Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A dificuldade do acesso ao serviço de saúde do SUS: um relato de experiência
Frandison Gean Souza Soares, Ananda Motta Cavalcante, Rangele Nunes Valente, Graciane Fábio da Silva, Gécica do Socorro Pereira dos Santos, Mylena Caroline Farias de Paula

Última alteração: 2018-01-26

Resumo


Introdução: O Sistema Único de Saúde (SUS) composto por três níveis de atenção, a primária, secundária e terciária de modo a proporcionar assistência desde os problemas básicos até os mais complexos agravos de saúde, atualmente, é o sistema de saúde vigente no Brasil e o mais conhecido no mundo todo. A atenção básica (primária) por sua vez, fica encarregada de realizar assistência em todos os aspectos que interferem no processo saúde-doença, sendo eles promoção e proteção da saúde, prevenção de doenças, diagnóstico, tratamento, reabilitação e redução de danos. Nesse sentido, o SUS deve, obrigatoriamente, funcionar como uma rede integrada, de forma que o indivíduo possa dispor de atendimento nos três graus de atenção sem que haja interrupção no seu acompanhamento. No entanto, desde a sua criação, com a ampliação dos serviços, avanço tecnológico e aumento na demanda de profissionais, o acesso aos serviços de saúde ainda é um desafio a ser vencido. Para alguns autores, o acesso aos serviços de saúde depende de dois determinantes principais, o primeiro seria a disposição do usuário à procura pelos serviços, o que depende basicamente de suas crenças, estruturas sociais e perfil demográfico, e o segundo seria a presença ou ausência de fatores que permitem ou impedem o acesso, como exemplo, podem ser citados a distância dos centros de saúde, questões de renda e seguro de saúde, e por fim, não menos importante, o tempo de espera e a disponibilidade desses serviços. Este último é o que mais se percebe nos dias atuas como um fator contribuinte para a aquisição de complicações de saúde da população agregadas às questões de autocuidado dos indivíduos. Apesar da evidência, é importante destacar que, como consequência desse problema, o índice de morbimortalidade aumenta gradativamente pela demora ao atendimento. Objetivo: Relatar a experiência vivenciada no que se refere à referência e contra-referência dentro do atendimento na atenção primária à saúde. Metodologia: Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência realizado no estágio curricular supervisionado I em enfermagem no módulo de Enfermagem no Processo de Cuidar da Saúde da Família e da Coletividade da Universidade do Estado do Amazonas na Unidade Básica de Saúde (UBS) Leonor de Freitas. A paciente estudada deu entrada na referida UBS para realizar consulta subsequente de pré-natal, se encontrava com 36 semanas de gestação, queixando-se de corrimento e prurido vaginal intensos, disúria e “sensação de queimadura na vagina” (SIC). Esta foi submetida ao exame ginecológico, utilizando espéculo para visualização da vagina. As paredes da vagina apresentavam bastante hiperemia, corrimento branco e espesso, em grande quantidade, além da presença de verrugas genitais na parede posterior. Posteriormente deu-se continuidade a consulta, onde foram realizadas orientações e sanados questionamentos feitos pela paciente. Em seguida, foi prescrito tratamento farmacológico de uso tópico para o corrimento vaginal, já que se tratava de gestante. Pelo fato de a vagina ser uma região sensível, estar hiperemiada e a paciente grávida, resolveu-se encaminhar a mesma para uma unidade especializada em Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) para tratar as verrugas genitais. Foi preenchida a ficha de encaminhamento, entregue a gestante e a mesma orientada a procurar a unidade a designada o mais precocemente possível, e após atendimento, retornar a UBS. Resultado: Essa vivência nos permitiu comprovar o quanto o sistema de saúde ainda é ofertado de forma fragmentada aos usuários. O serviço de contra-referência que deveria facilitar e dar agilidade ao serviço não tem sido oferecido de forma eficiente como se espera e nem resultando em um atendimento resolutivo ao paciente. A paciente em questão, que foi encaminhada a buscar atendimento especializado em outra unidade de referência na assistência, não conseguiu ter seu problema de saúde solucionado, mesmo com encaminhamento da UBS. Resultou em várias idas à procura do serviço, enfrentando filas, se expondo a riscos e desgastes que podem ser prejudiciais, principalmente nas semanas finais da gestação. Após ir à unidade a qual foi referenciada, e não conseguir ser atendida, a mesma retornou a UBS para informar os problemas enfrentados, assim como as suas frustrações e indignação quanto à falta de atendimento. Diante do que foi exposto pela paciente, a enfermeira da UBS a qual realizou o atendimento juntamente conosco compartilhou com a direção para que a mesma tentasse dialogar com a Unidade referenciada e assim tentar solucionar o problema da paciente. Não conseguimos acompanhar o desfecho do atendimento, devido ao término do estágio, mas foi possível perceber que existem falhas no serviço como um todo, porém observou-se o comprometimento da equipe da UBS Leonor de Freitas em tentar solucionar o problema da paciente. Considerações Finais: Esse resultado caracteriza um desrespeito ao princípio da integralidade das ações em saúde, previsto pelo SUS. Para respeitar os princípios defendidos pelo SUS – universalidade, integralidade e equidade – é preciso enfatizar o trabalho em equipe e englobar um conjunto de ações de caráter individual e coletivo, que envolvem promoção da saúde, prevenção de doenças, diagnóstico, tratamento e reabilitação. A integralidade tem um conceito amplo, que provoca a organização de novos serviços de saúde, e a revisão das atividades sanitárias e dos processos de trabalho, de modo que o atendimento integral prefira as atividades preventivas, sem negligenciar, no entanto, os serviços assistenciais. Na prática, verifica-se que o usuário do SUS depara-se com dificuldade de acesso aos serviços de referência e contra-referência para a realização de consultas e exames. Essa dificuldade de acesso aos serviços gera uma demora à assistência à saúde, fato que pode comprometer o diagnóstico, tratamento e reabilitação das doenças sob suspeita, contrariando o modelo de vigilância em saúde. Ademais, a dificuldade de acesso aos serviços de saúde, principalmente no que diz respeito à média e alta complexidade compromete a integralidade da atenção. De certo modo, a variedade de setores, atrapalha o trabalho de percepção de todos os funcionários envolvidos na assistência à saúde quanto à importância da contra-referência para a atenção primária à saúde - APS. Em virtude dos fatos mencionados os resultados demonstraram que a contra-referência não tem acontecido como preconizado e que isso fere o princípio de integralidade do Sistema Único de Saúde. Lamentavelmente não conseguimos acompanhar o desfecho desse atendimento, devido ao término do estágio.


Palavras-chave


Acesso aos Serviços de Saúde; Sistema Único de Saúde; Gravidez