Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE ACIDENTES DE TRABALHO COM EXPOSIÇÃO A MATERIAL BIOLÓGICO EM AMBIENTES NOSOCOMIAIS NO MUNICÍPIO DE SANTARÉM-PA
Lara monteiro Cardoso, Andreza Dantas Ribeiro, Brenda dos Santos Coutinho, Carla Suellem Sousa Araújo, Dara Marcela Gama dos Anjos, José Walter Silva Costa, Mônica Karla Vojta Miranda, Irinéia de Oliveira Bacelar Simplício

Última alteração: 2017-12-19

Resumo


Apresentação: A constatação de agravos gerados pela manipulação de materiais biológicos em ambiente laboral do profissional de saúde tem chamado atenção de pesquisadores desde o início da década de 40. No entanto, no Brasil, somente nos anos 80, após o início da epidemia de AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida), evidenciou-se quão frágil eram as questões de segurança na prática clínica da equipe de saúde. Atualmente, as notificações de agravos por materiais biológicos são consideradas compulsórias, efetuadas com ficha própria, regulamentada pelo Ministério da Saúde, no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN-NET) e em locais sentinelas específicos como os Centros de Referência de Saúde do Trabalhador (CEREST). Ressalta-se que através das notificações tona-se possível a realização de práticas de medidas de prevenção e controle. A fim de minimizar os riscos, a Norma Regulamentadora (NR) 32, que estabelece diretrizes básicas para medidas de proteção e segurança do trabalhador da saúde, preconizando ações de controle como o uso de  Equipamento de Proteção Individual (EPI), higienização das mãos, vacinação contra a hepatite B e hepatite C, entre outras medidas de proteção. Dessa forma, considerando a importância de conhecer a incidência de acidentes de trabalho com materiais biológicos, a fim de trabalhar na sua prevenção, o estudo teve o objetivo de conhecer o perfil epidemiológico e investigar o número de notificações de acidentes por material biológico com os profissionais de saúde, no município de Santarém, estado do Pará, no período de 2011 a outubro de 2016. Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de um estudo documental, descritivo, transversal, de abordagem quantitativa. Teve como amostra trabalhadores atuantes em intuições de saúde no município de Santarém, acometidos por acidentes de trabalho com material biológico, no período de janeiro de 2011 a outubro de 2016. As informações foram colhidas a partir da ficha de notificação compulsória, que possui 14 itens referente a informações do paciente e mecanismos do acidente com material biológico, essas fichas estão disponíveis no Sistema de informação de Agravos de Notificação, obtidas após autorização de acesso as informações do Centro de Referência de Saúde do Trabalhador e Divisão de Endemias da 9ª Centro Regional de Saúde de Santarém. Os dados foram tabulados e organizados em planilhas no Microsoft Office Excel 2007. Resultados e/ou impactos: O número de acidentes com material biológico no período em estudo foi de 249 casos registrados no SINAN-NET, envolvendo trabalhadores relacionados ao setor de saúde. Dentre os anos analisados, o de 2014 foi o que teve o maior número de ocorrências, com 32%. Referente aos demais períodos, o ano de 2011 e o de 2012 foram responsáveis por 14,5%, cada. No ano de 2013, obteve-se 22,5% dos registros no período; 13,7% em 2015 e 2,8% em 2016. Do total, 80,3% eram do sexo feminino e 19,7% do sexo masculino, tal achado condiz com as demais literaturas. Em relação à quantidade de indivíduos notificados por faixa etária, 64,2% estavam na faixa de 18-35 anos de idade; 33% na de 36–50 anos e 2,80% na de 51–65 anos. É notória que a maior força do trabalho de uma instituição hospitalar é composta por mulheres, em especial, com idade inferior a 40 anos, visto que, a maioria dos profissionais atuantes em áreas de saúde é integrante da equipe de enfermagem, que é composta majoritariamente pelo sexo feminino. O tipo de exposição que atuou como porta de entrada para o material biológico com maior representatividade foi à exposição percutânea, correspondendo a 79,9% de casos. Além disso, o material orgânico mais envolvido foi o sangue, com 81,1%. Em relação à circunstância, a maioria dos acidentes foi ocasionada durante a administração de algum medicamento endovenoso, com 13,7%; por descarte inadequado no chão, equivalente a 13,7%; descarte inadequado no lixo, com 12,4%; via manipulação na caixa destinada a material perfurocortante, totalizando 7,6%; através da punção coleta, com 5,2% e outras vias com menor representação foram por lavagem de material; administração de medicação intramuscular, subcutânea ou intradérmica; durante procedimento cirúrgico, odontológico, laboratorial ou de verificação do dextro; por reencape de agulha e, dentre outros onde não foi informada a situação de ocorrência, resultando em 47,4%. Tais dados permitem a associação dos acidentes com os profissionais da equipe de enfermagem, por estes lidarem diretamente com o paciente e estarem em contato constante com materiais perfurocortantes, além de representarem a maior parte dos recursos humanos de um meio hospitalar. Pertinente ao agente causador de maior frequência de acidentes de trabalho com material biológico, a agulha com lúmen foi a mais envolvida, englobando 66,7% das ocorrências, seguida por lanceta/lâmina, com 12,4%, já as demais foram relacionadas ao uso de agulha sem lúmen/maciça, vidros, intracath, e outros casos onde não constava tal informação, refletindo 20,9%. No que concerne à utilização de algum EPI, no momento do acidente, 74,6% dos profissionais utilizavam luvas no momento do acidente e 25,4% não fizeram seu uso; no tocante ao uso de avental, 49,4% usavam; 50,2% não e em 0,4% não foram informados; já quanto à máscara, 49,8% faziam seu uso e 50,2% não; respectivo aos óculos, 26,5% utilizava; 73,1% não e em 0,4% não foram explicitados. Ressalta-se a necessidade de que todos os profissionais de saúde estejam conscientes da seriedade do uso do EPI. Quanto à situação vacinal da Hepatite B nos profissionais, verificou-se que 78,6% estavam devidamente imunizados. Desse modo, cabe ressaltar que as instituições de saúde devem está atentas ao quadro vacinal de seus trabalhadores, assim, protegendo-os das consequências de um acidente de trabalho com material biológico. Sobre a realização do teste anti-HIV pós-acidente, 84,7% obtiveram resultado negativo; 8,4% não foram informados; 3,6% não realizaram; 2,4% foram inconclusivos e 0,9% positivos. Pertinente ao conhecimento da fonte do material biológico, 60,2% era conhecida; 37,8% não e 2% não foi informado ou ignorado. Já na análise da frequência dos resultados dos testes anti-HIV na fonte do material biológico, 50,2% eram negativos; 41,4% não tinham a informação; 4,8% foram positivos; 2,8% estavam em andamento e 0,8% inconclusivos. Considerações finais: A equipe de saúde, diariamente fica exposta aos riscos dos acidentes com material biológico, principalmente os profissionais da equipe de enfermagem, por estes manipularem constantemente agulhas, lâminas e estarem em contato frequente com o paciente. Alguns fatores contribuem para estes acidentes, como a não utilização de EPI, a negligência quanto às práticas recomendadas pelas normas regulamentadoras do trabalho, além de uma imunização desatualizada. Cabe aos órgãos de saúde, a execução de programas de atualização, como treinamentos, palestras ou cursos em biossegurança para os profissionais, e que estes, então, possam assimilar as informações e colocá-las em prática. Ademais, é necessária a fiscalização para verificar o cumprimento de tais práticas, bem como explanar para os profissionais acerca da sua responsabilidade e importância da notificação de acidentes de trabalho.

Palavras-chave


Saúde do trabalhador; Material biológico; Epidemiologia.