Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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DESBRAVANDO CAMINHOS ATRAVÉS DE OFICINAS PEDAGÓGICAS COM TRABALHADORES RURAIS NA ATIVIDADE LEITEIRA
Themis Goretti Moreira de Carvalho, Naiara Riani Marques, Tamara Cristiane Batista, Mylena Stefany Silva dos Anjos, Milene Almeida Ribas, Katieli Santos de Lima, Nathália Arnoldi Silveira, Nathália Leal de Carvalho

Última alteração: 2018-01-25

Resumo


Introdução

As mudanças ocorridas na formação do fisioterapeuta, desde 2002, ano em que foram homologadas as Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduação em Fisioterapia, trouxeram para o cenário da educação superior o desafio de uma formação por competência; a centralidade no estudante como sujeito participativo; a utilização de metodologias ativas para favorecer o processo de aprender a aprender, aprender a conviver, aprender a fazer, aprender a ser . Tal desafio vem sendo debatido no Núcleo de Pesquisa em Saúde Coletiva e posto em prática, sendo todas as ações vivenciadas com os trabalhadores rurais na atividade leiteira, extensionistas da EMATER, acadêmicos do curso de Fisioterapia e professores, construídas no coletivo e embasadas em metodologias ativas e inovadoras.

As pesquisas foram a base para as atividades de extensão. E foi neste espaço privilegiado que consolidou-se as propostas pedagógicas inovadoras com os trabalhadores rurais na atividade leiteira. Por ser a extensão uma atividade acadêmica menos regulamentada, que aglutina estudantes e professores mais inquietos e propositivos, as propostas inicialmente estruturadas, foram pouco a pouco se aperfeiçoando e se expandindo, mostrando que são portadoras de caminhos que apontam para uma melhora da qualidade de vida e de trabalho da classe de produtores rurais.

A valorização local e nacional, pelos parceiros da experiência aqui relatada indica ser merecedora de atenção e de estudo. Caracterizou-se pelo modo dialogado e comprometido de todos; pela forma participativa de sua organização, onde os dirigentes da EMATER, extensionistas rurais, acadêmicos, docentes, pesquisadores e trabalhadores ocuparam grande espaço de protagonismo. Por essa razão, esta experiência conta com grande participação de alunos e professores e resulta em um relato marcado por muitas vivências, emoção, informalidade e ciência.

 

Descrição da experiência

Todas as oficinas foram construídas através do planejamento, do comprometimento de cada parceiro envolvido. O êxito de nossas ações sofreu forte influência da forma como trabalhamos, sempre dialogando e escutando a voz do trabalhador rural, buscando sempre seguir o seu olhar para que, tanto uma quanto o outro,  fossem objeto de análise e se incorporassem às propostas de mudanças.

Procuramos em todos encontros enfatizar não somente o processo de transmissão de conhecimento, mas a ampliação do olhar dos atores envolvidos na atividade leiteira para a construção compartilhada do conhecimento e da organização política necessários à melhora da saúde postural. Em vez de procurar difundir conceitos e comportamentos considerados corretos, procuramos problematizar, em uma discussão aberta, o que está incomodando e dificultando a vida diária deste grupo.

Para tal, nos embasamos na Política Nacional de Humanização da Atenção e da Gestão em Saúde (PNH) (Ministério da Saúde do Brasil, 2010) estruturando a prática do Acolhimento em todos os encontros, a fim de superar e inverter o Modelo de Atenção à Saúde hegemônico centrado no hospital, no médico e na doença, para um modelo que priorizou a escuta e o cuidado do trabalhador rural que nos apresenta demandas que extrapolam o corpo e se amplificam em nuances psicológicas, sociais, familiares, comunitárias.

Em todas as Oficinas, cada trabalhador rural, trouxe gestos, palavras, ponderações, discordâncias, atitudes, reflexões e perplexidades. Esse conjunto compôs um solo fértil para a construção de uma caminhada transformadora.

Foram realizadas seis Oficinas Pedagógicas de Educação e Saúde com os produtores de leite participantes do estudo e com os extensionistas da EMATAER de cada município. Os encontros aconteceram no Laboratório de Fisioterapia da Universidade de Cruz Alta/UNICRUZ, tiveram a duração de 4 horas cada um e a frequência mensal, envolvendo os seguintes temas:

1º) Esclarecimentos para os trabalhadores envolvidos na atividade leiteira dos objetivos do estudo do qual esta participando, ressaltando os possíveis benefícios da atividade de cinesioterapia para a saúde e qualidade de vida. Entrega de cartilha explicativa, com ilustrações das atividades e alongamentos que foram realizados no período de maio de 2016 à fevereiro de 2017, no domicílio pelos participantes.

2º) Reflexão e discussão sobre o tema: "Viva bem com a coluna que você tem!". De forma lúdica estudamos juntos a anatomia e fisiologia da coluna vertebral e membros (superiores e inferiores) e as consequências e riscos de se adotar uma má postura.

3º) Entrega dos exames e testes realizados, individualmente a cada participante, com aconselhamento e discussão sobre cada item avaliado.

4º) Buscando construir um entendimento sobre a importância da participação de todo cidadão no controle social para construção da integralidade a saúde, entregamos a cartilha das diretrizes do SUS (Sistema Único de Saúde) que aborda os direitos e deveres dos cidadãos referente à sua saúde e bem-estar psíquico e físico e realizamos uma roda de conversa com atividades de dança e construção de painéis sobre o assunto.

5º) Oficina pedagógica:  "1ª capacitação para o trabalhador rural na atividade leiteira: curtir a vida com qualidade, prazer e sabedoria". Foi um momento de refletir sobre as estratégias de promoção dos direitos sexuais e dos direitos reprodutivos, de promoção da saúde, de prevenção das infecções sexualmente transmissíveis (IST), do HIV, da aids e das hepatites virais e da cultura de paz.

6º) Oficina pedagógica: "Desvendando e entendendo a Ergonomia no ambiente de trabalho do produtor de leite", salientando as necessidades à serem adquiridas para um maior conforto e proteção a coluna vertebral e ressaltando o que já possuem e que deve ser mantido para sua comodidade no trabalho.

Buscamos a prática do cuidado à saúde do trabalhador rural na atividade leiteira, em cada encontro, numa construção coletiva de uma experiência comum a todos trabalhadores. A rotina neste campo de trabalho é semelhante, embora a saúde, em seu conceito ampliado, como um direito radicalmente vinculado à existência de políticas econômicas e sociais que deverão assegurar outros direitos fundamentais como, por exemplo, moradia, alimentação, educação e lazer tenha distinções importantes entre os 10 municípios participantes do estudo.

Nessa perspectiva, buscou-se uma acolhida das intenções e expectativas do grupo,  privilegiando a construção coletiva de uma experiência comum, solidária e igualitária, sendo o trabalhador  "percebido como sujeito e agente transformador do seu ambiente e não apenas como um mero recurso humano, realizador de tarefas previamente estabelecidas pela administração local. Não é um insumo adicional, que se agrega aos recursos financeiros, tecnológicos e de infraestrutura para produzir serviços" (MINISTÉRIO DA SAÚDE DO BRASIL, 2014).

Finalizamos nossos encontros com uma atividade lúdica: um Arrastapé, baile e oficina pedagógica, no qual foi escolhido entre todos os participantes o Rei e a Rainha. Foi um momento de compartilhamento e de muita aprendizagem para todos.

Considerações finais

Neste projeto, o que se buscou foi a inserção dos trabalhadores rurais na atividade leiteira, enquanto sujeitos que pensam, criticam, agem, sonham, desejam melhora da qualidade de vida. Que as ideias manifestadas por eles fossem ouvidas, analisadas, discutidas e confrontadas, pois escutá-las fez uma diferença nas propostas e nos resultados de mudanças e reformas de sua vida.

Durante todo o processo experimentado, as necessárias transformações acadêmicas foram cotidianamente aperfeiçoadas pela vivência dos alunos, orientada por um jeito diferente de conduzir o processo educativo, embasado na metodologia da Educação Popular. A partir do vínculo estabelecido com os trabalhadores rurais e sua realidade concreta, elaborou-se um agir transformador significativo, que repercutiu sobremaneira na formação estudantil e docente, contribuindo, de maneira singular, para o enfrentamento das condições de saúde desta população

 

 


Palavras-chave


Trabalhadores rurais. Oficinas Pedagógicas. Participação Popular.