Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Prazer e Sofrimento no Trabalho: um estudo com enfermeiros da atenção básica de um município da região centro-oeste de Minas Gerais
Bruno Alvarenga Ribeiro, Silvia Sidnéia da Silva

Última alteração: 2017-12-09

Resumo


Apresentação

 

O sofrimento no trabalho do enfermeiro vem sendo objeto de diversas investigações. Esta temática vem chamando a atenção dos pesquisadores porque revela que o sofrimento é parte do cotidiano destes profissionais, responsáveis pelo cuidado no campo da saúde.

Deste modo, é necessário que se realizem estudos que esclareçam a relação entre trabalho e sofrimento apontando, frente às vivências profissionais, para as condições precárias de trabalho na saúde pública como um conjunto de fatores que comparecem como fontes potenciais de sofrimento, que resultam, provavelmente, do processo de desmonte dos direitos sociais.

Por outro lado, o trabalho também pode proporcionar prazer que, muitas vezes, está associado ao reconhecimento do trabalho do enfermeiro por parte dos pacientes e da possibilidade de poder ajudá-los. Desta forma, pesquisas sobre o prazer e sofrimento no trabalho podem ajudar a fortalecer a categoria profissional, além, de muni-la com as ferramentas para lutar por melhores condições de trabalho.

Portanto, o presente estudo, produto de uma dissertação de mestrado em andamento, tem como objetivo apresentar as situações causadoras de prazer e sofrimento no trabalho do enfermeiro que atua na atenção básica do município de Formiga/MG. Acredita-se que o conhecimento das condições geradoras de sofrimento e prazer no trabalho pode subsidiar intervenções que levem os enfermeiros a transformarem o seu próprio trabalho, o que resultaria, consequentemente, em maior empoderamento desses profissionais.

 

Desenvolvimento do Trabalho


Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa e de caráter descritivo-exploratório. Algo de peculiar no objeto de estudo torna a pesquisa qualitativa um meio elegível para a abordagem do problema, de forma que sua utilização ajuda a desnudar as nuances das redes de determinação em que este objeto está inserido. Neste caso, trata-se da compreensão de como prazer e sofrimento se articulam através dos modos como os enfermeiros, que atuam na atenção básica do município de Formiga/MG, expressam suas subjetividades no contexto do trabalho.

A população que compõe a investigação é formada por dezoito enfermeiros que gerenciam as unidades da Estratégia de Saúde da Família (ESFs) no município de Formiga/MG. A coleta dos dados foi feita mediante a utilização de um roteiro de entrevista semiestruturada, composto por dois momentos: perguntas fechadas para a caracterização dos perfis dos entrevistados e perguntas abertas direcionadas ao levantamento de informações sobre o cotidiano do trabalho dos enfermeiros que trabalham nas ESFs de Formiga/MG. Por fim, é importante registrar que a pesquisa foi autorizada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Ribeirão Preto/SP (UNAERP), sob o parecer número 2.294.497.

Este estudo discorre sobre dados fornecidos por 08 enfermeiros que atuam nas ESFs, já entrevistados, que constituem a amostra. Os dados foram analisados à luz da análise do discurso, utilizando, a análise temática pautada no modelo aberto, em que as categorias de análise tomam forma durante a realização do estudo.

 

Resultados e/ou Impactos

 

A média de idade dos entrevistados é de aproximadamente 38 anos com um desvio padrão de 3,94. O tempo médio de formação é de 12 anos com desvio padrão de 3,20. Dos oito profissionais entrevistados, 75% trabalham como enfermeiro há mais de nove anos; 12,5% entre 7 a 9 anos e outros 12,5% enfermeiros entre 3 a 5 anos. A informação sobre o tempo de atuação na atenção básica se aproxima do tempo de atuação como enfermeiro sendo que 75% deles atauam na atenção básica há mais de 9 anos, o que nos permite inferir que a maioria concluiu a graduação e logo ingressou na saúde pública por meio de concurso público, pois 75% deles são concursados; 25% são contratados via processo seletivo, sendo que 12,5% corresponde à faixa entre 7 e 9 anos e os outros 12,5% entre 1 e 3 anos.

É interessante notar que 100% dos profissionais entrevistados trabalham privativamente na atenção básica, portanto, não possuem outros vínculos empregatícios. A exclusividade ajuda a entender a última reformulação da Política Nacional da Atenção Básica (PNAB) que estabelece como obrigatoriedade a contratação de enfermeiros assistenciais e gerenciais para a coordenação das ESFs. Outras categorias profissionais, como médicos e dentistas, costumam ter outros vínculos profissionais para além da carreira no serviço público. O enfermeiro, profissional que normalmente cumpre uma jornada de 08 horas diárias de trabalho na atenção básica, mantém com o trabalho uma relação de singularidade, e, por isso, as mudanças na PNAB incluíram manter o profissional da Enfermagem como gerente das ESFs, dividindo, a partir de então, a Enfermagem Assistencial da Enfermagem Gerencial.

Chama atenção, esse momento de coleta de dados, as condições de precarização do trabalho, que se expressam pela falta de materiais, de insumos, pela ausência de manutenção física dos prédios e pela formação de equipes com a quantidade mínima de profissionais, que comparecem, portanto, como as situações que frequentemente estão associadas às experiências de sofrimento no trabalho. Diante dessas condições, o sentimento de impotência é muito comum, pois o profissional é privado da possibilidade de colocar em prática a assistência em saúde.

Mas, há que se salientar que o trabalho não é apenas sofrimento. Mesmo em meio à precariedade os enfermeiros conseguem ressignificar de tal modo o trabalho, que ele também proporciona experiências de prazer. São fontes de prazer no trabalho o sentimento de dever cumprido, que se concretiza no sentimento resultante do atendimento às demandas dos usuários e o reconhecimento apresentados por eles, mediante a resolução e/ou minimização dos seus problemas.

 

Considerações Finais


O avanço da agenda neoliberal e a consequente consolidação do processo de desmonte dos direitos sociais vem resultando na precarização das políticas sociais. A saúde pública está incluída neste processo e vem sendo atingida em todos os seus níveis de complexidade, onde inclui-se a atenção básica. Deste modo, a fragilização da atenção básica se constitui como um dos maiores obstáculos para os profissionais que atuam neste nível de complexidade.

Para o enfermeiro, que atua com a assistência em saúde e também no gerenciamento das ESFs, estes obstáculos se transformam em situações causadoras de sofrimento. No entanto, as experiências de sofrimento são equilibradas pelas experiências de prazer, que geralmente estão associadas ao atendimento das demandas dos usuários. Neste sentido, o atendimento ao usuário é marcado por uma relação dialética. Por um lado, a precarização da atenção básica dificulta a sua realização, por outro, quando ele é realizado, acaba proporcionando aos profissionais, experiências que levam à realização emocional e profissional.

Portanto, prazer e sofrimento são experiências que fazem parte do trabalho do enfermeiro da atenção básica no município onde se realiza a pesquisa. Conhecer os seus determinantes é fundamental, pois pode contribuir na busca por estratégias de empoderamento da categoria profissional dos enfermeiros, subsidiando, ainda, intervenções que tenham condições de produzir mudanças no processo de trabalho.

 

 

 


Palavras-chave


Enfermeiros de Saúde da Família; Prazer no Trabalho; Sofrimento no Trabalho