Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2018-06-06
Resumo
APRESENTAÇÃO:
Como Psicóloga das Unidades de Terapia Intensiva Neonatal e Pediátrica de um Hospital Público Municipal, cujo modelo de cuidado é fortemente centrado no discurso médico, observo que não é comum o compartilhamento de afetos e sentimentos no trabalho. Os profissionais não articulam narrativamente seu sofrimento e lançam mão de defesas para lidar com eles, o que torna este trabalho penoso, capaz de desencadear processos patológicos e de provocar afastamentos do trabalho. Acreditamos que a narrativa pode organizar a estrutura da experiência, e trazer para si os eventos da vida dos quais tentamos nos afastar.
Objetivo da pesquisa: a pesquisa teve a finalidade de identificar sinais de sofrimento nas narrativas dos profissionais, que não são expressos claramente em outros contextos; na possibilidade de resgatar a capacidade narrativa destes profissionais, apostamos na transformação do sofrimento solitário em ações compartilhadas e mais solidárias.
DESENVOLVIMENTO:
Método do estudo: A revisão de literatura sobre o tema evidenciou que no Brasil há escassez de estudos sobre o conjunto dos profissionais de saúde de uma mesma instituição, para se obter uma caracterização do sofrimento psíquico que abarquem as diferentes categorias profissionais .Na tentativa de construir argumentos que demonstrem a importância de inserirmos novas tecnologias de cuidado(“tecnologias leves”) no trabalho em UTI`s n&p, utilizei-me da Pesquisa Qualitativa por meio de Narrativas, trabalhando com 12 narrativas de profissionais de 07 especialidades distintas, produzidas através de entrevistas semiestruturadas, como técnica de coleta de dados. A análise de conteúdo das narrativas será demonstrada no trabalho final.
RESULTADOS – a produção de narrativas como efeito e resultado da pesquisa:
As narrativas demonstraram como cada profissional identifica sinais de sofrimento deste trabalho, em si mesmos , nos outros profissionais, nos familiares e nos pacientes, perante a instituição e a organização do trabalho, além de suas angústias, inibições, sintomas e histórias pessoais.
EXEMPLOS: “O estresse é maior quando o paciente fica internado a mais tempo” (S.C). “Esses crônicos que falecerem eu sofri muito, chorei muito” (L.A.). “Eu não sei administrar muito bem essas perdas, eu me acovardo, fujo da notícia e do luto” (S.C) .“A gente não foi preparado para a morte, a morte é um até logo que dói” (T.A).“Tem horas que a gente precisa respirar para não travar, eu já travei muitas vezes, a coluna travou , ainda somatizo um pouco”(D M.).“Eu choro todos os dias quando chego em casa”(A.B.)
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Acreditamos que a aproximação efetiva do trabalhador com sua narrativa transponha o lugar de dor/desprazer em ações produtoras de vida e saúde, mesmo diante da doença, da morte e do luto. Não podemos afirmar que alguns dos entrevistados estão em sofrimento psíquico mais severo apenas pelas entrevistas, mas podemos fazer um alerta e propor novos trabalhos.