Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Análise de sobrevivência de pacientes hospitalizados por COVID-19 no Estado do Espírito Santo
Juliana Rodrigues Tovar Garbin, Franciéle Marabotti Costa Leite, Luís Carlos Lopes Júnior, Cristiano Soares Silva, Larissa Dell’Antonio Pereira, Ana Paula Brioschi dos Santos

Última alteração: 2021-12-28

Resumo


No ano de 2020 o mundo vivenciou o início de uma pandemia provocada por uma pneumonia de origem desconhecida causada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2: a COVID-19 (Coronavirus Disease 2019), cujo enfrentamento tem se tornado um dos maiores desafios sanitários em escala global deste século. Dessa forma, o objetivo do presente estudo é analisar a sobrevida livre do óbito de pacientes hospitalizados por COVID-19 e seus fatores associados. Trata-se de estudo retrospectivo, de análise de sobrevivência em indivíduos notificados e hospitalizados por COVID-19 no estado do Espírito Santo, Região Sudeste do Brasil. Utilizou-se como fonte de dados as notificações no ESUS-VS dos pacientes internados entre o período de 01 de março de 2020 a 31 de julho de 2021. Os critérios de inclusão apresentaram-se como ser paciente confirmado para COVID-19 e ter sido hospitalizado no Espírito Santo por esta causa. Como critérios de exclusão: hospitalizações antes do início dos sintomas, ausência da data da alta/desfecho, e, intervalo de internação menor que 24 horas. Para o tempo de sobrevida, considerou-se como data de início a data da internação e como data final a data do óbito (para as falhas), a data da alta e do óbito por outras causas (dados de censura). Os programas utilizados nas análises foram o IBM SPSS Statistics version 24 e o STATA versão 14. A caracterização foi apresentada pela frequência observada, porcentagem, valores mínimo e máximo, medidas de tendência central e de variabilidade. A regressão logística múltipla com o método de seleção de variáveis forward associou o desfecho (óbito por COVID-19) com os possíveis fatores de influência. Os fatores que permaneceram no modelo final foram utilizados para as análises posteriores. A permanência no modelo se deu pelo valor de p<0,05. O estimador de Kaplan-Meier foi utilizado para observar o evento de falha (óbito) assim como para estimar o tempo médio de internação dos pacientes em cada fator. O teste de Log-rank foi utilizado para comparar a igualdade das curvas de sobrevida. A regressão de Cox em conjunto com a avaliação de riscos proporcionais (premissa) foi utilizada para comparar o tempo de internação até a ocorrência do evento (óbito por COVID-19) associado aos possíveis fatores de risco. Quando a premissa de proporcionalidade não foi atendida se utilizou o modelo de Cox estendido, ou comumente chamado de modelo com covariáveis dependente do tempo. O nível alfa de significância utilizado em todas as análises foi de 5%.  O presente trabalho foi submetido à aprovação da SESA e do comitê de ética em pesquisa, através da Plataforma Brasil sob o parecer consubstanciado de número 4.282.026 de 2020. A amostra compôs-se por 9806 notificações de pacientes confirmados e hospitalizados por COVID19 no período entre de 01 de março de 2020 a 31 de julho de 2021, com a ocorrência de 1885 óbitos pela doença (19,22%).  O tempo médio de internação foi de 10,5 dias com desvio padrão de 11,8 dias. Quanto à caracterização da população, nota-se que a faixa etária prevalente foi a de até 59 anos (52,4%), a maioria (41,2%) apresentou o ensino fundamental (completo ou não), não eram gestantes (44,8%), raça/cor não branca (45,6%), sexo masculino (54,2%). O local de notificação pertencente ao nível terciário de atenção foi responsável por 62,5% da amostra. A quase totalidade das notificações era de pessoas sem deficiência (PCD) (96,5%) e não eram moradores de rua (97,8%). Quanto à residência e internação, a Regional de Saúde Metropolitana representou a maioria, com 64,4%, e, 63,9% respectivamente e são da zona urbana (86,7%). Quanto ao trabalho, 89,3% não são profissionais de saúde e 75,8% não apresentaram infecções relacionadas ao trabalho. Sobre os aspectos clínicos, não precisaram de internação na UTI (50,2%) e o critério de confirmação mais observado foi o laboratorial (97%). Em relação aos sintomas, preponderam a tosse (66,5%) e a febre (58,5%), e, como comorbidade a diabetes mellitus (20,5%). O resultado do teste log-rank para comparação das categorias das variáveis do estudo demonstrou que, considerando como evento de interesse o óbito por COVID-19, a probabilidade de sobrevivência de indivíduos hospitalizados com a presença de infecção relacionada ao trabalho ao final do período de observação foi de 94,33%, ao passo que os indivíduos que apresentaram sua ausência foi de 78,41%. Ao considerar a faixa etária, a probabilidade de sobrevivência acumulada para a faixa etária de até 59 anos foi de 91,17%, enquanto que entre os indivíduos com 60 até 79 anos, esta foi de 73,67% e 80 anos ou mais foi de apenas 57%.  Já as pessoas que possuíam ensino médio, a probabilidade de sobrevivência acumulada foi de 81,99%, ao mesmo tempo em que aquelas com ensino superior foi de 78,66%, ensino fundamental 72,80% e analfabetos 72,50%. Os indivíduos que não apresentaram febre obtiveram probabilidade de sobrevivência de 83,03%, superior àqueles que apresentaram febre (79,18%) ao final do período de observação. Já aqueles que não apresentaram dificuldade respiratória apresentaram 87,87% de taxa de sobrevivência, enquanto aqueles que tinham a presença o sintoma foi de 70,46%. Similarmente, os indivíduos que não registraram saturação de O2 <95% obtiveram 87,67% de sobrevivência, ao passo que aqueles que o registraram foi menor, de apenas 63,11%. No tocante às comorbidades, naqueles indivíduos que não as possuía, a probabilidade de sobrevivência acumulada foi de 88,3% para doença cardiovascular crônica, 81,29% para doença renal crônica, 81,74% tabagismo, ao passo que aqueles que as possuíam foi de 69,89%, 59,21% e 53,44%, respectivamente. Para todas as variáveis mencionadas houve diferenças estatisticamente significantes entre as curvas de sobrevivência entre os grupos (p<0,05).

Na análise multivariada após o ajuste, os fatores que apresentaram maior risco de ocorrência de óbitos por COVID-19 estando, por sua vez, associados à uma menor sobrevida, foram a infecção não relacionada ao trabalho (HR: 3,88; P<0,001), faixa etária entre 60 a 79 anos (HR: 1,97; P<0,001) e de 80 anos ou mais ( HR: 3,6; P<0,001), presença de febre (HR: 1,69; P<0,001) e possuir doença cardiovascular crônica (HR: 2,1; P<0,001). O conhecimento do perfil epidemiológico e clínico da COVID-19 em cada cenário, incluindo nele o hospitalar, torna-se importante para o auxilio do monitoramento ou conduta adicional para detectar complicações frente ao risco de óbito. Portanto, os dados identificados no presente estudo fornecem subsídios no estabelecimento de características sociodemográficas e clínicas que possam amparar os profisionais de saúde na escolha do melhor tratamento.