Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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O processo de construção do diagnóstico situacional como ferramenta de aprendizagem durante a residência multiprofissional em Saúde da Família: relato de experiência
Amanda Morais Polati, Iluska Quaresma Gastaldelle, Rafaela Loubaca, Lilian Bertanda Soares, Nayara Callegari de Andrade, Ana Paula Rafino dos Santos, Amanda Del Caro Sulti

Última alteração: 2021-12-11

Resumo


Apresentação: Compreende-se por diagnóstico situacional (DS), o resultado de um processo de coleta e análise dos dados de uma determinada realidade. A elaboração do DS no contexto da Atenção Primária à Saúde (APS) é considerada uma ferramenta de gestão extremamente importante, uma vez que contribui para a identificação de condições de saúde e de risco da população adscrita, possibilitando o planejamento de ações coerentes com a realidade  e com base no perfil epidemiológico do território, garantindo assim maior resolutividade na atuação da APS. Portanto, durante o programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família (RMSF) do Instituto Capixaba de Ensino, Pesquisa e Inovação (ICEPi), na Unidade Educacional de Gestão e Cuidados Coletivos (UEGCC), constitui-se como uma das etapas do primeiro ano de residência a elaboração do diagnóstico situacional da Unidade Básica de Saúde (UBS) onde o residente encontra-se inserido. A elaboração do DS configura-se também como etapa constituinte do primeiro momento, o momento explicativo, do Planejamento Estratégico-Situacional (PES) proposto por Carlos Matus e desenvolvido no contexto da UEGCC no decorrer do período de 24 meses da residência. Neste sentido, o presente trabalho teve como objetivo apresentar a experiência na construção do DS de uma comunidade cadastrada em uma UBS localizada em um município da região metropolitana da Grande Vitória no estado do Espírito Santo (ES).

Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência. A experiência ocorreu durante os meses de maio a novembro de 2021 durante o processo de coleta e análise de dados para a elaboração do DS. O percurso metodológico para realização da coleta de dados do diagnóstico ocorreu por meio do acesso ao prontuário eletrônico utilizado pela rede municipal de saúde, aos relatórios disponibilizados pela Vigilância Epidemiológica do município, aos dados disponíveis no portal do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS)  e da Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS). Além disso, com o intuito de enriquecimento dos dados e para possibilitar uma maior aproximação com a realidade do território, utilizou-se também o Método de Estimativa Rápida Participativa (MERP), realizado por meio de entrevistas com atores-chave da comunidade.

Resultados/Impactos: Através do processo da coleta e análise dos dados do DS foi possível apreender e compreender questões importantes acerca do território e também da UBS, como aspectos sobre as características demográficas e socioeconômicas da população adscrita, a história da fundação dos bairros pertencentes à área de abrangência da UBS, dados epidemiológicos sobre a morbimortalidade e fatores que influenciam as condições de vida e de saúde da população, questões referentes a fragilidades e potencialidades do processo de trabalho das equipes de saúde da família, aspectos sobre o acesso e acessibilidade à UBS, questões relacionadas aos espaços de controle social, com destaque para a fragilidade de conhecimento e ocupação destes espaços pelos usuários, dentre outros. Identificou-se também nós críticos no processo de preenchimento e atualização das fichas de cadastro dos usuários no prontuário eletrônico da UBS, o que tem ocasionado uma desatualização e incompletude de diversos dados. O processo de construção do DS possibilitou também a realização de um levantamento dos serviços ofertados pela unidade, incluindo a atuação do Núcleo Ampliado de Saúde da Família (NASF), e dos setores de apoio existentes na rede de atenção, além da realização de um  mapeamento do quadro de profissionais, que encontra-se incompleto, e de uma análise acerca da estrutura física da UBS em comparação com as recomendações do Ministério da Saúde. Foi possível evidenciar ainda o papel da UBS no território enquanto principal serviço de saúde procurado pelos usuários em casos de doença, sendo identificada uma confusão dos usuários sobre as situações em que os mesmos devem procurar a UBS ou o Pronto Atendimento (PA) do município. É importante destacar que durante o processo de finalização da elaboração do DS, com o intuito de realizar uma construção coletiva e participativa do diagnóstico, a equipe de residentes realizou a apresentação dos dados coletados e analisados para o gestor local e nas reuniões das equipes de saúde da família  para validação dos problemas encontrados e também para que os profissionais pudessem apontar sobre fragilidades e potencialidades do diagnóstico elaborado. Assim, salienta-se que a realização das apresentações dos dados configurou-se como um momento ímpar da construção do DS, uma vez que as equipes realizaram inúmeras discussões e reflexões sobre o próprio processo de trabalho e o “fazer saúde da família” no atual contexto pandêmico e também de desfinanciamento do Sistema Único de Saúde (SUS). Além disso, é imprescindível enfatizar a contribuição do MERP na construção do DS, sobretudo no contexto da APS, considerando a importância e reconhecimento da perspectiva dos atores sociais da comunidade acerca da atuação da UBS no território e também das condições de vida e de saúde da população. Neste sentido, a colaboração dos sujeitos entrevistados durante o MERP tem possibilitado a construção de um planejamento das ações realizadas pelos residentes de forma mais participativa e coerente com as necessidades da realidade local, além de contribuir para a compreensão de aspectos sobre a organização e modos de vida da comunidade.

Considerações finais: De maneira geral, a elaboração do DS durante o período de inserção do profissional residente no cenário de prática da APS, configura-se como uma ferramenta potente para o processo de aprendizagem, permitindo ao mesmo identificar e priorizar problemas de saúde da população e ampliar o olhar sobre o território e a própria UBS, contribuindo assim para o desenvolvimento do raciocínio crítico-reflexivo do residente. Observou-se assim,  a importância da elaboração do DS no contexto da APS para contribuição da análise situacional do território e para o planejamento das ações das equipes de saúde da família com base nos aspectos epidemiológicos da população. Destaca-se aqui, a necessidade de elaboração e atualização do DS nas unidades de saúde como prática dos profissionais, principalmente nos locais onde não possuem programas de residência inseridos que se comprometem com a elaboração deste documento. Ademais, o processo de construção do DS constituiu-se também como uma estratégia que permitiu uma maior aproximação entre o programa de residência e os profissionais do serviço de saúde, contribuindo para o processo de vínculo entre os mesmos.