Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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EDUCAÇÃO EM SAÚDE BUCAL COMO ESTRATÉGIA DE ENFRENTAMENTO À NEGLIGÊNCIA ODONTOLÓGICA SOFRIDA POR CRIANÇAS E ADOLESCENTES ATENDIDAS EM BELÉM, PARÁ.
Glória Beatriz dos Santos Larêdo, Liliane Silva do Nascimento, Kelly Lene Lopes Calderaro Euclides, Jéssica Miranda da Silva, Antônia Taiane Lopes de Moraes, Fernanda de Oliveira Costa, Jakeline Costa Magno, Anna Victória Costa Serique

Última alteração: 2017-12-09

Resumo


Apresentação: A violência contra criança e o adolescente constitui-se grave problema a vida humana, atingindo proporções que extrapolam as esferas individuais e familiares, tornando-se também uma questão de saúde pública à medida que, quando cometida na infância, impacta negativamente o desenvolvimento, gerando danos que podem repercutir por toda vida. A OMS classifica em quatro tipos a violência contra criança: abuso físico, sexual, emocional/psicológico ou negligência. De acordo com um estudo feito por Nunes e colaboradores em 2016 sobre o cenário brasileiro da violência infantojuvenil, temos que a Negligência foi a forma de violência predominante em 50% dos casos registrados, seguida pela violência física, 33,3% sendo que o principal agressor era pertencente ao núcleo familiar da criança/adolescente, 75% dos casos. Tendo em vista a emergência em se combater qualquer abuso cometido contra criança e o adolescente, no Brasil, na década de 90, criou-se a Lei nº 8.069 intitulada  “Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que assim dispõe no art. 4º “É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.” Compreende-se que a negligência é uma forma de maus tratos em que o responsável pelo menor lhe falta com cuidados essenciais para seu desenvolvimento, bem estar e saúde, resultando em prejuízos. Nessa lógica, o profissional da saúde tem papel fundamental no enfrentamento e manejo da violência, identificando sinais resultantes dos abusos infantis. De acordo com a literatura, as agressões se manifestam principalmente em região orofacial: face, boca, cabeça e pescoço posicionando em destaque o Cirurgião-Dentista. Este trabalho evidencia  ações e estratégias de educação em saúde bucal utilizadas no combate a negligência odontológica. Desenvolvimento: As atividades de educação em saúde bucal ocorreram em parceria com o programa ProPaz Integrado, localizado nas dependências da Santa Casa de Misericórdia, na cidade de Belém/PA, Brasil. Este foi criado em 2004, pelo governo do estado com o objetivo de promover a cultura da paz entre os jovens, alinhando e integrando políticas voltadas para a infância e juventude. As ações e estratégias de educação em saúde foram elaboradas baseadas na literatura e na faixa etária do menor a ser atendido. Assim, as atividades lúdicas, brincadeiras e jogos foram voltados para crianças, rodas de conversa para adolescentes e escovação supervisionada para ambos. Foram elaborados também materiais ilustrativos e educativos como cartilhas, banners, folders com temas pertinentes ao universo odontológico - higiene oral, técnica de escovação, uso do fio dental, alimentação saudável. Foram utilizados metodologias ativas para incentivar e estimular a criança/adolescente em ser o protagonista no seu desenvolvimento e aprendizagem, com uma abordagem dinâmica que facilitasse a interação e participação do jovem no processo de solidificação do conhecimento e no autocuidado em saúde. Foi realizado exame clínico intra e extra oral para diagnosticar os agravos bucais decorrentes da negligência. Os dados coletados foram anotados em uma ficha clínica, na qual também continha informações socioeconômicas, localização da lesão, moradia e o tipo de violência sofrida. Resultados e Discussão: Foram examinadas 33 crianças e adolescentes no período entre abril e agosto de 2017, atendidas no ProPaz Santa Casa, em situação de violência. O exame clínico demonstrou que em 78% dos casos, a cárie dentária e doença periodontal foram os agravos bucais predominantes, associados a  higiene oral deficiente e alimentação inadequada. O CPO-D médio foi 3,9 e variou de 0 a 10. Os menores estavam com faixa etária entre 05 - 14 anos; No ano de 2016, no período entre abril - dezembro foram examinadas e encaminhadas para tratamento odontológico no Hospital Universitário João de Barros Barreto, 62 crianças e adolescentes com faixa etária entre 04 - 16 anos, entretanto, apenas 11% aderiram e concluíram seu tratamento odontológico. O encaminhamento e as instruções foram fornecidas aos responsáveis do menor, demonstrando que a baixa adesão ao tratamento, reforçando ainda mais a situação de negligência odontológica. A não adesão ao tratamento, quando em andamento resulta imediatamente em prejuízo à saúde bucal da criança. A negligência é um conflito difícil de se solucionar, pois a falta de idade e maturidade das crianças menores em realizar a sua higiene e cuidados pessoais, a falta de coordenação motora em realizar à escovação dos dentes agravam esta situação. Observa-se que elas estão inseridas em um ambiente de maus tratos, onde são menosprezadas às suas necessidades, resultando em baixa autoestima e depressão como forma de reagir ao conflito. Considerações finais: Considerando o fato de que mesmo com aumento de cobertura odontológica no SUS e a ampliação da oferta de serviços odontológicos no Brasil, como a implantação dos Centros de Especialidades Odontológicas (CEO - 03/2006) e criação de Unidades de Referência Especializadas em atendimento Materno-infantil, ainda não se percebe redução dos agravos bucais decorrentes, sobretudo, da negligência dos responsáveis pelas crianças. Não há uma articulação entre estes setores e os locais que prestam atendimento ao menor em situação de violência. É necessário abordagem e tratamento dos pacientes em rede multiprofissional. Portanto, a educação em saúde bucal baseado em promoção e qualidade de vida é uma estratégia de enfrentamento a ser fortalecida na infância, visto o grande potencial de aprendizagem, incorporação de conhecimento, de hábitos saudáveis, redução do índice de cárie e placa dental, além do empoderamento e autonomia para que o menor se torne agente ativo em sua transformação, melhorando sua percepção e autocuidado em saúde.



Palavras-chave


Negligência dental, promoção de saúde bucal, violência contra criança