Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A automação algorítmica do saber-poder “médico”: uma mudança de patamar (tecno)político do processo de medicalização.
Leandro Modolo, Sergio Resende Carvalho

Última alteração: 2021-12-20

Resumo


O escopo da chamada “saúde digital” é amplo e abrange inúmeras tecnologias: telemedicina, dispositivos vestíveis e biossensores, big data, inteligência artificial (IA), machine learning etc. Dentre todas essas tecnologias, uma das mais utilizadas foi e são os aplicativos (apps) de internet móvel para smartphones ou tablets. Denominados como mSaúde [mHealth], os apps são usados com vistas a auxiliar na coordenação e comunicação do cuidado, mantendo os seus atributos, como o primeiro contato, a longitudinalidade, a integralidade e a orientação individual, familiar e comunitária da Covid-19.

Este cenário, todavia, ainda carece de análises sistemáticas e críticas sobre as respostas digitais no âmbito da saúde coletiva. Com isso em vista, este trabalho busca contribuir para a massa crítica que versa sobre os desafios por ela colocados, sejam eles econômicos, políticos, sociais, culturais e/ou éticos. Amparados na abordagem sociotécnica dos “estudos críticos de saúde digital”, buscamos trazer em tela um eixo problematizador da saúde digital, em particular, da mSaúde, a saber: a automação algorítmica do saber-poder “médico”como dispositivo de recrudescimento do processo de “medicalização”.

Foi realizada uma busca por conveniência sobre a temática nos sites de divulgação científica, tecnológica e mídias institucionais com o intuito de analisar as experiências sobre de mSaúde no Brasil. Nosso esforço foi para que isso fosse levado a cabo sob o suporte de uma revisão bibliográfica não sistemática que versa sobre a saúde digital, em especial a mSaúde.

Com base em big datas, observamos atualmente o avançar da automação da tomada de decisão médica, seja através de sugetões por “inteligências” não-humanas de hipóteses diagnósticas e prognósticas, seja para orientações de condutas e/ou de terapêuticas consideradas mais eficazes de uma forma de vida classificada como normal e saudável. A essa dobra, imbuídos do caro debate crítico sobre a medicalização da sociedade, nós sugerimos o nome de automação algorítmica do saber-poder “médico”. Nela são constituídas relações entre humanos e não-humanos nas quais o app é capaz de exercer uma influência decisiva – individual e populacional – na conduta dos usuários, quer sobre suas práticas de cuidado quer sobre seus regimes de atenção e promoção à saúde. A relação médico-paciente, assim sendo, deixa de ser constituída apenas por seres humanos e passa acontecer também sob a automação algorítmica. E com ela estamos observando uma mudança de patamar (tecno)político do processo de medicalização, na qual tudo que for passível de ser dataficado poderá ser incorporado ininterruptamente nos cálculos biomédicos.