Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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EDUCAÇÃO PERMANENTE NO CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL: UMA OPÇÃO POLÍTICO- PEDAGÓGICA EM CONSTRUÇÃO
Francisca Fatima Santos Freire, Annatália Meneses Amorim Gomes, Cosmo Hélder Ferreira da Silva, Vânia Barbosa Nascimento, Antonio Germane Alves Pinto, Ana Linhares Pinto, Francisca Bertilia Chaves Costa

Última alteração: 2018-01-22

Resumo


O presente trabalho é fruto da dissertação de mestrado intitulada “Educação Permanente no Centro de Atenção Psicossocial: Uma opção político- pedagógica em construção”. O cuidado em saúde mental, com foco na integralidade na atenção psicossocial, há algum tempo tem levado esta pesquisadora a profundas reflexões e inquietações, tornando-se motivação para o presente estudo. Defende-se que a EPS é uma poderosa estratégia para o desenvolvimento das ações de educação em saúde no âmbito do SUS. Pela experiência profissional no cotidiano do CAPS, identificou-se um espaço fecundo para a educação permanente, pois esta temática pouco era pensada ou considerada nos discursos dos trabalhadores e gestores. Objetivou-se analisar a EPS e sua relação com o desenvolvimento da integralidade do cuidado no Centro de Atenção Psicossocial, sob a perspectiva dos trabalhadores. Trata-se de uma pesquisa descritiva e analítica de abordagem qualitativa. O cenário eleito foi o CAPS de Crateús-CE. Portanto é necessário descrever-se algumas peculiaridades que caracterizam essa locorregião e determinam as relações sociais e econômicas e, consequentemente, as condições de saúde dos usuários do SUS. O município de Crateús está localizado no Centro-Oeste, trezentos e cinquenta e três quilômetros (353 km) da capital Cearense, com população de 74.271 habitantes. É uma cidade pólo que compõe a 15ª Célula Regional de Saúde (CRES), com população predominantemente rural e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,644. É a décima terceira cidade mais populosa do estado do Ceará. O Centro de Atenção Psicossocial Dr. Abdoral Machado, está localizado à Rua Auton Aragão, S/N, bairro São Vicente, foi inaugurado em 1996 e reinaugurado com o perfil de ambiência, contemplado em 2011. Está inserido na modalidade CPAS I. O público alvo são os usuários da 15ª CRES, com média de 4.200 (Quatro mil e duzentos) usuários cadastrados e uma equipe multiprofissional para o atendimento, sendo referência para onze municípios. A coleta de dados foi realizada no período de Dezembro/2015 a Janeiro/ 2016. Optou-se pelo uso da entrevista semiestruturada. Os participantes da pesquisa foram os integrantes da equipe multiprofissional, totalizando 18 trabalhadores de saúde (profissionais de nível superior, médio e os residentes em Saúde Mental). Foram respeitados os princípios éticos recomendados pela resolução 466/ 12 do CONEP (Comissão Nacional de Ética na Pesquisa). Os dados obtidos foram analisados e interpretados utilizando-se o método de análise temática e categorização das falas. Todas as informações foram consolidadas mediante as atividades realizadas e registradas no diário de campo. Foram elaboradas as seguintes categorias: Concepções e ações de EPS no CAPS; Humanização e Integralidade do cuidado, redesenhando a história; e Os Desafios e possibilidades da EPS no CAPS. O presente estudo contou com a participação de 18 (dezoito) profissionais de saúde, sendo que 61,11% eram profissionais do sexo feminino e 38,89% do sexo masculino. A idade dos profissionais variou entre 25 a 56 anos, predominantemente adulta. Quanto à escolaridade, essa está associada à função que o profissional exerce na equipe do CAPS. Os dados apontam que 55,56% dos profissionais possuem nível superior, 44,44% representam o ensino médio, e salienta-se que, no período da coleta dos dados, alguns profissionais expuseram que estavam ingressando em cursos de nível superior. Indagou-se sobre o tempo de atuação na instituição e encontrou-se o seguinte: 40% estão na instituição há mais de 03 anos, 20% entre 04 a 05 anos e 10% há mais de 05 anos. Quanto à qualificação profissional para suporte na atuação no cenário da atenção psicossocial, conforme os dados encontrados, apenas 3% dos profissionais sinalizaram participação em curso introdutório para atuação na Atenção Psicossocial e 97% relataram que não conheciam a rotina do CAPS, pois pertenciam a outros serviços de saúde e, por necessidades administrativas, foram lotados no CAPS. Em relação à Educação Permanente na Atenção Psicossocial no município de Crateús, considera-se com base nos achados dessa pesquisa que essa se iniciou em 2010, conforme o Plano Municipal de Saúde; porém, os registros nos livros de ata e arquivos datam de 03/2011, quando aconteceu o primeiro fórum sobre a temática no Centro de Atenção Psicossocial.  Buscou-se elucidar das falas, os sentimentos, vivências e experiências construídas no cenário dos trabalhadores sobre as concepções e ações de educação permanente no CAPS, evidenciando a necessidade de maiores investimentos na área. Observou-se que a EPS está se desenhando pela vertente política e crítica dos profissionais e houve convergência entre os participantes do estudo, que consideraram ser educação permanente uma política importante, que promove a reflexão crítica, ao mesmo tempo em que divergiram de sua aplicação, ao se referirem às práticas continuadas na residência multiprofissional em saúde coletiva, ensejando que a saúde mental “precisa sair do papel”. Quanto às ações de educação permanente no CAPS, a participação dos trabalhadores na análise dos processos de trabalho, de acordo com a proposta do quadrilátero da EPS, é avaliada pelos participantes de forma divergente desde a periodicidade dos eventos de educação permanente e a relevância dos temas abordados para a aplicação no cenário profissional. Sabe-se que a Educação Permanente em Saúde já acontece na instituição; porém, a equipe precisa apoderar-se da grandeza dessa estratégia, como instrumento de fortalecimento do trabalhador e mobilização para a efetivação da Política Nacional de Humanização. Urge que a compreensão da política da EPS seja prioridade no plano de governo municipal, pois essa é poderosa estratégia para a melhoria do serviço e da qualidade da atenção e, para tanto, precisa-se tanto do planejamento articulado pela equipe como do seu protagonismo. Dos dados colhidos e apreciados, identificam-se o entusiasmo, carinho e otimismo pela saúde mental. A subjetividade é exaurida através de suas falas, não negando o sentimento de impotência e angústia pelos desafios experimentados no cotidiano e das limitações da rede de assistência em saúde mental. Portanto, as falas indicam que a Política de Educação Permanente em Saúde (EPS) tem elementos para aprimorar o processo de trabalho, uma vez que a formação sugerida parte das necessidades sentidas pelos sujeitos. Assim, partindo das considerações teóricas expressas e com o propósito de explicitar o pressuposto que motivou a pesquisa, evidencia-se a ressignificação das práticas da EPS no CAPS de Crateús, produzindo novos conceitos e ações e exercendo, assim, o papel político e pedagógico em construção.

Palavras-chave


Humanização da assistência. Integralidade em saúde. Educação Permanente em Saúde. Centro de Atenção Psicossocial.