Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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CAUSAS DE INTERNAÇÕES POR CONDIÇÕES SENSÍVEIS À ATENÇÃO PRIMÁRIA EM CRIANÇAS NO ESTADO DE RONDÔNIA, 2008-2019
Adria Da Silva Santos, Jeanne Lúcia Gadelha Freitas, Priscilla Perez da Silva, Kátia Fernanda Alves Moreira, Daniela Ferreira Borba Cavalcante, Tatiana Michelle Catão de Oliveira, Jéssica Cunha Alves

Última alteração: 2021-12-13

Resumo


APRESENTAÇÃO: As Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária (ICSAP) são indicadores da resolução de ações realizadas na Atenção Primária em Saúde. No Brasil, estas ações são realizadas por meio da Estratégia Saúde da Família (ESF) que por sua vez, acompanham comunidades e famílias, dentre estas, as crianças e suas famílias cadastradas/acompanhadas pelas unidades de saúde. O perfil de morbidade em crianças tem relação direta com fatores socioambientais como saneamento básico, renda, acessos a serviços de saúde e as especificidades nessa fase da vida que muitas vezes, podem determinar internações evitáveis. Além disso, as novas internações podem predispor outras doenças, e deslocar investimentos que poderiam ser aplicados na qualificação da atenção à saúde da criança na APS. Conhecer o perfil de internações de crianças auxilia a compreensão destes fenômenos no processo saúde-doença desse grupo, para aplicar ações de prevenção aos agravos em tempo oportuno para evitar internações desnecessárias. Desse modo, o objetivo do estudo foi caracterizar o perfil de internações em crianças e identificar suas causas bem como a tendência das ICSAP para subsidiar o planejamento da linha de cuidados nesse grupo.

DESENVOLVIMENTO: Trata-se de um estudo de série temporal do tipo ecológico, baseado nas notificações de internações do Sistema de Informações Hospitalares (SIH-SUS). As variáveis de interesse foram idade, por faixa etária (<de 1 ano; 1 a 4 anos; 5 a 9 anos), residência nos 52 municípios do estado, e causa da internação. Para elaboração e análise dos dados, foram utilizados os programas Microsoft Excel ® e STATA® versão 11.0 (College Station. Texas. USA) com cálculo de taxas anuais de hospitalização brutas e ajustadas para estimar as tendências das ICSAP. Este estudo faz parte do projeto matriz “Estudo sobre morbidades em Rondônia”, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNIR, sob a CAAE - 46586315.9.0000.5300, conforme Resolução 466/CNS/2012.

RESULTADOS: O presente estudo demonstrou tendência anual de ICSAP variável tanto entre as faixas etárias, como nos grupos de ICSAP, além de apresentar altas taxas de ICSAP no estado de Rondônia entre os anos de 2009 e 2019. Nas três faixas etárias, houve declínio na tendência de ICSAP por gastroenterites infecciosa e complicações (<1 ano: -8,62%; 1 a 4 anos: -7,25%; 5 a 9 anos: -4,95%). Por outro lado, as infecções da pele e tecido subcutâneo, apresentaram tendência anual crescente em todas as idades (14,32%; 17,87%; 18,18%).  No Brasil, as condições características de uma região determinam os indicadores de saúde de uma população. Esses indicadores de acesso à água e à rede de esgoto apontam desigualdades no território brasileiro, além de atestar maiores discrepâncias frequentes nas regiões Norte e Nordeste, incluindo, o estado de Rondônia. São regiões com problemas estruturais, de precariedade socioeconômica, nutricional, do saneamento básico, dentre outros fatores, que refletem o número elevado de ICSAP em crianças em algumas faixas etárias que vivem nestas áreas de maior vulnerabilidade. Dessa forma, as gastroenterites infecciosas, ainda que em declínio na tendência anual em todas as faixas etárias, foram a principal causa de ICSAP em duas delas; contudo, nas crianças menores de um ano, as gastroenterites infecciosas foram a segunda causa de internações, o que difere de outros estudos realizados nos estados brasileiros, onde essa ICSAP também foi predominante nesse grupo etário. Além disso, o grupo de ICSAP em crianças decorrentes de infecção da pele e tecido subcutâneo, apresentou tendência crescente em todos os intervalos etários, o que pode ser justificado pelo ambiente desfavorável à saúde. Por conseguinte, as elevadas taxas de ICSAP em menores de um ano, podem estar relacionadas à fase de desenvolvimento, na qual os mecanismos de defesa do organismo ainda estão em processo de formação e/ou amadurecimento. Do mesmo modo, as doenças relacionadas ao pré-natal e parto apresentaram a maior tendência anual em menores de um ano (24,20%), além de mostrar tendência crescente, assim como nas ICSAP do grupo identificado como outros (2,75%). Ademais, as ICSAP por epilepsias apontaram tendências crescentes nas faixas etárias de 1 a 4 anos (12,05%) e de 5 a 9 anos (12,17%). As doenças respiratórias, principalmente asma e pneumonia, representaram a maior taxa de ICSAP na faixa etária de 5 a 9 anos (1,75%), o que reforça além de outras causas como as alergias, o impacto do desmatamento por queimadas na Amazônia, onde estas, por exemplo, respondem por uma área de 28,5% do território rondoniense, sendo o estado mais devastado da Amazônia. Chama a atenção que nas crianças menores de um ano, as ICSAP provocadas pelas doenças preveníveis por imunização/condições sensíveis tiveram tendência estável em dois intervalos etários (<1 ano: -2,60%; 5-9 anos: -3,76%) e em declínio em crianças de 1 a 4 anos (-8,51%). Similarmente, as ICSAP por deficiências nutricionais (<1 ano: -0,32%) e por infecção no rim e no trato urinário se mantiveram estáveis (-1,15%; -1,49%; 0,01%) no período analisado. Estes achados podem ter relação com o aumento da cobertura de ações como vacinação e atividades educativas em saúde, realizados em puericultura no contexto da APS. Logo, o perfil das ICSAP em crianças de 2019 a 2019 em Rondônia é variável e com problemas contínuos. Algumas das doenças evitáveis na esfera da APS, como as infecções da pele e do tecido subcutâneo, apresentam tendência de crescimento em todas as faixas etárias, o que retrata o amplo cenário de internações desnecessárias, além de refletir a negligência das gestões de saúde em todo estado. Este cenário aponta para graves falhas da atenção à saúde da criança no território da APS em todo estado, o que corrobora sérias limitações no acolhimento e identificação precoce de problemas de saúde que acometem especialmente crianças de até um ano de vida. Estes achados reforçam a necessidade urgente de (re) planejamento de ações e estratégias das gestões municipais de saúde, para que crianças e suas famílias sejam atendidas em tempo adequado para evitar complicações nos problemas de saúde que podem ser resolvidos na Atenção Primária.

CONSIDERAÇÕES FINAIS: Em Rondônia, de 2009 a 2019, as ICSAP em crianças estiveram associadas aos fatores intrínsecos e extrínsecos às ações realizadas no âmbito da Atenção Primária. A maioria das internações ocorreram por infecções da pele ou decorrentes de gastroenterites, o que sinaliza a negligencia aos cuidados de sintomas clínicos comuns, como diarreias e cólicas, além de apresentar possíveis falhas na linha de cuidado e orientação para o desenvolvimento da criança no meio circundante. Faz-se urgente rever as estratégias de saúde desenvolvidas na esfera da Atenção Primária em Saúde de cada região de saúde, considerando as peculiaridades locais.