Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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GRUPO DE APOIO TERAPÊUTICO E OFICINAS TERAPÊUTICAS COMO EQUIPAMENTOS ASSISTENCIAIS NA ATENÇÃO PSICOSSOCIAL: RELATO DE EXPERIÊNCIA
Carla Steffane Oliveira e Silva, Telma Eliane Garcia, Tiago dos Reis de Oliveira Costa, Paulo Jonathan Pinheiro Nery, Winnie Taíse Pena Macêdo, Fabiolla de Cássia Soares Cardoso

Última alteração: 2018-07-02

Resumo


INTRODUÇÃO: A desconstrução das práticas hospitalares proposta pela reforma psiquiátrica possibilitou a formulação de novas abordagens de assistência ao portador de transtorno mental. A atenção psicossocial direciona suas ações para a construção da cidadania, da autoestima e da interação do indivíduo com a sociedade onde a reprodução social do sujeito constitui um processo complexo e o sofrimento psíquico perpassa a prática clínica, que realizada na rede de atendimento requer instrumentos e estratégias para a efetivação de ações resolutivas. Nesse sentido, o desenvolvimento das abordagens terapêuticas no trabalho em saúde mental ocorre com vistas a melhorar o enfrentamento do transtorno psíquico. Na atualidade a multiplicidade de intervenções terapêuticas grupais evidenciam as modificações nas concepções e formas de tratamento em saúde mental. Nesses espaços terapêuticos ocorrem a potencialização das trocas dialógicas, o compartilhamento de experiências e a melhoria na adaptação ao modo de vida individual e coletivo. Enfim, são espaços de comunicação e integração. A introdução da família e da comunidade ao tratamento do portador de transtorno mental se constituem em fontes fundamentais de apoio pois ao compreenderem a terapêutica e colaborarem com seu desenvolvimento, essas pessoas estarão mais aptas a cuidar, de forma adequada de seus parentes. Os grupos de apoio terapêutico têm a funcionalidade de favorecer aos sujeitos um espaço de expressão de sentimentos e o convívio com situações semelhantes para avaliar o que pode ser modificado em seu cotidiano. Já as oficinas terapêuticas permitem a possibilidade de projeção de conflitos internos/externos por meio de atividades artísticas, com a valorização do potencial criativo, imaginativo e expressivo do usuário. Logo, as atividades devem ser capazes de estimular e/ou desenvolver habilidades e competências para uma vida em sociedade, que valorize a criatividade, participação e dê um novo sentido ao tratamento e acompanhamento pelo serviço CAPS. Nesse contexto, profissionais, usuários e acadêmicos podem desenvolver uma relação dialógica e dinâmica que fortaleça a interação social, desenvolvam vínculos que facilitem a emancipação por meio do cuidado em saúde mental em seu conceito ampliado, além de contribuir com a reintegração desses sujeitos. Desta forma, delineou-se como objetivo operacional deste trabalho relatar a vivência de acadêmicos de enfermagem no desenvolvimento de um grupo de apoio terapêutico e oficinas terapêuticas e suas implicações na interação social e desenvolvimento de habilidades entre/com sujeitos do serviço CAPS. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: Trata-se de um relato de experiência do tipo descritivo, proporcionado pelas aulas práticas da atividade curricular Enfermagem em Saúde Mental da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal do Pará (UFPA), desenvolvido por acadêmicos do nono semestre do curso, a partir das vivências em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) do Município de Belém-PA. Os sujeitos envolvidos foram os acadêmicos de enfermagem e nutrição, docente da atividade curricular, profissionais de saúde atuantes no CAPS em questão, familiares acompanhantes e usuários do serviço. Durante as aulas práticas, cuja finalidade é garantir o entendimento do funcionamento do serviço CAPS e dinamismo das ações executadas no local, valorizou-se os cuidados de enfermagem necessários para a qualidade da assistência e melhoria da qualidade de vida dos indivíduos. As tarefas ocorreram por meio de grupos terapêuticos e oficinas com os usuários a fim de estimular a interação em atividades variadas que proporcionassem o aperfeiçoamento e/ou desenvolvimento de suas habilidades. As atividades ocorreram em etapas de acordo com os dias de aulas práticas, as quais foram realizadas através de tarefas interativas como: danças, jogos de tabuleiros, cirandas, pinturas, karaokês, dinâmicas, brincadeiras, entre outros. Estes procedimentos foram desempenhados por acadêmicos durante as aulas práticas e profissionais do CAPS estadual. As atividades manuais ou artísticas eram operacionalizadas de maneira divertida, enriquecidas de dinâmicas, brincadeiras e rodas de conversa que potencializavam a efetividade das ações e fortaleciam a comunicação entre os usuários, profissionais e acadêmicos. Cada ação realizada sempre objetivava o despertar do grupo para o descobrimento de suas capacidades e a percepção de sua validade na sociedade, além de proporcionar o vínculo direto entre os envolvidos. RESULTADOS: Observou-se na vivência que as realizações das oficinas terapêuticas proporcionam o desenvolvimento de habilidades em todos os envolvidos, a descoberta de novos talentos e o aperfeiçoamento de talentos específicos de cada participante efetivando uma assistência integrada e humanizada por parte dos profissionais e acadêmicos e a inclusão familiar ao processo terapêutico de forma gradual. Os indivíduos podem projetar seus conflitos internos sob forma plástica, corporal, literária, musical, teatral, bem como valorizar seu potencial criativo, expressivo e imaginativo propiciando intersecção entre o mundo do conhecimento psíquico e o mundo da arte, pela expressão da subjetividade. Além disso, escutamos relatos de usuários que a partir da descoberta de seus talentos, passaram a utilizá-los como fonte de renda ou introduzi-los junto ao seio familiar. Isso mostra que as ações desenvolvidas no CAPES favorecem a interação social e minimizam o preconceito da sociedade. Identificou-se que o grupo terapêutico potencializa as trocas dialógicas, bem como a partilha de experiências e viabiliza melhor adaptação dos usuários ao modo de vida individual e coletivo, sendo entendido pelos sujeitos como um lugar onde ocorre o debate sobre a necessidade de ajuda de todos. Entre os efeitos positivos declarados pelos participantes dos grupos de apoio estão uma maior capacidade de enfrentamento das situações da vida, a melhora da autoconfiança, o alívio de sintomas e o restabelecimento gradual do equilíbrio emocional. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Com base na experiência relatada, podemos inferir que os grupos de apoio terapêutico e as oficinas acabam por fortalecer o aceite do processo assistencial aos usuários, ampliando a habilidade e a autonomia do sujeito, ao permitirem a ele o desenvolvimento do potencial da criatividade e da expressão. Esses espaços terapêuticos são lugares de comunicação e interação que trabalham as relações interpessoais dos sujeitos aposta ao respeito das diversidades existentes no grupo. Outro fator que deve ser considerado e merece destaque refere-se a aprendizagem que recebemos durante a experiência com o outro e a transformação ocorrida mutuamente. A possibilidade de estar no espaço do CAPS, em convivência com pessoas em sofrimento mental, bem com profissionais de outras áreas, proporcionou um olhar ampliado quanto à saúde mental e a importância do processo de escuta qualificada, além de saber respeitar às diferenças em todas as classes de pessoas.  Pudemos verificar que a enfermagem atuando nas novas modalidades de estratégias na atenção psicossocial, deve apropriar-se desses diferentes equipamentos assistenciais de cuidado, visando a melhoria da qualidade de vida dos indivíduos e a promoção e manutenção de um ambiente terapêutico. Fica a ressalva que os profissionais introduzidos na assistência ao paciente em sofrimento mental necessitam dar maior atenção a estes elementos básicos do cotidiano do serviço CAPS e efetivar as ações direcionadas a promoção de diálogo e interação, para que haja qualidade na prestação da assistência, através de cuidados que sejam capazes de ir além do campo técnico, garantindo interação social e valorização do sujeito portador de sofrimento mental.


Palavras-chave


Enfermagem; Saúde Mental; Grupos de Autoajuda