Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2018-01-22
Resumo
Apresentação: As populações tradicionais são caracterizadas pelas suas especificidades, como seus hábitos de vida, meios de produção e reprodução social relacionada com o meio ambiente. Essas populações se diversificam em raças, etnias, povos, religiões, culturas, sistemas de trabalho e tecnologia, grupos sociais e econômicos, ecossistemas e de uma vasta biodiversidade. Considerando os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), a portaria nº 2.866 de 2011 instituiu a Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo e da Floresta (PNSIPCF), visando à promoção e prevenção á saúde dessas comunidades através de ações considerando suas especificidades, objetivando maior acesso aos serviços de saúde reduzindo agravos e risco e a melhora da qualidade de vida dessas populações. Essa política baseou-se nas desigualdades e necessidades que as populações tradicionais (ribeirinhos, quilombolas, indígenas, rurais e florestais) apresentavam quando comparadas as populações urbanas que possuem maior acessibilidade aos serviços de saúde. Logo, o enfermeiro (a) precisa compreender o processo saúde e doença dessas populações, considerando suas particularidades, reconhecendo os principais riscos e danos, quais as doenças mais comuns, relacionadas com o campo, floresta e os rios, quais são os principais focos de endemias e suas possíveis causas realizando o diagnóstico situacional, para a criação de estratégias e ações em saúde que atendam a comunidade. Além disso, devem-se incluir aspectos étnico-culturais, as dificuldades presentes como o transporte e possíveis resistências da população, as questões de saneamento básico e higiene. Portanto, faz-se necessário sensibilizar os atores sociais para atuarem na atenção a saúde através da educação continuada, maior envolvimento nas questões dessas populações e a adoção de medidas de prevenção e promoção à saúde. Diante disso, este trabalho teve como objetivos: reconhecer as especificidades e as características das populações tradicionais; analisar o funcionamento da assistência à saúde dessas populações; conhecer as principais dificuldades de acessibilidade à saúde dessas regiões. Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência. Foi realizada uma visita técnica em agosto de 2017 à Estratégia de Saúde da Família (ESF) do arquipélago do Combú, que fica no município de Belém, no Estado do Pará. Foi possível conhecer e observar a estrutura física bem organizada, padronizada, com boas condições de iluminação, higiene; contando com a recepção e existência do arquivo; farmácia; sala para coleta do exame de PCCU; sala de pré-consulta; sala de imunização; sala de procedimentos; consultório de enfermagem; quatro consultórios médicos; sala de coleta; sala de esterilização; expurgo; consultório odontológico; sala de atividades coletivas; copa; banheiro masculino, feminino e para funcionários. Conta com um médico, uma enfermeira, cinco Agentes Comunitários de Saúde (ACS) para seis micro áreas, sendo a micro área número quatro descoberta; e um auxiliar de saúde bucal. Em conversa com uma das ACS, ela nos falou um pouco sobre as ilhas e o funcionamento dos serviços de Saúde. A área possui 184 famílias e 480 pessoas sendo, entre estas, 29 hipertensos, sete diabéticos, três gestantes e três com hanseníase; árvores em cima das casas dificultam a entrada do sol e consequentemente facilitam a umidificação do ambiente, facilitando a proliferação de organismos e transmissão aérea do agente causador da doença. Segundo a ACS a pobreza é muito grande nas ilhas e o não cumprimento das políticas públicas existentes dificulta os serviços de saúde. Ultimamente as famílias estão enfrentando dificuldades no acesso à ESF – bem como o serviço de visita domiciliar pelos ACS está suspenso temporariamente devido não ter condições adequadas de transporte (barco). A enfermeira nos relatou sobre os desafios enfrentados desde o início da criação da ESF. No começo as pessoas não entendiam o que era uma Estratégia de Saúde da Família e houve uma grande resistência da comunidade. Muitas famílias não deixavam os ACS entrarem em suas casas e as mulheres não gostavam de realizar o PCCU, pois não queriam se despir na frente de “estranhos”. Mas, através do compromisso, esforço e dedicação dos profissionais, foram realizadas várias conversas, atividades educativas e as mudanças foram ocorrendo aos poucos, em longo prazo. A enfermeira, assim como a ACS, também destacou a questão da pobreza nas ilhas. Alguns locais não contam com saneamento básico, a falta de higiene é bem notória e a utilização de água do rio sem tratamento ainda é rotina. Durante a conversa com a enfermeira, houve uma pequena contribuição do médico da ESF que nos falou um pouco da sua experiência e dos pontos já acima citados. Segundo a enfermeira e o médico o trabalho em equipe é uma das marcas da ESF. Todos os profissionais que compõem o serviço são valorizados; assim também como eles valorizam os saberes e práticas dos moradores sem impor qualquer tipo de situação, pois para eles seus conhecimentos não estão acima de nada e nem de ninguém, afinal o aprendizado e a troca de experiências entre os profissionais e a comunidade é muito relevante para uma assistência de qualidade, baseada na promoção e prevenção à saúde, bem como no respeito e dignidade. Relata ainda que atualmente a população está mais conscientizada do que nos primeiros anos; eles vão até a unidade para a realização de exames e consultas, participam das ações, o que para a equipe representa um progresso. Resultados e/ou impactos: Baseando-se no relato dos profissionais e observação da realidade da comunidade, levando em consideração suas especificidades como o ambiente, sua cultura, seus saberes e costumes, nota-se que devido a forma de habitação e a localização, os recursos necessários são mais escassos e as dificuldades são relativamente maiores quando comparadas aos serviços de saúde na população urbana. Além disso, o profissional precisa apresentar perfil e adequação para atuar nas comunidades, visando planejar estratégias que alcance a comunidade, reduzindo as desigualdades quanto à prevenção e tratamento de doenças, bem como a realização de ações de educação em saúde que objetivem sensibilizar esses atores sociais quanto à saúde, seus diretos e deveres desde as condições mais básica até as mais complexas, respeitando a autonomia e a cultura de cada um. Considerações finais: Logo, compreende-se que a saúde pública em populações ribeirinhas, precisa ser compreendida muito além da simples transposição das práticas em um território diferente, considerando a diversidade cultural e histórica que envolve essas comunidades. O conhecimento do cenário dinâmico das comunidades devem fazer parte do dia a dia da equipe de saúde local, tendo em vista as mudanças, tanto geográficas, quanto epidemiológicas, que acompanham o ritmo imposto pela natureza. O melhor acesso ao transporte possibilitaria o maior acesso à saúde de populações geograficamente isoladas e resolvendo, mesmo que parcialmente, o problema da fixação de profissionais de saúde nessas áreas. Portanto é de suma importância a persistência e a continuidade das ações e a inovação de estratégias que permitirá a construção e o acompanhamento de indicadores relacionados à saúde na área ribeirinha do Combú, e consequentemente a melhora dos indicadores sociais e de saúde dessa comunidade. Apesar dos inúmeros desafios que eles enfrentam por conta do não cumprimento das políticas públicas existentes, a prestação de uma assistência de qualidade não deixa de ser realizada. Mas é importante ressaltar que é necessário que o Estado se faça mais presente, pois mesmo com a melhoria já notada e relatada pelos profissionais, ainda há um grande índice de pobreza nas ilhas.