Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Estágio Rural em Saúde Coletiva: um relato de experiência da vivência em uma comunidade ribeirinha do município de Parintins, AM
Frandison Gean Souza Soares

Última alteração: 2018-01-26

Resumo


Introdução

Após passados mais de 20 anos da criação do Sistema Único de Saúde (SUS) com seu caráter de universalidade, integralidade e equidade, com seus avanços e melhorias no atendimento e na cobertura dos três níveis de atenção, o sistema ainda enfrenta um grande desafio em atender todas as necessidades de saúde da população. A região Amazônica, mais precisamente o estado do Amazonas é uma das áreas do Brasil que mais sofre com esse problema, isso devido sua caracterização geográfica, marcada por uma grande extensão de floresta tropical e uma densidade populacional com pouco mais de 2 habitantes/km2. O estado possui 62 municípios e em 2010, no último censo, a população era de 3.483.985 habitantes, dos quais 74,2% viviam em zonas urbanas e 25,8% moravam em áreas rurais. Grande parte da população dos municípios do interior do Amazonas mora em comunidades ribeirinhas, à margem dos principais rios e seus afluentes, onde o acesso à informação, saneamento básico e aos serviços de saúde é precário. Assim, esses indivíduos fazem o uso da água dos rios como fonte primária para consumo doméstico e outros fins. A água do rio Amazonas/Solimões, em sua maior extensão é poluída com altas concentrações de sedimentos e uma faixa de pH que varia de 5,0 a 7,2. Isso colabora para o surgimento de doenças e agravos que muitas vezes não chegam aos centros de saúde para manejo correto, e, consequentemente, evoluem para complicações drásticas futuras. As doenças parasitárias intestinais são as mais comuns encontradas. O Estágio Rural em Saúde Coletiva (ERSC) da Universidade do Estado do Amazonas iniciou suas atividades em 2006, e é uma disciplina multidisciplinar que oferece estágio aos acadêmicos dos cursos de Enfermagem, Medicina e Odontologia nos municípios do interior do estado do Amazonas, durante 45 dias. Ao longo dos anos, o ERSC ganhou espaço em Parintins em parceria com a prefeitura municipal, e se expandiu alcançando as comunidades da zona rural do município (comunidades ribeirinhas).

 

Objetivos

Descrever a experiência vivenciada na comunidade ribeirinha Santo Antônio do Tracajá, no município de Parintins, AM. Identificar o conhecimento dos indivíduos sobre as infecções parasitárias intestinais.

 

Metodologia

Trata-se de um estudo descrito, do tipo relato de experiência, vivenciado no Estágio Rural em Saúde Coletiva da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) em uma comunidade ribeirinha do município de Parintins, no mês de setembro de 2017. A Comunidade Santo Antônio do Tracajá está localizada na margem do rio Uaicurapá (afluente do rio Amazonas), a 50 minutos de lancha da cidade de Parintins. Possui uma média de 250 habitantes, divididos em 45 famílias. O público participante total foi 21 indivíduos que aguardavam consulta de enfermagem em uma escola (local improvisado para atendimento) na referida comunidade. Os atendimentos foram realizados de forma prioritária iniciando pelos idosos e crianças e logo após, adultos jovens. Perdurou de 9:00 às 13:00 horas e foi realizado pelo enfermeiro funcionário do município e um estagiário da UEA. No momento, foram realizadas as consultas, abordando suas queixas, históricos, hábitos de vida, educação e lazer. Após a identificação da queixa principal, foi realizado orientação específica do caso, sanando todos as dúvidas que surgiram. Após estabelecidos os possíveis diagnósticos, foram prescritos tratamentos (medicações e cuidados) conforme protocolos da Atenção Básica preconizados pelo Ministério da Saúde com a tentativa de resolução dos casos. Foi enfatizado a importância da busca por atendimento de saúde periodicamente e após o término do uso das medicações para avaliar a eficácia do tratamento prescrito.

 

Resultados

Através dos achados, pode-se constatar que informação, de fato, nunca é demais. Apesar da variação na faixa etária dos indivíduos atendidos (1 ano e 2 meses a 62 anos), as queixas, dúvidas, crenças e hábitos se mostraram semelhantes. Entre as principais queixas, as mais comuns foram: “Dor na barriga”, “Dor no músculo”, “Diarreia”, “Perda de peso”, “Pintas na pele” (manchas na pele) e “Palidez”. Em relação às queixas de dor, a causa foi mais comumente atribuída às atividades de agricultura presente na comunidade, onde os indivíduos necessitam usar força bruta para executar muitas dessas atividades e muitas vezes acabam causando desgaste físico. Porém, o que mais chamou a atenção foi a presença das queixas, sinais e sintomas, além de exames complementares confirmando o diagnóstico de doenças parasitárias intestinais. Dos 21 atendimentos, entre os demais casos, as doenças parasitárias intestinais em geral estavam presentes em 10 indivíduos (47,6%). Essa conclusão diagnóstica foi realizada juntamente com o médico que atendia no local, avaliando os sinais e sintomas relatados pelos pacientes, além da entrega de exames complementares que confirmaram a presença de parasitas intestinais. Quando questionados sobre seus hábitos de higiene e alimentação, os pacientes relataram alimentar-se mais comumente de peixes, e poucas vezes, carne, e a água utilizada em algumas vezes era a do rio com o uso de esporádico de hipoclorito de sódio e poucos deles utilizavam alúmen de potássio (pedra hume) para limpeza da água utilizada. Quando questionados sobre o conhecimento das medidas corretas utilizadas para evitar a infecção por parasitas intestinais, apenas dois pacientes relataram as medicas corretas ou se aproximaram delas. O restante não arriscou nenhuma hipótese. Foi prescrito o tratamento da doença de acordo com os protocolos da Atenção Básica, além de serem feitas orientações em relação ao tratamento da água de acordo com a situação de cada indivíduo, limpeza e consumo de frutas e outros alimentos ao serem ingeridos.

 

Considerações Finais

Diante do exposto, é evidente perceber a precariedade da saúde da população ribeirinha da referida comunidade. Percebeu-se que o conhecimento da população da comunidade é insuficiente para desempenhar medidas eficazes de autocuidado. Os resultados foram impactantes principalmente para o acadêmico/estagiário por estar acostumado em atender na capital Manaus, onde as questões de saúde são mais facilmente resolvidas e as queixas que embasam um diagnóstico de parasitoses intestinais não mais infrequentes nos três níveis de atenção. Há a necessidade de maior intervenção em ações de educação em saúde para essa população não apenas do município de Parintins, mas de todos os municípios do interior do estado, já que é a oferta de saneamento básica que consiga fazer a cobertura da população ribeirinha parece estar longe de ser alcançada. A água não tratada, a falta de saneamento e a higiene inadequada são contribuintes significativos para a propagação de doenças parasitárias, diarreicas e outras do Amazonas que eventualmente podem resultar em morte. A perpetuação do ciclo de transmissão de doenças parasitárias intestinais principalmente transmitidas pela água é fortemente facilitada pelas condições ambientais da região amazônica. A qualidade da água, seja usada para beber, fins domésticos, produção de alimentos ou fins recreativos, tem um impacto importante na saúde. As iniciativas para gerenciar a segurança da água não só apoiam a saúde pública, mas também promovem o desenvolvimento socioeconômico e o bem-estar. Neste contexto, é urgente concentrar a atenção na obtenção de saneamento não só na comunidade em questão, mas no estado.


Palavras-chave


Doenças parasitárias; Consumo doméstico de água; Amazonas