Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Visita técnica à Estratégia de Saúde da Família (ESF) do Arquipélago do Combú/Belém-PA: relato de experiência
Ana Flavia de Oliveira Ribeiro, Aline Presley Pingarilho de Carvalho, William Dias Gomes, Bruno Thiago Gomes Baia, Kethully Soares Vieira, Paula Emannuele Santos do Amaral, Samantha Modesto de Almeida, Widson Davi Vaz de Matos

Última alteração: 2018-01-22

Resumo


Apresentação: As populações tradicionais são caracterizadas pelas suas especificidades, como seus hábitos de vida, meios de produção e reprodução social relacionada com o meio ambiente. Essas populações se diversificam em raças, etnias, povos, religiões, culturas, sistemas de trabalho e tecnologia, grupos sociais e econômicos, ecossistemas e de uma vasta biodiversidade. Considerando os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), a portaria nº 2.866 de 2011 instituiu a Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo e da Floresta (PNSIPCF), visando à promoção e prevenção á saúde dessas comunidades através de ações considerando suas especificidades, objetivando maior acesso aos serviços de saúde reduzindo agravos e risco e a melhora da qualidade de vida dessas populações. Essa política baseou-se nas desigualdades e necessidades que as populações tradicionais (ribeirinhos, quilombolas, indígenas, rurais e florestais) apresentavam quando comparadas as populações urbanas que possuem maior acessibilidade aos serviços de saúde. Logo, o enfermeiro (a) precisa compreender o processo saúde e doença dessas populações, considerando suas particularidades, reconhecendo os principais riscos e danos, quais as doenças mais comuns, relacionadas com o campo, floresta e os rios, quais são os principais focos de endemias e suas possíveis causas realizando o diagnóstico situacional, para a criação de estratégias e ações em saúde que atendam a comunidade. Além disso, devem-se incluir aspectos étnico-culturais, as dificuldades presentes como o transporte e possíveis resistências da população, as questões de saneamento básico e higiene. Portanto, faz-se necessário sensibilizar os atores sociais para atuarem na atenção a saúde através da educação continuada, maior envolvimento nas questões dessas populações e a adoção de medidas de prevenção e promoção à saúde. Diante disso, este trabalho teve como objetivos: reconhecer as especificidades e as características das populações tradicionais; analisar o funcionamento da assistência à saúde dessas populações; conhecer as principais dificuldades de acessibilidade à saúde dessas regiões. Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência. Foi realizada uma visita técnica em agosto de 2017 à Estratégia de Saúde da Família (ESF) do arquipélago do Combú, que fica no município de Belém, no Estado do Pará. Foi possível conhecer e observar a estrutura física bem organizada, padronizada, com boas condições de iluminação, higiene; contando com a recepção e existência do arquivo; farmácia; sala para coleta do exame de PCCU; sala de pré-consulta; sala de imunização; sala de procedimentos; consultório de enfermagem; quatro consultórios médicos; sala de coleta; sala de esterilização; expurgo; consultório odontológico; sala de atividades coletivas; copa; banheiro masculino, feminino e para funcionários. Conta com um médico, uma enfermeira, cinco Agentes Comunitários de Saúde (ACS) para seis micro áreas, sendo a micro área número quatro descoberta; e um auxiliar de saúde bucal. Em conversa com uma das ACS, ela nos falou um pouco sobre as ilhas e o funcionamento dos serviços de Saúde. A área possui 184 famílias e 480 pessoas sendo, entre estas, 29 hipertensos, sete diabéticos, três gestantes e três com hanseníase; árvores em cima das casas dificultam a entrada do sol e consequentemente facilitam a umidificação do ambiente, facilitando a proliferação de organismos e transmissão aérea do agente causador da doença. Segundo a ACS a pobreza é muito grande nas ilhas e o não cumprimento das políticas públicas existentes dificulta os serviços de saúde. Ultimamente as famílias estão enfrentando dificuldades no acesso à ESF – bem como o serviço de visita domiciliar pelos ACS está suspenso temporariamente devido não ter condições adequadas de transporte (barco). A enfermeira nos relatou sobre os desafios enfrentados desde o início da criação da ESF. No começo as pessoas não entendiam o que era uma Estratégia de Saúde da Família e houve uma grande resistência da comunidade. Muitas famílias não deixavam os ACS entrarem em suas casas e as mulheres não gostavam de realizar o PCCU, pois não queriam se despir na frente de “estranhos”. Mas, através do compromisso, esforço e dedicação dos profissionais, foram realizadas várias conversas, atividades educativas e as mudanças foram ocorrendo aos poucos, em longo prazo. A enfermeira, assim como a ACS, também destacou a questão da pobreza nas ilhas. Alguns locais não contam com saneamento básico, a falta de higiene é bem notória e a utilização de água do rio sem tratamento ainda é rotina. Durante a conversa com a enfermeira, houve uma pequena contribuição do médico da ESF que nos falou um pouco da sua experiência e dos pontos já acima citados. Segundo a enfermeira e o médico o trabalho em equipe é uma das marcas da ESF. Todos os profissionais que compõem o serviço são valorizados; assim também como eles valorizam os saberes e práticas dos moradores sem impor qualquer tipo de situação, pois para eles seus conhecimentos não estão acima de nada e nem de ninguém, afinal o aprendizado e a troca de experiências entre os profissionais e a comunidade é muito relevante para uma assistência de qualidade, baseada na promoção e prevenção à saúde, bem como no respeito e dignidade. Relata ainda que atualmente a população está mais conscientizada do que nos primeiros anos; eles vão até a unidade para a realização de exames e consultas, participam das ações, o que para a equipe representa um progresso. Resultados e/ou impactos: Baseando-se no relato dos profissionais e observação da realidade da comunidade, levando em consideração suas especificidades como o ambiente, sua cultura, seus saberes e costumes, nota-se que devido a forma de habitação e a localização, os recursos necessários são mais escassos e as dificuldades são relativamente maiores quando comparadas aos serviços de saúde na população urbana. Além disso, o profissional precisa apresentar perfil e adequação para atuar nas comunidades, visando planejar estratégias que alcance a comunidade, reduzindo as desigualdades quanto à prevenção e tratamento de doenças, bem como a realização de ações de educação em saúde que objetivem sensibilizar esses atores sociais quanto à saúde, seus diretos e deveres desde as condições mais básica até as mais complexas, respeitando a autonomia e a cultura de cada um. Considerações finais: Logo, compreende-se que a saúde pública em populações ribeirinhas, precisa ser compreendida muito além da simples transposição das práticas em um território diferente, considerando a diversidade cultural e histórica que envolve essas comunidades. O conhecimento do cenário dinâmico das comunidades devem fazer parte do dia a dia da equipe de saúde local, tendo em vista as mudanças, tanto geográficas, quanto epidemiológicas, que acompanham o ritmo imposto pela natureza. O melhor acesso ao transporte possibilitaria o maior acesso à saúde de populações geograficamente isoladas e resolvendo, mesmo que parcialmente, o problema da fixação de profissionais de saúde nessas áreas. Portanto é de suma importância a persistência e a continuidade das ações e a inovação de estratégias que permitirá a construção e o acompanhamento de indicadores relacionados à saúde na área ribeirinha do Combú, e consequentemente a melhora dos indicadores sociais e de saúde dessa comunidade. Apesar dos inúmeros desafios que eles enfrentam por conta do não cumprimento das políticas públicas existentes, a prestação de uma assistência de qualidade não deixa de ser realizada. Mas é importante ressaltar que é necessário que o Estado se faça mais presente, pois mesmo com a melhoria já notada e relatada pelos profissionais, ainda há um grande índice de pobreza nas ilhas.


Palavras-chave


Populações tradicionais da Amazônia; Ribeirinhos; Serviços de saúde