Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Eletroconvulsoterapia, ressignificação e assistência psiquiátrica: Um relato de experiência
Gabriela Garcia de Carvalho laguna, Liliane Leal de Moraes Couto

Última alteração: 2021-12-14

Resumo


Historicamente, o uso de eletroconvulsoterapia (ECT) para o tratamento de transtornos mentais é polêmico, envolvendo relatos de abusos, representações midiáticas e opiniões leigas que constroem um estigma. Isso dificulta que pessoas se beneficiem de um tratamento seguro e eficaz, quando bem indicado, a partir de uma avaliação médica que considere, de acordo com a Associação Psiquiátrica Americana, a necessidade de melhora rápida e consistente, os riscos de outros tratamentos, a baixa taxa de resposta a tratamentos farmacológicos anteriores e o consentimento do paciente. Sendo a medicina baseada em evidências imperativa, conhecer como funciona esse tratamento na teoria e na prática clínica, é potente para a formação médica. Relata-se a experiência de estágio universitário da discente em um instituto de referência em tratamentos com ECT, destacando a relevância dele para a formação médica. Durante duas semanas de junho de 2021, a discente acompanhou a equipe multiprofissional do Instituto Castro e Santos de Brasília, responsável pelas sessões de ECT. Antes de realizar a ECT, revisa-se se o paciente está em jejum, pelo risco de broncoaspiração, além dos fármacos em uso e dos efeitos colaterais e/ou benéficos percebidos desde a última sessão. Ela acontece em um ambiente controlado, o paciente é monitorado por eletrocardiograma e eletroencefalograma e recebe uma anestesia intravenosa, portanto não sente dor. Além disso, é aplicado um relaxante muscular, para prevenção de fraturas e realizada hiperventilação, para diminuir o impacto cognitivo do procedimento. Além do prejuízo à memória anterógrada, mais comum com a estimulação bitemporal, o paciente pode sentir dor de cabeça, confusão e dor muscular após a sessão, além de ter arritmias, o que destaca a importância da avaliação médica. Os estímulos são breves, o posicionamento dos eletrodos considera risco/benefício e custo e, o número de sessões não é pré-determinado. A experiência permitiu aprender sobre as indicações ao tratamento, como casos refratários, ou quando há risco de suicídio; habilidades práticas, como manejo dos instrumentos utilizados; bem como observar e discutir desafios relacionados ao tratamento, a exemplos: apreensão do paciente e do acompanhante, expectativas de finalizar logo o tratamento, de ocorrer uma melhora na personalidade não condizente com a que existia antes do transtorno mental e de cura. Existe um cuidado da equipe em informar e tranquilizar a família para aceitação e adesão, manejo importante para essas e outras situações de conflito na clínica. Também foi possível perceber a potência do tratamento, como no caso de uma paciente anteriormente em estupor depressivo que contou espontaneamente algumas histórias de vida após algumas sessões. Essa prática aprimorou competências fundamentais para a formação médica, como a comunicação, necessária para educação e atenção em saúde efetivas. Além disso, propiciou um aprendizado mais significativo a partir da experiência. Sendo a ECT um tratamento estigmatizado e com potencial para o cuidado psiquiátrico, as reflexões tecidas tornam-se ainda mais relevantes na promoção de uma prática médica embasada e implicada com a realidade social, portanto, transformadora.