Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Comunicação Popular e Comunitária como estratégia de participação social e formação midiática na Ocupação Flores do Campo
Stela Mari dos Santos, Gabriel Pansardi Ruiz, Gabriel Pinheiro Elias, Maira Sayuri Sakay Bortoletto

Última alteração: 2018-01-25

Resumo


Apresentação

A Ocupação Flores do Campo situa-se em Londrina (PR) desde o dia 01 de outubro de 2016, quando a população local ocupou um terreno com obras inacabadas do residencial Flores do Campo, um empreendimento do programa Minha Casa, Minha Vida. Percebendo uma imagem negativa da Ocupação na imprensa local, militantes que integram o Observatório Microvetorial de Politicas Públicas em Saúde e Educação em Saúde da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e a célula local da Consulta Popular, em conjunto com os moradores de moradoras do terreno ocupado começam a desenvolver oficinas semanais de comunicação. A Comunicação Popular e Comunitária constitui-se muitas vezes como uma forma efetiva de produzir conteúdos e informações de maneira diversa às que circulam nos ditos veículos de massa tradicionais, sendo por natureza uma comunicação de resistência.


Desenvolvimento

Chegamos a Ocupação Flores do campo participando de reuniões com líderes que apresentam vários pedidos e entre um deles um que se apresenta possível de ser construído conjuntamente entre nós e eles e para eles. Tal pedido era de contrapor a imagem construída pelos veículos da mídia hegemônicos que apresentava a ocupação como um espaço de criminalidade e violência, conjuntamente a essa imagem a desqualificação dos seus ocupantes. O desejo apresentado por eles era que de alguma forma construíssemos juntos uma estratégia de comunicação que pudesse construir um diálogo com a sociedade externa à ocupação com intuito de passar uma imagem diferente àquela dada pela grande mídia. A proposta do que seria desenvolvido foi construída coletivamente entre os moradores e nos reconhecidos por eles como apoiadores. Essa negociação se deu num espaço que ocorria todas as terças feiras denominado reuniões de coordenação dos moradores. Nesse espaço estavam representados coordenadores de diversas frentes da ocupação do Flores. Havia o pedido dos moradores já mencionado anteriormente no entanto o como isso seria realizado foi dado a abertura para esse grupo de apoiadores inventar. E aqui relataremos como se deu a escolha do caminho para realização das oficinas e como de fato elas ocorreram. Após a aposta do coletivo Flores do Campo de construirmos uma narrativa diferente a de criminalidade dada pelos veículos de comunicação hegemônicos, o coletivo de apoiadores se propôs a realizar encontros de planejamento das oficinas na abordagem da comunicação popular e comunitária. Foi pensado um cronograma, ações de divulgação interna no Flores do Campos além de captação de recursos tecnológicos para a realização das oficinas que acabou sendo denominada como Oficinas de Comunicação ou Curso de Comunicação.


Resultados e Impactos:

As oficinas ocorreram no entre julho e novembro de 2017 e se utilizaram de conceitos sobre comunicação popular e comunitária com o objetivo de: a) estimular a participação social; b) produzir uma leitura crítica da mídia de forma coletiva a partir de matérias sobre a própria Ocupação; e c) desenvolver um canal midiático (produto) que representasse os moradores de acordo com seus próprios olhares e ao mesmo tempo cumprisse a função de informar a sociedade londrinense sobre as atividades e reivindicações da Ocupação. Para o desenvolvimento das primeiras oficinas foram apresentados vídeos sobre o tema da moradia urbana no Brasil e sobre o tema da concentração de mídia no país. Também foi proposto trabalhos coletivos de produção de conteúdo em vídeo, foto e texto, principalmente. Foi importante perceber, nesse processo inicial, o quão grande era o desejo dos ocupantes em contrapor a imagem negativa da mídia hegemônica em relação aos moradores do Flores do Campo e ao mesmo tempo perceber as dificuldades deles em diversas questões (operacionais e de elaboração de conteúdo). Após pelo menos sete oficinas foi possível realizar uma discussão ampla sobre o funcionamento dos veículos de comunicação hegemônicos de Londrina e em geral instigando a percepção dos moradores para a compreender dentro de qual lógica eles operam (sistema capitalista); houve a criação de uma página da Ocupação Flores do Campo na rede social Facebook (https://www.facebook.com/OcupaFloresDoCampo/?ref=bookmarks) e um canal de vídeos no YouTube (https://www.youtube.com/channel/UC2Y0afevZprPXi05zA9Kvhw); a produção coletiva de conteúdo, entre moradores e apoiadores militantes, para alimentar a rede social com conteúdo. Essa produção coletiva de conteúdo foi uma das partes viscerais para a construção de autonomia dos moradores em serem protagonistas dessas duas plataformas digitais construídas coletivamente. Havia muita dificuldade em como e ao que publicar em ambas páginas, os exercícios em ato de produção de conteúdo durante as oficinas foi uma prática que fez os moradores se perceberem capazes e confiantes em assumirem cada vez mais o protagonismo, mesmo que em algumas situações pedissem apoio aos membros das oficinas. O acesso a internet que inicialmente imaginávamos ser um problema para o alcance da alimentação de conteúdo pelos moradores em ambas as plataformas digitais,  não foi o grande impeditivo, percebemos que de alguma forma os moradores, apesar das diversas dificuldades, buscam meios de acessar a internet. A página do Facebook se tornou o principal canal de comunicação externo com a sociedade local, tanto na divulgação de informações oficiais, na cobertura de atividades da comunidade, bem como no contato com pessoas externas que se comunicam por meio da ferramenta criada. Por fim, a Ocupação passou a falar por si, a divulgar informações de ações que ocorriam, denunciar ataques da polícia, questionar a imprensa local e a manifestar-se acerca de temas que fazia menção a Ocupação.


Considerações Finais

Ainda que a Página criada tenha funcionado em momentos importantes para a Ocupação Flores do Campo, como diante de notícias sobre possível reintegração de posse e empreitadas da Polícia Militar, existe um desafio de os moradores de moradoras participarem de maneira mais proativa e autônoma. Tanto na produção como na publicação de conteúdos na Página do Facebook. Quanto ao fluxo comunicacional de inclusão individual e comunitária, bem como as possibilidades em relação à capacidade de produção, criação e difusão de processos ou conteúdos, sejam elas autônomas ou comunitaristas no ambiente da internet e das redes sociais, evidencia-se como promissor e potente. Mas não deve se limitar em si mesmo, tampouco se desvencilhar da mobilização e da manutenção das lutas presenciais em suas variadas formas de organização e temas.


Palavras-chave


Comunicação; Cartografia; Participação Popular