Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
INTERAÇÃO ENSINO-SERVIÇO-COMUNIDADE: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA VINCULADO AO PROJETO INFÂNCIA SAUDÁVEL
Matheus Felipe Paz Alves, Frederico Octávio Perozini Demoner, Ivanna Moreira Selga da Silva, Júlia de Lyra Martinelli Scardua, Vanezia Gonçalves da Silva, Gracielle Pampolim

Última alteração: 2017-12-07

Resumo


Apresentação: Compreender o perfil da sociedade em que irá trabalhar expande o potencial benefício que o médico pode trazer à população ao iniciar a prática da profissão, pois conscientiza-o acerca do contexto em que o paciente está inserido, aproximando a prática em saúde da integralidade – entendida como um conjunto articulado e contínuo de ações e serviços preventivos e curativos – um dos princípios do Sistema Único de Saúde. Considerando o Ensino Infantil, o Fundamental e o Médio, verifica-se que cerca de 50 milhões de crianças e adolescentes estão acessíveis às ações de educação, promoção e assistência à saúde no sistema educacional brasileiro. As condições de vida e saúde e também as iniquidades sociais em nosso país permitem dizer que essa parcela da população está exposta a graves riscos de adoecimento e a situações de vulnerabilidade, que precisam ser objeto prioritário de ação eficaz pelo sistema de saúde, em conjunto com outros setores, particularmente os de Educação e Ação Social. Sobre a participação fundamental da família no contexto da saúde da criança, Pereira-Silva e Dessen (2003), afirmam que as interações estabelecidas no microssistema família são as que “trazem implicações mais significativas para o desenvolvimento da criança, embora outros sistemas sociais também contribuam para o seu desenvolvimento”. Sigolo (2004) descreve a família como “espaço de socialização infantil”, pois se constitui em “mediadora na relação entre a criança e a sociedade”. No que diz respeito à formação acadêmica, as Matrizes Curriculares preconizadas pelo Ministério da Educação para o curso de graduação em Medicina têm possibilitado a inserção precoce de discentes nas comunidades de suas cidades, mas, muitas vezes, esse contato fica restrito ao ambiente das Unidades Básicas de Saúde, limitando a representatividade do contexto sociocultural em que os indivíduos que buscam serviços de saúde estão inseridos Desenvolvimento: Diante desse contexto, o Projeto Infância Saudável buscou analisar, a partir da interação ensino-serviço-comunidade – uma forma de promoção em saúde – o processo saúde-adoecimento numa comunidade do município de Vitória, Espírito Santo. Pretendeu-se detectar intempéries à saúde – como situações de violência, falta de saneamento básico e condições habitacionais e alimentares deficientes –, de crianças escolares da faixa etária entre 4 e 6 anos e suas famílias, com o objetivo de potencializar intervenções em saúde, bem como despertar o interesse no autocuidado familiar, consolidando o aumento da qualidade de vida dessa comunidade a partir de ações no nível primário de saúde pública. O projeto desenvolveu-se sob a coordenação de duas professoras e com a realização de visitas quinzenais, no período matutino, às casas de crianças previamente selecionadas a partir de dados fornecidos por dois centros educacionais locais em que estudavam. As mesmas instituições também informaram, de antemão, a presença de grupos familiares sabidamente de risco, com o intuito de direcionar, de maneira efetiva, os benefícios da ação aos contemplados. A partir dos dados coletados, a região foi mapeada e os 16 alunos participantes, estudantes do curso de Medicina de uma instituição de ensino privada, alocaram-se em duplas para a realização das visitas, durante as quais foram executados anamnese – com detalhamento de história perinatal, história alimentar, desenvolvimento neuropsicomotor, antecedentes patológicos da criança e de sua família, além de avaliação do cartão de vacinas; exames físicos geral – com ênfase para antropometria –, de abdome e dos aparelhos respiratório e cardiovascular; e teste de acuidade visual de Snellen, a fim de traçar o perfil das crianças, identificando, de maneira precoce, agravos de saúde e/ou fatores de risco para tais, direcionando casos selecionados para posterior acompanhamento médico na Unidade Básica de Saúde local. Por limitações de recursos, como balanças e esfigmomanômetros infantis, foi necessário retornar em algumas casas visitadas mais de uma vez, a partir de então foi possível consolidar os dados. A situação de saúde encontrada foi semelhante em diversos locais, havendo alta incidência de problemas respiratórios e alergias, possivelmente devido às condições de moradia; dieta inadequada; falta de estrutura familiar; e presença de problemas crônicos, com dificuldades de acesso ao atendimento especializado, sendo essa uma queixa relativamente frequente das famílias durantes as visitas. O convívio familiar mostrou-se, rotineiramente, conturbado, sem suporte adequado para a criança, por uso de drogas, desemprego ou problema de convívio entre os responsáveis. Houve dificuldade em encontrar as crianças em suas residências, pois os endereços costumavam não estar atualizados nos centros educacionais; além do horário das visitas ser durante a manhã, período em que a maioria dormia. Resultados: Foram identificadas diversas situações que influenciavam a saúde e o desenvolvimento das crianças, tais como de higiene inadequada das moradias, falta de coleta de lixo regular, má alimentação, esgoto a céu aberto e ausência de controle de tempo de acesso à eletroeletrônicos. As famílias foram orientadas e alertadas sobre todos os fatores de risco constatados, expondo de quais formas eles poderiam ser negativos para o desenvolvimento adequado das crianças. Conclusões: ​O acompanhamento das crianças mostrou-se uma experiência enriquecedora aos acadêmicos, aproximando-os da realidade da qual farão parte ao iniciarem a prática médica. Julga-se, também, que a ação foi positiva para a comunidade, por engajá-la no contexto de promoção e prevenção em saúde, no âmbito da saúde da criança. Considerações finais: A formação de médicos deve considerar a população que será atendida, de forma que os futuros profissionais estejam cientes, quando formados, do contexto social em questão, ao atenderem seus pacientes. Esse conhecimento melhora a relação médico-paciente e, portanto, o serviço médico, bem como o sistema de saúde e a qualidade de vida da população. Assim, atividades durante a graduação que vão além da sala de aula, somando ao conhecimento adquirido nesta, práticas em comunidades cujos moradores fazem uso extensivo do serviço público de saúde, fundamentam o aprendizado e aproximam o acadêmico da população. O Projeto Infância Saudável permitiu aos alunos identificar na própria comunidade os fatores de risco para a saúde e para o desenvolvimento das crianças analisadas e orientar as famílias sobre medidas a serem adotadas para diminuir os riscos de adoecimento. Assim, o Projeto pode ser considerado de grande benefício tanto para a educação médica dos alunos participantes quanto para a comunidade.

Palavras-chave


Criança; Atenção Primária à Saúde; Educação em Saúde.