Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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OS FAMILIARES COMO PROTAGONISTAS NO CUIDAR DO PORTADOR DE TRANSTORNO MENTAL: ADAPTAÇÃO E DESAFIOS
Andreza Dantas Ribeiro, Brenda dos Santos Coutinho, Érika Marcilla Sousa de Couto, Lara Monteiro Cardoso, Herman Ascensão da Silva Nunes

Última alteração: 2017-12-09

Resumo


Apresentação: A família esteve por um longo período afastado do tratamento dos portadores de transtorno mental (PTM), no entanto, atualmente é uma peça fundamental neste, no qual muitos são os desafios enfrentados, como o preconceito, a resistência à mudança dos hábitos e a falta de conhecimento sobre a doença. O objetivo deste estudo foi verificar a importância do protagonismo dos familiares no tratamento do portador de transtorno mental, assim como suas estratégias adaptativas para esse cuidar e seus desafios, evidenciando as contribuições oferecidas pelo serviço e deficiências no atendimento. Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de um estudo descritivo de abordagem qualitativa do tipo relato de experiência, o qual foi vivenciado por acadêmicos do quinto período do curso de graduação em Enfermagem da Universidade do Estado do Pará, durante aulas práticas da disciplina de Saúde Mental I em um CAPS, localizado no município de Santarém, no Estado do Pará. A observação empírica e o diálogo com os familiares foram realizados durante o mês de maio, do ano de 2016. O relato de experiência foi construído a partir do olhar e do diálogo com os familiares. Foram obedecidos os aspectos éticos da pesquisa, de acordo com a resolução 466/12.  Resultados e/ou impactos: 1) A concepção da família acerca dos desafios no cuidado do portador de transtorno mental: A recusa do usuário em utilizar o psicofármaco é um problema que está incluso na rotina da família cuidadora, resultando em atitudes de violência, de ocultação ou falsificação da ingestão do medicamento pelo PTM. Esse comportamento dificulta o controle da terapêutica pelo familiar responsável que por não saber da falha na tomada dos medicamentos fica impossibilitado de realizar suas atividades habituais. O transtorno mental modifica a capacidade do consciente do indivíduo, ocasionando condutas fora do padrão social, associadas à perda do pudor, a pretensão de estar recluso, ou o oposto, desenvolvendo anseio de mostrar-se, no qual a família não sabe intervir de modo eficaz. O sentimento de vergonha pode estar inserido no meio familiar devido trauma do convívio aliado à falta de compreensão sobre o quadro clínico, findando em recusa do familiar no auxílio do tratamento. As queixas da família dão mais referência ao momento em que o usuário se encontra no estado de crise, pois é a ocasião em que se põe agitado, não evidencia afeto e não aceita as indicações do cuidador. Tendo o familiar por consequência uma vida conturbada, às vezes, alegando medo e insônia pela insegurança de adormecer perante a conjuntura de desempenhos agressivos. Observou-se o sentimento de impaciência do familiar frente ao cuidado com o portador de transtorno mental relacionado à incompreensão das atitudes involuntárias que a doença traz, contudo, há cuidadores que se adaptam e procuram apreender o pensamento de que os comportamentos alterados são implicações da patologia, pois fora da crise os usuários praticam suas atividades diárias normalmente, fortalecendo a relação familiar. Outro ponto é o fato da família se ausentar do processo terapêutico em decorrência de suas ocupações laborais, que independente de haver muitos membros em um grupo, obrigatoriamente uma pessoa terá de renunciar seus serviços para prestar contínua atenção ao usuário, findando na sobrecarga sobre ele. Há famílias, porém, que se organizam, no qual cada um emprega uma função conforme a disponibilidade, alegando o incentivo a tarefas lúdicas com o objetivo de evitar a reclusão. As famílias aludem acerca da necessidade de existir uma ação coexistida do cuidador para com o cuidado, sendo este considerado uma criança, sem poder hierárquico, devendo obedecer às inferências propostas pelo familiar para conseguir efetividade nos artifícios terapêuticos por meio do temor. Isso pode ser consequência do modelo manicomial, no qual foi instituído condutas de ordem para conter as desordens morais e indisciplina dos PTM, como método de autoproteção da família. 2) A importância do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) na reabilitação do usuário e suas deficiências no atendimento: O CAPS está sob a visão de auxiliador e que traz resolutividade para as dificuldades pontuadas, removendo o fardo disposto sobre o familiar responsável. É citado pelos familiares quanto ao bom acolhimento pela equipe multiprofissional, no qual são recepcionados de forma agradável, passam pelo atendimento interdisciplinar e as demandas consistem em resolução dos problemas. Há adversidades quanto ao atendimento, a princípio, é exposta a questão da falta de pontualidade dos profissionais médicos, tendo como consequência a promoção de ansiedade nos pacientes que estão à espera de consultas ambulatoriais, que, por vezes, se encontram em crise, alargando o quadro. Também foram descritos os obstáculos com relação ao transporte e locomoção, no qual famílias que residem em comunidades ou na zona rural tem difícil acesso aos atendimentos agendados. Mas, esforçam-se em estarem presentes independentes da situação. Tal informação remete a necessidade da atuação fortificada dos profissionais nas unidades básicas de saúde (UBS) ou Estratégias de Saúde da Família (ESF) na saúde mental, para que ocorra um atendimento de qualidade dos PTM no nível primário da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e que os serviços estejam mais próximos dos usuários.  A visita domiciliar é uma questão requerida pelos familiares e PTM, alegando a importância do atendimento e acompanhamento domiciliar no conforto do usuário e melhor relacionamento entre os profissionais e usuário. A falta de esclarecimento a propósito da patologia foi observada, mostrando falhas na comunicação da equipe profissional para com a família, aliadas a um déficit na humanização. Ainda, foi percebida a carência de capacitação da família pela equipe multiprofissional a fim de orientar acerca dos métodos para lidar com problemas comuns, que repetidamente, não são solucionados. Considerações finais: Os familiares dos PTM apontaram dificuldades inseridas no espaço familiar no que confere ao transtorno mental, estes apontados, sobretudo ao tratamento e convívio com o usuário. No qual, o cuidador referencial, geralmente, não recebe apoio do grupo e, não se vê subsidiado para prestar um cuidado eficaz, isso por carências na compreensão acerca da patologia e formas de intervenção. Assim, o CAPS assume inegável importância no tratamento do paciente com transtorno metal no auxílio à família do paciente, pois durante o acesso do paciente pelo centro, este se depara com situações que podem dificultar o tratamento e ocasionar um sentimento desesperança no familiar.

Palavras-chave


adaptação psicológica; relações familiares; serviços de saúde mental