Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
O LÚDICO E A PARTICIPAÇÃO ATIVA DE ESCOLARES NO AUTOCUIDADO COM OS HÁBITOS POSTURAIS
Izis Fernanda de Oliveira Possetti, Eliana Goldfarb Cyrino

Última alteração: 2022-08-12

Resumo


Apresentação: As alterações posturais e dores nas costas são considerados problemas de saúde coletiva devido a sua alta prevalência na população mundial. As dores crônicas nas costas afetam entre 54% a 90% da população adulta de sociedades industrializadas. Com isto, a prevenção dessas condições pode ser trabalhada no ambiente escolar e a maior integração do trabalho do NASF com ações intersetorias, com a participação de fisioterapeutas pode explorar o contexto do aprendizado para este fim, atuando nessa fase de desenvolvimento de crianças e adolescentes. A escola pode favorecer a realização de intervenções educativas voltadas à promoção da saúde, integradas ao SUS, que visem hábitos posturais adequados, considerando a permanência das crianças nesse espaço por muitas horas e em uma mesma posição, além disso favorecer práticas pedagógicas que aproximem o conteúdo à realidade escolar vivida. Sendo assim, o objetivo deste trabalho é descrever e analisar intervenções de educação em saúde centradas na postura dinâmica e estática de escolares do ensino fundamental I por meio de metodologia participativa enfatizando a ludicidade e o aprendizado através das relações. Método: abordagem qualitativa, tendo como referencial metodológico a sistematização de experiência, a partir do desenvolvimento de intervenções de saúde direcionadas à estudantes de nove a dez anos do quarto ano do ensino fundamental de uma escola pública de um município do interior do Estado de São Paulo. Os dados foram obtidos através da observação participante do processo vivenciado e elaboração do diário de campo, atividades produzidas pelos estudantes e entrevistas com os pais e a professora, além de um questionário pré e pós intervenção. Como referencial da educação dialógica utilizou-se Paulo Freire e a educação pela experiência através do referencial de Jorge Larrosa Bondìa. Como referencial de análise dos dados utilizou-se a perspectiva de Bardin. Inicialmente, foi aplicado um questionário levantando os conhecimentos prévios dos escolares, e a partir dos resultados, foi elaborada e implantada a estratégia educacional, com eixo no referencial da educação dialógica de Paulo Freire, na perspectiva de que a reflexão conduz à prática dos conhecimentos (re)construídos. A intervenção consistiu dez encontros presenciais, centrados em atividades lúdidas e rodas de conversa com abordagem dos temas: saúde, coluna vertebral, desvios posturais, forma correta de sentar e levantar, mochila, mobiliário, etc. O processo foi construído a cada encontro, para que os escolares vivenciassem situações e aprendessem sobre hábitos posturais saudáveis e cuidado com a própria coluna, no sentido de experienciarem o fazer, ou seja, praticarem o saber. Resultados: Participaram do programa vinte e uma crianças, de ambos os sexos. O questionário prévio apresentou alto índice de conhecimento sobre cuidados com a coluna por parte dos estudantes, direcionando as intervenções para a reflexão sobre os motivos pelos quais eles não os colocavam em prática. Com isto, buscou-se atividades voltadas à ludicidade, imaginação e participação ativa dos estudantes para que além de resgatarmos as questões da pesquisa, o processo fosse uma experiência viva de aprendizado a todos os envolvidos.  A categoria desenvolvida que caracteriza este percurso é “O saber reinventado e reimaginado”, que foi subdividida em três subcategorias: “A construção do saber através das relações”; “Aprendizado através dos sentidos e da imaginação”; “Participação ativa dos estudantes”. Nestes itens é possível observar nos dados coletados que  foi  sendo  construído  ao  longo  das  intervenções, uma aproximação das relações por meio do diálogo e buscar no imaginário  dos estudantes situações de cuidados com a coluna no  sentido  de mobilizar o saber através das experiências. É possível identificar a proximidade da fisioterapeuta e das crianças neste trecho do diário de campo: “Como sempre, algumas meninas vieram me abraçar e surge aquela disputa pra sentar ao meu lado na roda, e iniciamos a conversa”. Em mais uma passagem: “Hoje eu comentei com eles que semana que vem será a última aula, a sala virou um barulho só, e guardei essa frase: “você entrou faz pouco tempo e já vai sair?”. Foi muito bom receber o carinho deles e fiquei emocionada em ver como as crianças são apaixonadas pelo mundo e pelas descobertas. Elas falam, reclamam, abraçam, correm, gritam, abraçam de novo se for preciso, e eu só posso dizer que estou vivendo uma experiência incrível no relacionamento com esses pequenos”. No que diz respeito a ludicidade e participação ativa dos estudantes segue alguns trechos: “...aula de anatomia palpatória” em duplas. Eles sentiram nos colegas os processos espinhosos da coluna, costelas, escápulas e na autopalpação sentiram o quadril e o fêmur, e o que mais me chamou atenção nesta atividade foi escutar ‘nossa, tem isso dentro da gente’?”. Em outro trecho: “...eu disse também que se eles carregassem tudo de um mesmo lado, ficariam parecendo o homenzinho torto. Uma aluna de imediato já falou que conhecia a música e todos meio que começaram a cantar. Eu não planejava esse momento, mas aproveitei para descontrair e fazermos uma atividade que eles mesmos tinham mostrado interesse. Propus que contássemos a música do homenzinho torto, mas que teríamos que trocar a palavra ‘bíblia’ por ‘postura’, e a palavra ‘Jesus’ por “eu mesmo”. Eles queriam colocar ‘a Maria Eduarda postura endireitou’, então conversei com eles que eu não conseguiria consertá-los, que só eles mesmos conseguiriam isso”. Considerações finais: Os estudantes apresentaram conhecimento prévio sobre questões posturais, mas iniciaram uma mudança de hábitos ao reconhecerem a coluna como parte de seu corpo e refletirem sobre as situações de seus contextos de vida. Identificou-se que Programas educativos auxiliam a promover o diálogo e o reconhecimento da realidade fazendo com que as vivências fossem estimuladoras para os estudantes. Os sujeitos envolvidos buscaram respostas para os desafios lançados, mostrando que a ludicidade e a imaginação acionam sensações, fazendo com que o sistema cognitivo alcance novos níveis de desenvolvimento. Além disso, as atividades promoveram autonomia aos envolvidos, que por sua vez, proporcionou situações de responsabilidade e poder de decisão, reflexão e discussão, engajamento com o próprio aprendizado e motivação. Por fim, o fisioterapeuta no ambiente escolar é importante para criar hábitos saudáveis e prevenir dores na coluna e suas ações de educação em saúde precisam considerar as necessidades dos estudantes e as singularidades da escola.

Palavras-chave: educação em saúde, ensino fundamental, fisioterapia, hábitos posturais, ludicidade.