Apresentação: A tuberculose - TB é uma doença infectocontagiosa causada pelo Mycobacterium tuberculosis. O conhecimento a respeito de tal patologia faz-se importante ao considerar que Organização Mundial da Saúde - OMS declarou a TB em estado de emergência no mundo, sendo que esta é a maior causa de morte por doença infecciosa em adultos, estimando-se que um terço da população mundial está infectada. O Brasil ocupa o 15º lugar entre os 22 países responsáveis por 80% do total de casos de TB no mundo. A TB é a principal causa de morte entre as doenças infecciosas. Logo, deve ser compreendida em seu contexto macroeconômico, em que a doença causa empobrecimento e, em seu contexto social, em que a pobreza causa adoecimento, mantendo ativo um ciclo que envolve indivíduos, famílias e comunidades. Ao considerar as vulnerabilidades sociais às quais as pessoas que vivenciam situação de rua encontram-se, infere-se que a perda de seguimento ao tratamento tende a ser maior nesse público e por consequência o sucesso do tratamento tende a reduzir, fazendo com que as taxas de mortalidade sejam até 2,5 vezes maior nessa população quando comparada à população em geral. Diante dessa conjuntura, nota-se que a TB é uma doença com raízes sociais e está diretamente ligada às condições de vida dos indivíduos e o meio social no qual estão inseridos. Diante do exposto, o objetivo do presente estudo é analisar como o estado de vulnerabilidade social e em saúde impactam no desfecho do processo saúde-doença da TB em pessoas em situação de rua. Desenvolvimento: O estudo trata-se de uma revisão de literatura, a qual compreende o processo de busca, análise e descrição dos referenciais teóricos e outros materiais relevantes, com a finalidade de compreender o assunto em questão, a fim de reunir e sintetizar o conhecimento científico produzido sobre o tema investigado. Por meio da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), utilizando como referências as bases de dados da Medical Literature Analysis and Retrieval System Online - MEDLINE e Literatura Latino-Americana em Ciências da Saúde - LILACS  fez-se a busca dos artigos. Como critérios de inclusão, tem-se: textos completos; gratuitos; idioma português, inglês e espanhol; publicados nos últimos 5 anos. Como critério de exclusão foram considerados os artigos repetidos e que não se relacionam à questão norteadora. Para a busca foram usados os Descritores em Ciências da Saúde - DeCS: “Tuberculosis”; “Homeless Persons”; “Vulnerable Populations”, associados ao operador booleano AND. Após a busca, foi realizada leitura dos títulos e resumos e a seguir, realizou-se leitura detalhada dos artigos que foram usados para compor a pesquisa em questão. Ademais, foram utilizados como fonte de informação, publicações oficiais do Jornal Brasileiro de Pneumologia, materiais do Ministério da Saúde e outros de relevância científica associados ao tema. Resultados: Pessoas que vivenciam situação de rua são aquelas que pertencem ao grupo populacional que faz uso dos logradouros públicos como espaço de moradia e sustento de modo temporário ou permanente. Esse grupo encontra-se extremamente vulnerável ao adoecimento devido às condições ambientais, sociais e econômicas às quais são expostos.  Desse modo, o risco de adoecimento por TB nesta população é de 48 a 67 vezes maior e o risco de mortalidade é 2,5 vezes maior nessa população em comparação à população em geral. A alta taxa de adoecimento está relacionada às deficiências nutricionais, uso de álcool e outras drogas, privação de sono, falta de segurança, infecção pelo vírus da AIDS, idade avançada e falta de cuidados com a saúde que prejudica a função imunológica e eleva a probabilidade de desenvolvimento da TB. Associada a esses fatores está a transmissão da doença por via aérea. A infecção ocorre a partir da inalação de núcleos secos de partículas contendo bacilos expelidos pela tosse, fala ou espirro do doente com TB ativa de vias respiratórias. A principal fonte de infecção são os doentes bacilíferos, ou seja, aqueles cuja baciloscopia de escarro é positiva. A TB representa um grave problema de saúde pública e está associada à pobreza e à iniquidade social. Por ser uma doença negligenciada, a TB representa um agravo no processo saúde-doença e o controle no grupo social em questão torna-se ainda mais desafiador devido ao espaço de vivência destas pessoas e à maior probabilidade de transmissão da doença devido ao estilo de vida. O tratamento de pacientes com tuberculose em situação de rua é complexo e caro, pois demanda um maior cuidado e apoio profissional e de instituições de saúde, em comparação à população em geral. A doença em questão não costuma ser o foco da preocupação das pessoas em situação de rua porque fatores como alimentação e segurança são tidos como causas mais imediatas e competem com o cuidado de saúde.  Toda essa dinâmica torna ainda mais difícil a adesão ao tratamento e o seu abandono pode gerar resistência à medicação, além de aumentar o risco de óbito. O tratamento da TB é complexo e longo, ou seja, é necessário que o paciente use uma associação de fármacos diariamente por pelo menos seis meses. Apesar da existência do Programa Nacional de Controle da Tuberculose - PNCT, bem como a estratégia Consultório na Rua, tais medidas ainda não são suficientes para sanar essa problemática em virtude de a TB estar associada muito além da saúde, mas com todos os fatores sociais, econômicos e ambientais nos quais os indivíduos encontram-se inseridos. Considerações Finais: A TB ainda é, no século XXI, um importante problema de saúde pública no mundo, apesar de ser uma doença tratável e curável. O cenário de desigualdade social é um fator de impacto na vida das pessoas em situação de rua e quando os direitos essenciais citados na Constituição Federal não são garantidos de forma igualitária, nota-se que essa parcela da população menos assistida está mais suscetível às vulnerabilidades sociais, o que contribui com a manutenção do empobrecimento, das doenças, entre outros. Assim, para essa população, são essenciais estratégias capazes de fornecer condições mais dignas de vida. Além disso, os investimentos na qualificação dos serviços de saúde, na capacitação dos recursos humanos para as atividades de vigilância, avaliação e controle é fundamental para redução das taxas de transmissão, aumento na adesão ao tratamento e redução da mortalidade das pessoas em situação de rua.