajetória profissional foi um dos itens necessários que deveriam constar nos portfólios. Caberia ao facilitador uma leitura minuciosa. Assim, foi possível identificar histórias de vidas surpreendentes e emocionantes. Os momentos em duplas permitiam conhecer a abordagem e a criatividade escolhida pelo colega, bem como comparar com aquilo que estava faltando no seu e o que poderia absorver da ideia do outro para composição do instrumento. Uma troca de experiências onde um acrescenta saberes ao outro. Trabalhar individualmente fortalece o relacionamento especializando/facilitador, contribuindo para uma convivência mais próxima. É um momento para identificar como aquele produto está sendo elaborado e se realmente o participante entendeu a essência do portfólio. São momentos agradáveis, que nos leva a analisar um material rico e compreender como esse instrumento está colaborando no processo de aprendizagem do especializando. Esse momento permite ao estudante realizar a autoavaliação em processo, avaliação dos conteúdos e a avaliação do facilitador, além de permitir o desenvolvimento da capacidade metacognitiva. Baseia-se no feedback entre facilitador e estudante, com o foco nos resultados gerais de desempenho. O instrumento de acompanhamento do portfólio (Apêndice A), foi aplicado na metade do curso como uma forma de compreender qual era a percepção do especializando na construção do seu portfólio. Diante daquele impresso, caberia analisar o andamento do seu produto e se contemplava alguns requisitos essenciais que deveriam constar. Os termos satisfatórios e pode melhorar foram utilizados, lembrando que o objetivo não foi avaliar o especializando mas levá-lo à reflexão se o portfólio correspondia aos requisitos mínimos solicitados. Entre as fragilidades da confecção do portfólio, destaco algumas dificuldades apontadas como a dificuldade relativa ao tempo, dificuldade da habilidade escrita; dificuldade operacional para a confecção do portfólio e redigir, organizar e estruturar. Todavia, os especializandos o reconhecem como um importante instrumento reflexivo. A cada acompanhamento era visível um crescimento, por mais pequeno que fosse. O medo, temor, o desconhecimento não era tão evidente. Já existia um pensamento de tornar o portfólio algo valioso e necessário para o produto final no caso, o TCC. Para a elaboração deste trabalho, era necessário um portfólio completo, com sínteses crítico reflexivas bem elaboradas. Nessa trajetória de aprendizagem foi notória a transformação gradativa no papel dos especializandos. Seres mais pensantes, questionadores, mais críticos foram aflorando no decorrer dos encontros. Pessoas percebendo-se capazes de estruturar, de construir e desconstruir, selecionando as informações e refletindo criticamente sobre os fatos, as teorias e os valores nelas presentes de forma implícita ou explícita. Pouco a pouco, os estudantes foram se empoderando, buscando novas fontes que subsidiassem suas reflexões, assumindo uma atitude mais responsável, comprometida e questionadora. Enquanto facilitadora, posso afirmar o quão gratificante é fazer parte desse crescimento, desse movimento de descobertas, de mudanças e de enriquecimento pessoal e profissional. As orientações, os momentos juntos, as discussões foram fundamentais e serviram como adubo para fortalecer as pequenas sementes. Tivemos bons frutos, pessoas engajadas e com novos pensamentos a partir do contato com as metodologias ativas e todas as ações envolvendo esse processo. Provocar um ser humano mais crítico é a grande recompensa nessa caminhada. Observar pessoas que se transformaram, que viram nesses instrumentos a forma de crescer, sendo percebido em suas ações, reflexões e análises críticas me faz perceber o quanto valeu a pena vivenciar todos os desafios. Cada portfolio traz consigo uma identidade, uma singularidade, uma produção que necessita de tempo, paciência, dedicação. Aliado às sínteses reflexivas foi possível encontrar uma gama de criatividade, de dedicação, de histórias emocionantes no mesmo espaço de textos, narrativas e evidencias. Afinal, um portfólio não se resume apenas a uma pasta, a fotos, a textos, ele traz na sua essência a característica, a particularidade do seu autor. E que esse instrumento esteja guardado não somente como meio físico, mas que o conhecimento ali existente permeie por um longo tempo na mente daqueles que o criaram, possibilitando torná-los cada vez mais críticos e reflexivos nas suas ações, sejam pessoais, sejam profissionais.

 


Palavras-chave


Facilitação; metodologias ativas; portfólio reflexivo