Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
MELHORIA NA QUALIDADE DE ATENDIMENTO DE PESSOAS VIVENDO COM HIV/AIDS EM UM SERVIÇOS DE ATENDIMENTO ESPECIALIZADO DE UMA POLICLINICA, NA CIDADE DE MANAUS – AM
Vitor Araújo Mar, Yamile Alves Silva Vilela, Tainan Fabrício da Silva

Última alteração: 2021-12-16

Resumo


APRESENTAÇÃO: De acordo com a Declaração dos Direitos Fundamentais da Pessoa Portadora do Vírus da Aids, criada em 1989, por profissionais da saúde e membros da sociedade civil juntamente com o Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis, toda pessoa vivendo com HIV/AIDS (PVHIV) tem direito à assistência especializada e ao tratamento farmacêutico através da aquisição de antirretrovirais fornecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No Brasil, segundo o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde de 2020, existem 1.011.617 casos de Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (AIDS) notificados em todo o país no período entre 1980 e 2020, sendo a taxa de detecção de casos de AIDS no Brasil de 17,8/100 mil habitantes. Dessa forma o estado do Amazonas atualmente é o terceiro no ranking nacional com uma taxa de detecção de 31,7/100 mil habitantes, onde a maioria desses casos estão na capital Manaus, considerada um hotspot da epidemia de HIV/AIDS no Brasil. No estado do Amazonas, a Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT/HVD), localizada na zona centro – oeste de Manaus, desempenhou até o ano de 2016 o papel de centro de referência para diagnóstico, tratamento e acompanhamento clínico das PVHIV, tornando-se assim um polo de centralização do cuidado para essa parcela da população, sendo procurado por usuários residentes em todos os municípios. Dessa forma, observou-se o surgimento de situações que prejudicavam o acesso dos usuários à essa unidade como, por exemplo, agendamento de consultas com intervalos longos devido a superlotação das agendas dos profissionais da unidade. Tal fato gerava um intervalo maior da oferta de outros serviços cruciais como: coleta de exames, dispensação de medicamentos na farmácia, encaminhamentos diversos às demais especialidades. Além disso, os usuários que frequentavam a unidade queixavam-se da estigmatização da unidade como referência para tratamento de HIV/AIDS. Assim, com o objetivo de melhorar o atendimento da PVHIV, iniciou-se em 2016 um projeto que propunha o atendimento dessa população em Serviços de Atenção Especializada (SAE) localizados em 04 Policlínicas situadas em zonas estratégicas da cidade. Diante do exposto, o objetivo desse trabalho foi descrever como se deu o projeto de Descentralização das PVHIV na cidade de Manaus, em particular para um determinado SAE da Policlínica de referência da zona leste da cidade. DESENVOLVIMENTO: Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência, desenvolvido pela equipe multidisciplinar do SAE de uma Policlínica de referência localizada na zona leste da cidade de Manaus, estado do Amazonas, a partir do Projeto de Descentralização das PVHIV de um hospital de referência para outras unidades. O Projeto de Descentralização, se propunha a assegurar a qualidade e a sustentabilidade da assistência às PVHIV, no município de Manaus, por meio da descentralização da prestação de serviços de saúde. A premissa desse processo de transição é que ele seja feito de maneira responsável, assegurando-se o respeito às necessidades individuais de cada paciente e utilizando-se um protocolo de transferência, que contemple os diferentes níveis de complexidade do cuidado. Uma importante parceria neste projeto foram as Organizações de Sociedade Civil (ONGs), que trabalhavam com diversas populações vulneráveis (profissionais do sexo/moradores de rua/usuários de drogas) uma vez que estes estavam cientes do processo de descentralização. Tais instituições atuavam como norteadores para seus membros que necessitassem de atendimentos relacionais a HIV/AIDS, facilitando o processo de mediação entre o usuário e a unidade de saúde apta a recebê-lo de maneira assertiva. Vale ressaltar a participação da ONG AIDS Healthcare Foundation (AHF Brasil), organização global que trabalha para garantir prevenção, diagnóstico e tratamento de HIV/AIDS. Além de mediadora, tal ONG desenvolve um projeto de pesquisa que subsidia profissionais que atuam diretamente no atendimento de PVHIV e na elaboração de banco de informações úteis para o processo de descentralização. RESULTADOS: O SAE da Policlínica Dr. Antônio Comte Telles, localizada na zona leste da cidade de Manaus-AM, apresentava no ano de 2016 oitenta e três usuários. Atualmente possui dois mil e seiscentos e cinquenta e cinco usuários, admitidos na unidade até o mês de outubro de 2021. Desse total, trezentos e cinquenta e dois chegaram na unidade através do Projeto de Descentralização. A equipe multidisciplinar desse serviço é composta por 01 navegador, 03 técnicos de enfermagem, 03 enfermeiros, 03 médicos infectologistas e 01 médico infectopediatra. O serviço conta ainda com diversos tipos de atendimentos ambulatoriais como dermatologia, ortopedia, fisioterapia, nutrição, cardiologia, fisioterapia, neurologia, psicologia, serviço social, além de assistência laboratorial e de imagem, sendo estes serviços pertencentes ao quadro de serviços da Policlínica e enquadram-se no fluxo de atendimento dos usuários SAE quando necessário. Para que o usuário seja descentralizado para a referida policlínica é necessário que o mesmo se enquadre nos seguintes critérios: usuário com diagnóstico recente de HIV/AIDS, estável clinicamente, que esteja assintomático no momento do diagnóstico e que aceite o processo de descentralização e/ou usuário já em acompanhamento na FMT/HVD em uso de terapia antirretroviral, com exame de carga viral do HIV indetectável, contagem de linfócitos T CD4+ maior que 350 células, sem coinfecções ou comorbidades. É oferecido ao paciente a possibilidade de escolha da unidade de destino, não sendo obrigatória a escolha da unidade mais próxima de sua residência e sim a unidade que ele acreditar ser a mais adequada segundo suas demandas. Com o aceite do usuário, este é encaminhado à unidade de destino tendo como pessoa de referência o navegador, que consiste em um profissional de nível superior, responsável pelo acolhimento e por facilitar a vinculação e inserção do paciente dentro do fluxo da nova unidade, sendo também responsável pela mediação de agendamento de consultas e autorização de exames. A intervenção deste profissional colabora para que os usuários otimizem o cuidado de sua saúde ao se vincularem ao serviço em local de fácil acesso e com menor quantidade de usuário e/ou tempo de espera para consultas eletivas. Como resultado do referido projeto, observou-se melhoria na adesão dos usuários ao tratamento e acompanhamento de HIV/AIDS, maior acessibilidade ao tratamento, redução no tempo de espera de consultas ambulatoriais, menor permanência nas unidades, identificação precoce de coinfecções e comorbidades com possibilidade de redução da morbimortalidade dessa população, facilidade no acesso à testagem, aconselhamento e diagnóstico precoce e tratamento de infecções sexualmente transmissíveis e outras comorbidades. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Muitas vezes as PVHIV sofrem preconceitos e rejeições em suas famílias, em relacionamento afetivos e em grupos sociais. A falta de conhecimento sobre a doença, bem como do fluxo de atendimento das unidades de saúde apta a recebê-los, pode dificultar a garantia de direitos desta população, gerando isolamento social, constrangimentos, atraso para início de tratamento e até mesmo negação do diagnóstico. Assim, faz-se necessário cada vez mais o estimulo da descentralização, por parte dos entes federativos juntamente com a sociedade civil, para que este possa ser ampliado na atenção básica de saúde, atingindo a atenção primária a saúde, pois o aumento do número de pessoas atendidas nos SAE não pode finalizar numa centralidade de atendimento nestas unidades.