Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
Conhecimento dos profissionais da Estratégia Saúde da Família sobre saneamento no território de abrangência da unidade de saúde
Rabrine da Silva Matos, Alaides de Oliveira Souza, Denise Lima Magalhães, Thyalia Reis Araújo, Flávia de Jesus Gomes, Rodrigo Fernandes Neves, Elaine Santos da Silva, Cinoélia Leal de Souza

Última alteração: 2021-12-20

Resumo


Apresentação: O modelo de atendimento de saúde em nível primário tem como finalidade garantir uma assistência holística ao indivíduo, por meio de ações desempenhadas pela equipe multiprofissional que compõe a Estratégia Saúde da Família, tais ações voltadas para a prevenção e redução de agravos a saúde, são capazes de proporcionar maior qualidade de vida aos usuários. Neste contexto, a Lei Orgânica da Saúde n° 8080 de 1990, dispõe que a saúde está relacionada a um conjunto de fatores condicionantes e determinantes, dentre eles o meio ambiente e o saneamento básico, logo para a promoção da saúde faz-se necessário compreender os fatores de risco que cada população adstrita está exposta. Em vista disso, ao observar as condições ambientais e sanitárias no Brasil, nota-se ainda a escassez em investimentos, principalmente nas regiões mais carentes, o que impacta diretamente na prevalência de doenças ocasionadas pelo lixo, água e esgoto sem tratamento. Deste modo, o saneamento básico é considerado um grupo de atividades que são promovidas em benefício da população, sendo caracterizadas pelas práticas de infraestrutura e instalações, tratamento da água e esgoto além de ações de higiene. Nesse contexto, o enfermeiro, como coordenador da assistência, assim como os demais profissionais que atuam na Estratégia Saúde da Família, devem integrar em suas práticas diárias, a prestação do cuidado socioambiental, especialmente, voltadas para as condições de saúde e saneamento básico. Desse modo, é de fundamental relevância a compreensão da coletividade e das implicações que os danos ambientais podem acarretar para a saúde humana. A partir desses apontamentos, o profissional deve buscar o conhecimento, agindo de forma crítica e reflexiva, com a finalidade de favorecer transformações nas problemáticas ambientais, por meio de ações e estratégias integrativas que minimizem ou sanem estas dificuldades, numa perspectiva futura de qualidade de vida ambiental. Sendo assim, os profissionais da saúde, são peças fundamentais para o esclarecimento de situações ambientais à população, integrando as práticas de saúde ao contexto do meio ambiente. Nesta perspectiva, o estudo buscou analisar o conhecimento dos profissionais das unidades de saúde acerca das condições de saneamento básico da população do território de abrangência da Estratégia Saúde da Família, no município de Guanambi-Ba. Desenvolvimento: Tratou-se de uma pesquisa de abordagem quantitativa descritiva, sendo estudados territórios adscritos das unidades de saúde da família do município de Guanambi- BA, localizado no semiárido Nordestino, região marcada por conflitos ambientais e climáticos, como seca, ausência de saneamento básico e escassez de água. Participaram desse estudo 106 profissionais de 11 unidades de saúde, dentre enfermeiro, médico, técnico de enfermagem, auxiliar de saúde bucal, dentista e agente comunitário de saúde, que integram a equipe da Estratégia Saúde da Família. A análise dos dados quantitativos foi realizada através da tabulação, utilizando uma planilha eletrônica do Microsoft Excel®. A pesquisa foi submetida ao Comitê de ética e Pesquisa da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e aprovada sob o protocolo CAAE: 79882217.8.0000.0055, todos os participantes do estudo assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Resultados: Dos 106 profissionais entrevistados, 90 (85,7%) eram do sexo feminino, 42 (40%) com faixa etária entre 41 e 50 anos, 47 (44,8%) deles eram agentes comunitários de saúde, sendo que a maioria dos entrevistados (57,1%) atuavam a mais de 7 anos na Estratégia Saúde da Família. Quanto as condições relacionadas ao saneamento básico, 99% destacaram o acesso a água encanada, sendo predominantemente armazenada em caixas, enquanto 1% relatou ser proveniente de poço. 28 (26,7%) profissionais afirmaram haver esgotamento no território de abrangência da Unidade Saúde Família, enquanto 9 (8,6%) não souberam responder. Sobre a coleta de lixo, recicláveis e a frequência de realização da coleta, 100 (95,2%) disseram haver coleta de lixo na localidade, 68 (64,8%) afirmaram que a coleta é realizada 3 vezes por semana e 18 (17,1%) deles não souberam responder, enquanto 76 declararam não ser realizada a coleta seletiva. No tocante a destinação do lixo da Unidade Saúde da Família, 47 (44,8%) profissionais citaram o lixão como destino final do lixo da unidade, 29 (27,6%) não souberam dizer. Diante da análise dos dados nota-se que apesar da população pertencente ao território da Estratégia Saúde da Família, majoritariamente possuírem acesso a água encanada e coleta de lixo, ainda se torna deficiente o acompanhamento das equipes no contexto socioambiental da comunidade, o que compromete o cuidado coletivo às famílias. Dentre os que não souberam informar quanto ao armazenamento de água, esgotamento e coleta de lixo da população, estão entre eles profissionais agentes comunitários de saúde, o que evidencia a necessidade do fortalecimento das ações de saúde no ambiente domiciliar dos usuários a serem realizadas pelos mesmos, de modo a monitorar as condições sanitárias e orientar quanto a cuidados relevantes como a filtração, cloração e armazenamento da água utilizada para consumo.  Outro ponto relevante, a ser considerado no estudo, é a destinação inadequada do lixo da Unidade Saúde da Família, o que revela o descuido das equipes com as questões ambientais, desta forma, o descarte inapropriado do lixo da unidade e da população de seu território, representa um alto potencial de contaminação do solo e dos lençóis freáticos, ao ser depositado em lixões a céu aberto, sendo esta uma realidade de muitos municípios que compõem o semiárido nordestino, além da falta de iniciativas em prol da coleta seletiva, como estratégia sustentável e de fonte de renda para as comunidades.  Considerações Finais: Diante do exposto, pode-se compreender que as questões ambientais e de saneamento básico no território da unidade de saúde demandam por monitoramento e vigilância dos profissionais da Estratégia Saúde da Família, e que de fato, a precariedade das condições sanitárias é capaz de desencadear agravos ao meio ambiente e danos à saúde das pessoas. Logo, é através das ações educativas a serem realizadas pelos profissionais de saúde, de forma individual ou coletiva, nas residências e na comunidade, que torna-se possível orientar a população quanto a prevenção de doenças prevalentes que estão diretamente relacionadas as questões socioambientais, a fim de conscientizar sobre as medidas preventivas e estimular a busca por melhorias e maiores investimentos em saneamento básico a serem implementadas pelos órgãos públicos. Vale ressaltar, a importância da capacitação profissional e dos treinamentos a serem ofertados aos profissionais das unidades de saúde, voltados às questões socioambientais e ao correto manejo e gerenciamento do lixo da unidade.