Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2021-12-20
Resumo
Apresentação: O modelo de atendimento de saúde em nível primário tem como finalidade garantir uma assistência holística ao indivíduo, por meio de ações desempenhadas pela equipe multiprofissional que compõe a Estratégia Saúde da Família, tais ações voltadas para a prevenção e redução de agravos a saúde, são capazes de proporcionar maior qualidade de vida aos usuários. Neste contexto, a Lei Orgânica da Saúde n° 8080 de 1990, dispõe que a saúde está relacionada a um conjunto de fatores condicionantes e determinantes, dentre eles o meio ambiente e o saneamento básico, logo para a promoção da saúde faz-se necessário compreender os fatores de risco que cada população adstrita está exposta. Em vista disso, ao observar as condições ambientais e sanitárias no Brasil, nota-se ainda a escassez em investimentos, principalmente nas regiões mais carentes, o que impacta diretamente na prevalência de doenças ocasionadas pelo lixo, água e esgoto sem tratamento. Deste modo, o saneamento básico é considerado um grupo de atividades que são promovidas em benefício da população, sendo caracterizadas pelas práticas de infraestrutura e instalações, tratamento da água e esgoto além de ações de higiene. Nesse contexto, o enfermeiro, como coordenador da assistência, assim como os demais profissionais que atuam na Estratégia Saúde da Família, devem integrar em suas práticas diárias, a prestação do cuidado socioambiental, especialmente, voltadas para as condições de saúde e saneamento básico. Desse modo, é de fundamental relevância a compreensão da coletividade e das implicações que os danos ambientais podem acarretar para a saúde humana. A partir desses apontamentos, o profissional deve buscar o conhecimento, agindo de forma crítica e reflexiva, com a finalidade de favorecer transformações nas problemáticas ambientais, por meio de ações e estratégias integrativas que minimizem ou sanem estas dificuldades, numa perspectiva futura de qualidade de vida ambiental. Sendo assim, os profissionais da saúde, são peças fundamentais para o esclarecimento de situações ambientais à população, integrando as práticas de saúde ao contexto do meio ambiente. Nesta perspectiva, o estudo buscou analisar o conhecimento dos profissionais das unidades de saúde acerca das condições de saneamento básico da população do território de abrangência da Estratégia Saúde da Família, no município de Guanambi-Ba. Desenvolvimento: Tratou-se de uma pesquisa de abordagem quantitativa descritiva, sendo estudados territórios adscritos das unidades de saúde da família do município de Guanambi- BA, localizado no semiárido Nordestino, região marcada por conflitos ambientais e climáticos, como seca, ausência de saneamento básico e escassez de água. Participaram desse estudo 106 profissionais de 11 unidades de saúde, dentre enfermeiro, médico, técnico de enfermagem, auxiliar de saúde bucal, dentista e agente comunitário de saúde, que integram a equipe da Estratégia Saúde da Família. A análise dos dados quantitativos foi realizada através da tabulação, utilizando uma planilha eletrônica do Microsoft Excel®. A pesquisa foi submetida ao Comitê de ética e Pesquisa da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e aprovada sob o protocolo CAAE: 79882217.8.0000.0055, todos os participantes do estudo assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Resultados: Dos 106 profissionais entrevistados, 90 (85,7%) eram do sexo feminino, 42 (40%) com faixa etária entre 41 e 50 anos, 47 (44,8%) deles eram agentes comunitários de saúde, sendo que a maioria dos entrevistados (57,1%) atuavam a mais de 7 anos na Estratégia Saúde da Família. Quanto as condições relacionadas ao saneamento básico, 99% destacaram o acesso a água encanada, sendo predominantemente armazenada em caixas, enquanto 1% relatou ser proveniente de poço. 28 (26,7%) profissionais afirmaram haver esgotamento no território de abrangência da Unidade Saúde Família, enquanto 9 (8,6%) não souberam responder. Sobre a coleta de lixo, recicláveis e a frequência de realização da coleta, 100 (95,2%) disseram haver coleta de lixo na localidade, 68 (64,8%) afirmaram que a coleta é realizada 3 vezes por semana e 18 (17,1%) deles não souberam responder, enquanto 76 declararam não ser realizada a coleta seletiva. No tocante a destinação do lixo da Unidade Saúde da Família, 47 (44,8%) profissionais citaram o lixão como destino final do lixo da unidade, 29 (27,6%) não souberam dizer. Diante da análise dos dados nota-se que apesar da população pertencente ao território da Estratégia Saúde da Família, majoritariamente possuírem acesso a água encanada e coleta de lixo, ainda se torna deficiente o acompanhamento das equipes no contexto socioambiental da comunidade, o que compromete o cuidado coletivo às famílias. Dentre os que não souberam informar quanto ao armazenamento de água, esgotamento e coleta de lixo da população, estão entre eles profissionais agentes comunitários de saúde, o que evidencia a necessidade do fortalecimento das ações de saúde no ambiente domiciliar dos usuários a serem realizadas pelos mesmos, de modo a monitorar as condições sanitárias e orientar quanto a cuidados relevantes como a filtração, cloração e armazenamento da água utilizada para consumo. Outro ponto relevante, a ser considerado no estudo, é a destinação inadequada do lixo da Unidade Saúde da Família, o que revela o descuido das equipes com as questões ambientais, desta forma, o descarte inapropriado do lixo da unidade e da população de seu território, representa um alto potencial de contaminação do solo e dos lençóis freáticos, ao ser depositado em lixões a céu aberto, sendo esta uma realidade de muitos municípios que compõem o semiárido nordestino, além da falta de iniciativas em prol da coleta seletiva, como estratégia sustentável e de fonte de renda para as comunidades. Considerações Finais: Diante do exposto, pode-se compreender que as questões ambientais e de saneamento básico no território da unidade de saúde demandam por monitoramento e vigilância dos profissionais da Estratégia Saúde da Família, e que de fato, a precariedade das condições sanitárias é capaz de desencadear agravos ao meio ambiente e danos à saúde das pessoas. Logo, é através das ações educativas a serem realizadas pelos profissionais de saúde, de forma individual ou coletiva, nas residências e na comunidade, que torna-se possível orientar a população quanto a prevenção de doenças prevalentes que estão diretamente relacionadas as questões socioambientais, a fim de conscientizar sobre as medidas preventivas e estimular a busca por melhorias e maiores investimentos em saneamento básico a serem implementadas pelos órgãos públicos. Vale ressaltar, a importância da capacitação profissional e dos treinamentos a serem ofertados aos profissionais das unidades de saúde, voltados às questões socioambientais e ao correto manejo e gerenciamento do lixo da unidade.