Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
Contextos de vida e maternidade na adolescência: narrativas de usuárias da estratégia saúde da família de uma comunidade rural
Ellen Pereira Mendes, Jose Maria Ximenes Guimaraes, Leonardo Saboia Paz, Ana Patrícia Pereira Morais, Ednaiane Priscila de Andrade Amorim, Geanne Maria Costa Torres, Mariana Vale Francelino Sampaio

Última alteração: 2022-01-24

Resumo


A gravidez na adolescência em virtude das suas repercussões na vida da mulher, na família e na sociedade, constitui objeto de políticas públicas, com vistas a implementação de ações de saúde pública.  No contexto brasileiro, ainda que registros apontem uma queda de 17% no número de adolescentes grávidas no Brasil, a região Nordeste apresenta números elevados, permanecendo à frente das demais regiões brasileiras. Com uma queda um pouco mais expressiva, o estado do Ceará apresentou redução de 20% no número de adolescentes grávidas nos últimos dez anos, com 28.671 casos registrados, em 2008, para 22.749 em 2017.  Não obstante, alguns autores consideram que uma gestação na adolescência nem sempre é um fato equivocado, inconsequente ou danoso; inclusive, em alguns casos, pode ser resultado de um planejamento prévio consciente e decorrente da vida afetiva estável. Com efeito, o contexto de vida parece influenciar o desejo de ser mãe, por parte da adolescente. Neste estudo, objetiva-se compreender a experiência da gestação e a vivência da maternidade na adolescência, com base na narrativa de usuárias da Estratégia Saúde da Família, residentes na zona rural de um município cearense. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, realizada com adolescentes atendidas em consultas de pré-natal em uma Unidade Básica de Saúde. Participaram do estudo nove adolescentes que vivenciaram o evento entre dez e dezenove anos. As informações foram coletadas por meio de entrevistas em profundidade, sobre o contexto de vida e a experiência da gestação e da maternidade na adolescência. Como método de análise dos resultados, foram adotados os princípios teórico-metodológicos propostos por Gomes e Mendonça, para uma análise estrutural das narrativas. A pesquisa respeitou as diretrizes estabelecidas na Resolução nº 512/2016, sendo aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa. As sínteses narrativas permitiram evidenciar contextos de vida permeados pela vulnerabilidade social, em que algumas das adolescentes tem pais separados, vivenciam situação de pobreza e violência doméstica, além de cuidar dos irmãos mais novos enquanto as mães trabalham. Como consequência, desejam encontrar uma situação de vida mais tranquila, tendo como alternativa pensada a constituição de sua própria família. Assim, iniciam precocemente a vida sexual e algumas revelam o desejo de engravidar seja por atender a vontade do parceiro, seja por desejo de ter seus próprios filhos – uma vez que já se “tornaram mães de seus irmãos”. Contudo, a vivencia da maternidade enseja dificuldades e desafios, relacionados ao fato de não conseguir conciliar com vida escolar, à insegurança financeira e, muitas vezes a separação dos companheiros. Os achados deste estudo possibilitaram uma melhor compreensão das particularidades da gestação e da maternidade na adolescência, numa comunidade de baixa renda no interior do estado e apontaram desafios a serem superados, com vistas à sua prevenção. Mas também a necessidade de reconhecimento da cultura local, da dinâmica social e do desejo dos sujeitos, na perspectiva de oferta cuidado intersetorial articulando a saúde, educação e assistência social, com vista a oferta de cuidado e de melhoria das condições de vida das mães adolescentes da comunidade. Assim, é urgente a reorientação das práticas de cuidado centradas nas necessidades de saúde e voltadas à defesa da vida.