Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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MORTALIDADE POR DOENÇAS CARDIOVASCULARES RELACIONADA A DETERMINANTES SOCIAIS: UMA REVISÃO DA LITERATURA
Franciele Flodoaldo, Emily Faé Ginelli, Gustavo Alberto Briske Klug, Francine Alves Gratival Raposo

Última alteração: 2021-12-27

Resumo


Apresentação: As doenças cardiovasculares - DCV fazem parte do grupo de doenças chamadas Doenças Crônicas Não Transmissíveis - DCNT’s e se constituem como uma das principais causas de morte no Brasil e no mundo. A alta incidência e prevalência de DCNT’s está associada aos indivíduos com menor renda e escolaridade, estando estes, expostos a maiores fatores de risco e com menor acesso à informação e aos serviços de saúde. Logo, nota-se que o cenário de desigualdade social é um fator de impacto na distribuição das DCNT’s. Como consequência, há alta taxa de anos de vida perdidos, alto volume de incapacidades laborais e para as atividades diárias e impacto econômico em âmbito individual e familiar, levando ao empobrecimento e prejuízo social. Entre as DCNT’s, as DCV, o câncer e as doenças respiratórias crônicas são as maiores causas de óbito e as DCV’s ainda se destacam nesse cenário, sendo que o Acidente Vascular Cerebral foi a primeira causa de morte seguido da Doença Isquêmica do Coração. Nessa perspectiva, objetiva-se identificar os principais fatores de risco associados às DCV e que se relacionam aos determinantes sociais, bem como compreender o contexto macroeconômico, em que a doença causa empobrecimento e, o contexto social, em que a pobreza causa adoecimento. Desenvolvimento: O estudo trata-se de uma revisão de literatura, a qual compreende o processo de busca, análise e descrição dos referenciais teóricos e outros materiais relevantes, com a finalidade de compreender o assunto em questão, a fim de reunir e sintetizar o conhecimento científico produzido sobre o tema investigado. Por meio da Biblioteca Virtual em Saúde - BVS, utilizando como referências as bases de dados Medical Literature Analysis and Retrieval System Online - MEDLINE e Literatura Latino-Americana em Ciências da Saúde - LILACS fez-se a busca dos artigos. Como critérios de inclusão, tem-se: textos completos; gratuitos; idioma português, inglês e espanhol; publicados nos últimos 5 anos. Como critério de exclusão foram considerados os artigos repetidos e que não se relacionam à questão norteadora. Para a busca foram usados os Descritores em Ciências da Saúde - DeCS: “Mortality”, “Cardiovascular Diseases”, “Socioeconomic Factors”, associados ao operador booleano AND. Após a busca, foi realizada leitura dos títulos e resumos e a seguir, realizou-se leitura detalhada dos artigos que foram usados para compor a pesquisa em questão. Ademais, foram utilizados como fonte de informação a Atualização da Diretriz de Prevenção Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia e outros materiais de relevância científica associados ao tema. Resultados: As diversas mudanças nos padrões comportamentais da sociedade contemporânea contribuíram ao longo do tempo para que as DCNT se tornassem um problema de saúde pública, atingindo com mais intensidade os países em desenvolvimento. Dessa forma, fatores como a transição epidemiológica, demográfica e nutricional, assim como os padrões de consumo, de alimentação e hábitos de vida em um mundo globalizado impactam de forma direta a incidência e a prevalências das DCNT’s. Acredita-se que, dos 36 milhões de óbitos ocorridos no ano de 2008, 63% foram ocasionados por esse grupo de doenças. As DCV constituem-se como a principal causa de morte no mundo, chegando a atingir taxas de mortalidade prematura de 80% e 88% em países de baixa e média renda, respectivamente. Em contrapartida, a partir do final da década de 50, observa-se um declínio da mortalidade por doença arterial coronariana nos países industrializados. Dessa maneira, a doença deve ser compreendida em seu contexto macroeconômico, em que a doença causa empobrecimento e, em seu contexto social, na qual a pobreza causa adoecimento. Assim, o envelhecimento populacional, a urbanização e o aumento na capacidade de consumo das populações de países de média e baixa renda associados a uma política de saúde sem ações consistentes, indicam uma possível epidemia de DCV. Diante dessa conjuntura, nota-se que além de estar relacionado ao fator socioeconômico, o aumento da expectativa de vida também é um fator que contribui para o desenvolvimento de DCV. Ao analisar a taxa de mortalidade e o nível socioeconômico, nota-se a existência de uma relação inversa, logo, baixos níveis socioeconômicos estão relacionados a elevadas taxas de mortalidade. Dessa maneira, indivíduos com baixo nível educacional, baixa renda, emprego de baixo status ou que vivem em áreas residenciais marginalizadas estão mais propensos a todas as causas de mortalidade.  Além disso, cabe considerar o impacto dos fatores ambientais sobre a incidência e a prevalência de DCV, haja vista que o habitat e o estilo de vida do indivíduo tem correlação com o processo saúde-doença. Ambientes mais carentes estão expostos a fatores de risco como limitação de acesso à saneamento básico, à água potável, à educação e outros. Os fatores ambientais podem impactar de tal forma, que até mesmo o relevo, o acesso ao transporte público e o nível de violência naquele território podem impactar o acesso à saúde. Assim, é importante que os indicadores socioeconômicos sejam investigados na avaliação clínica e considerados na abordagem do paciente para melhorar a qualidade de vida e o prognóstico das doenças do aparelho circulatório, sendo considerado como classe de recomendação IIb e nível de evidência B. Além desses condicionantes, alguns fatores de risco também devem ser considerados na mortalidade por DCV. Os principais são: índice de Massa Corporal - IMC, circunferência abdominal, hipertensão, dislipidemia, obesidade, sedentarismo, diabetes e síndromes metabólicas, alcoolismo e tabagismo. Cabe salientar, que muitos desses fatores de saúde relacionam-se diretamente ao fator econômico, em virtude de uma alimentação pobre, falta de acesso à academias e esportes, dificuldades de acesso ao SUS para acompanhamento e controle de doenças, entre outros. Considerações finais: De modo geral, de acordo com o Artigo 6º da Constituição Federal, cabe ao Estado a garantia dos direitos sociais como a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados. Logo, nota-se que o cenário de desigualdade social é um fator de impacto na distribuição das DCV e que a redução da mortalidade está diretamente ligada ao desenvolvimento de políticas públicas capazes de transformar os determinantes sociais e de garantir os direitos sociais. Ademais, o desenvolvimento de ações de promoção à saúde são fundamentais para reduzir os fatores de risco associados às DCV e, por consequência, melhorar a qualidade de vida da população.