Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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SÍNDROMES PSIQUIÁTRICAS E O PERFIL DOS PACIENTES ATENDIDOS EM UM CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL (CAPS) NO INTERIOR DA AMAZÔNIA
Thais Chrystinna Guimarães Lima, Brenda dos Santos Coutinho, Andreza Dantas Ribeiro, Renan Fróis Santana, Alda Lima Lemos

Última alteração: 2018-01-21

Resumo


Apresentação: As síndromes psiquiátricas estão cada vez mais incidentes na sociedade e ocupam posição de destaque no cenário mundial nos grupos de doenças crônicas, que vem acometendo significativamente a população em todas as faixas etárias. De acordo com o relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), as síndromes psiquiátricas correspondem a 12% da carga mundial de doenças e menos de 1% dos recursos da saúde é investido em ações na área de saúde mental. Esse panorama é preocupante, pois sabemos que a qualidade de vida está interligada com a social, interpessoal e neurobiológica, pois o ser humano é multidimensional. Se uma dessas dimensões for afetada, esse indivíduo pode vir a ter algum transtorno mental. Sabemos que anteriormente o modelo adotado era o hospitalocêntrico, onde o indivíduo que tinha algum transtorno mental era levado ao manicômio, onde recebia um “cuidado” desumano, pois o objetivo não era a reinserção desses indivíduos na sociedade, simplesmente era um lugar onde ele ficava isolado dos demais. Com a reforma psiquiátrica, o modelo hospitalocêntrico não foi mais utilizado, gerando a criação de uma Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), tendo como serviço de referência os Centros de Atenção Psicossociais (CAPS), onde esses indivíduos tem um tratamento humanizado para que o mesmo seja reinserido na sociedade. A partir disso, considerando a prevalência dos transtornos mentais, o objetivo do estudo foi identificar o perfil dos pacientes atendidos em um CAPS, no município de Santarém/Pará, no ano de 2012, bem como os transtornos mentais mais incidentes nesses indivíduos. Desenvolvimento do Trabalho: Trata-se de uma pesquisa descritiva de abordagem quantitativa, utilizando-se do estudo documental. Esta pesquisa é um recorte da monografia apresentada como requisito para especialização em saúde mental. O universo da pesquisa foram todos os prontuários dos usuários matriculados em um CAPS, localizado no município de Santarém - Pará, no ano 2012. Os dados foram adquiridos através da consulta aos prontuários, sendo realizada a coleta das seguintes variáveis: sexo, escolaridade e as síndromes psiquiátricas. No que tange aos cuidados éticos, foi mantida a confidencialidade das informações, corroborando com o estabelecido na lei nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), que regulamenta a pesquisa com seres humanos. Resultados e/ou impactos: No ano de 2012, no respectivo CAPS haviam 402 pacientes matriculados, onde 41,54% eram do sexo masculino e 58,46% do sexo feminino. Os dados extraídos da pesquisa mostram que o gênero mais acometido por síndromes psiquiátricas são as mulheres. Observa-se que as psicoses afetivas e a esquizofrenia não possuem diferenças significativas entre os sexos, já com relação à depressão, as mulheres são mais atingidos, assim como, nos transtornos relacionados ao uso de substâncias psicoativas, os homens são os mais afetados. Além disso, as mulheres teriam maior facilidade de identificar os sintomas, admiti-los e buscar ajuda, enquanto o homem seja por questões culturais ou, dentre outros motivos acabam não admitindo o transtorno e nem procurando auxílio. Muitas vezes tendem a buscar nas substâncias psicoativas o alívio para seu sofrimento ou angústia. No que se refere à escolaridade dos cadastrados no centro foi possível observar que a maioria, 26,37% apresentava o ensino fundamental incompleto e 23,63% possuíam o ensino médio completo, como minoria, 5,23% tinham o ensino superior completo, 5,97% o ensino médio incompleto, 7,21% eram analfabetos, 13,68% o fundamental incompleto e 17,91% não tinham a escolaridade explanada no prontuário. O que nos mostra que a maioria dos clientes atendidos tinha baixa escolaridade. Cabe ressaltar que a educação tem um efeito direto na saúde psicológica, pois aumenta a possibilidade de escolhas na vida e influencia aspirações, autoestima e aquisição de novos conhecimentos que podem motivar atitudes e comportamentos mais saudáveis. Ademais, a escolaridade e a renda mensal são visualizadas como fatores de risco para o desenvolvimento de transtornos mentais. Entretanto, se a baixa renda e escolaridade, associadas com o desemprego podem desencadear o sofrimento psíquico, o sofrimento também pode ocasionar a ocorrência de tais variáveis, visto que o individuo com algum transtorno mental, muitas vezes, fica limitado nas atividades em sociedade. Relacionado às síndromes psiquiátricas de maior demanda no CAPS, as síndromes maníacas depressivas e as síndromes psicóticas representaram a maioria dos casos, com 37,06% e 23,4%, respectivamente. Contudo, as síndromes de ansiedade alcançaram representatividade, com 20,4%, outras síndromes corresponderam a 8,95% dos casos e 10,19% não tiveram na Classificação Internacional de Doenças (CID) uma definição precisa. Tais dados refletem a necessidade de todos os profissionais de saúde estar atentos a um possível transtorno mental, independente do nível de assistência à saúde em que esteja atuante, visto que muitas doenças psíquicas podem ser confundidas com doenças orgânicas. Além disso, tal cuidado é essencial para o pleno funcionamento da RAPS. Em relação as que não tiveram a CID definida, tal dado refere-se ao período em que o serviço permaneceu sem o atendimento médico. Considerações finais: A partir do estudo, foi constatada a maior prevalência dos transtornos psiquiátricos no sexo feminino e em pessoas com baixa escolaridade, o que já é evidenciado em outros estudos. Cabe ressaltar também o número significativo de pessoas em sofrimento psíquico, no município que estão cadastradas no CAPS, porém sabe-se que esse número representa apenas uma parcela da população acometida com algum tipo de transtorno mental, observado que o CAPS representa apenas um serviço dentro da RAPS, sendo de referência, abrangendo, em especial, transtornos severos e persistentes. Ademais, o quantitativo de pessoas que estão com sinais e sintomas de uma doença psíquica é superior ao número das que estão em tratamento, seja por questões culturais, preconceito ou subestimação da doença mental e, ainda é visível uma parcela significativa dos indivíduos que estão em sofrimento psíquico limitarem-se a consultas particulares, voltadas para a atenção uniprofissional, o que afeta a integralidade do cuidado. Portanto, cabe a todos os serviços da RAPS, em especial, a atenção primária, nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) ou Estratégias de Saúde da Família (ESF) fornecer espaços de cuidado para um acometimento frequente, porém negligenciado por profissionais de saúde e pela própria população. Portanto, todos os promotores de saúde da atenção primária devem está atentos para a saúde mental da sua população de abrangência, realizando, assim o diagnóstico precoce e tratamento imediato, fornecendo vias para que os indivíduos e seus familiares sejam protagonistas nas mudanças necessárias para a superação do transtorno psíquico, bem como funcionar como a via principal de entrada desses pacientes e encaminhar para um serviço de referência, se necessário.


Palavras-chave


epidemiologia; saúde mental; serviços de saúde mental