Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Suporte familiar e qualidade de vida da mulher idosa do Semiárido Nordestino
Denise Lima Magalhães, Cinoélia Leal de Souza, Rabrine da Silva Matos, Amanda Aurea Rodrigues, Elaine Santos da Silva, Jaqueline Lopes Prates, Anne Layse Araújo Lima, Alaides de Oliveira Souza

Última alteração: 2022-02-24

Resumo


Apresentação: o fenômeno contemporâneo do envelhecimento da população é uma realidade crescente, oriundo de um conjunto de fatores que culminaram na redução da mortalidade e aumento da expetativa de vida. Acerca disso, Organização Mundial da Saúde (OMS) considera o aumento da expectativa de vida e a longevidade como grandes conquistas da humanidade e, ainda, são apontados como marcos de sucesso do desenvolvimento humano. No Brasil, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística, a expectativa de vida do brasileiro ao nascer, em 2019, foi de 76,6 anos, idade esta que tende a subir ano após ano.

Paralelo às expectativas de longevidade, despontam novos paradigmas na perspectiva de melhorar a qualidade de vida e a participação efetiva desses indivíduos na sociedade. Uma vez que, não basta somente envelhecer, mas sim, envelhecer com qualidade. O processo de senescência traz consigo maiores riscos do desenvolvimento de problemas de saúde, quer sejam eles de cunho físico, mental ou social, que tendem a dificultar o desempenho das atividades cotidianas, assim, levando a algum nível de dependência. Nesse sentido, pessoas com declínio de capacidade, tem nos ambientes de apoio grandes aliados para uma vida digna e crescimento pessoal. Nesta perspectiva, tem-se o apoio familiar, compreendido como um meio de socialização pelo qual todos os aspectos culturais de um grupo são transmitidos e as necessidades psicológicas e fisiológicas básicas podem ser supridas. Pessoas que não possuem apoio familiar ou social têm maior probabilidade de enfrentar dificuldades diante das adversidades, desse modo, esse suporte possibilita efeitos benéficos na qualidade de vida daqueles que o recebem. A vista disso, sendo o processo de envelhecimento, por si só, atrelado a desafios, tem-se o envelhecer no nordeste brasileiro e ser mulher, como acréscimos as dificuldades enfrentadas por essa população, devido as iniquidades históricas e sofrimento do povo nordestino com longos períodos de estiagem, além de todos os percalços enfrentados pelas mulheres, muitos advindos de viver em uma sociedade predominantemente patriarcal, machista e sexista. Deste modo, esse estudo objetivou avaliar os aspectos relacionados ao suporte familiar e qualidade de vida de mulheres idosas de um município do sudoeste da Bahia.

Desenvolvimento: Tratou-se de uma pesquisa quantitativa descritiva, na qual foram entrevistadas 550 mulheres idosas residentes da cidade de Guanambi – Bahia. A coleta de dados foi realizada com base no cadastro das 15 Unidades de Saúde da Família (USF) do município, de forma aleatória e proporcional pelo número de usuárias cadastradas nas unidades, no período de fevereiro a junho do ano 2016. Foram utilizados como instrumentos um diagnóstico situacional e o WHOQOL-Bref, elaborado pela OMS. Para análise dos dados foi realizado, inicialmente, a caracterização da população estudada, através da análise univariada, obtida através de dados absolutos e relativos. Em seguida, realizou-se análise bivariada para identificar as associações através do teste x² adotando p-valor ≤0,05 para significância estatística. Em seguida, realizou-se a análise de regressão logística múltipla para avaliação simultânea das variáveis estudadas, considerando o nível de confiança de 95%. Foi utilizado o programa Stata na versão 10 para toda análise dos dados. Todas as fases da pesquisa foram realizadas em consonância com as questões ético-legais da resolução n° 466 de 2012 do Conselho Nacional de Saúde, que regulamenta as pesquisas envolvendo seres humanos no Brasil e, todas as participantes assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Este estudo faz parte de uma pesquisa desenvolvida no município de Guanambi-Ba com 550 idosas, intitulada perfil socio-epidemiológico da mulher idosa do munícipio de Guanambi-Bahia, aprovada pelo Comitê de ética em Pesquisa da Faculdade Independente do Nordeste (FAINOR), sob o protocolo CAAE: 50695415.5.0000.5578.

Resultados: no que se refere a avaliação do suporte familiar, segundo a percepção da qualidade de vida das idosas, 72,4% não recebiam cooperação contra riscos de acidentes. Nesse sentido, destaca-se a magnitude dos acidentes, principalmente os domésticos como fatores negativos ao envelhecimento saudável, principalmente as quedas, agravos frequentes na terceira idade e que podem acarretar sérios danos. No ambiente domiciliar, as mulheres estão mais expostas ao desempenharem atividades domésticas no cotidiano e devido a comportamentos de maior risco, nessa perspectiva, o auxílio familiar, como as orientações e implementação de medidas efetivas, desempenha grande importância na prevenção desse dano à saúde. No tocante aos fármacos, 72,2% das entrevistadas não recebiam cooperação com medicamentos, bem como, 71,8% não recebiam cooperação com recursos financeiros. Nesse ponto, é válido frisar que o uso de medicações é comum entre idosos, inclusive, de variados tipos e quantidades, a depender das comorbidades existentes, atrelado a isso, tem-se por vezes, a dificuldade no gerenciamento dessas medicações, seja pela baixa escolaridade, dificuldade visual e/ou de memória ou, até mesmo, pela confusão entre as várias prescrições.  Além disso, o fator financeiro é um tópico importante, uma vez que, é comum, principalmente nas regiões mais pobres, como Norte e Nordeste, a figura da pessoa idosa como provedora do lar, sobretudo com recursos da aposentadoria, cenário este que comprova os impasses sofridos pela mulher idosa que, mesmo após uma vida de trabalho, continua com responsabilidades financeiras com a família. Por outro lado, das entrevistadas, 92,5% relataram um bom convívio familiar, 67,3% se sentiam seguras na vida diária, 87,8% estavam satisfeitas com as relações pessoais. Dados que indicam uma boa convivência no seio familiar e social, apesar da falta de apoio em determinados âmbitos da vida. Por fim, 79,5% das mulheres idosas afirmaram estarem satisfeitas quanto ao apoio recebido e, relacionado a qualidade de vida, independente de qual variável seja analisada, a maioria das participantes classificou sua qualidade de vida como adequada. Em relação a análise de regressão logística, os resultados da medida de associação baseada em razões, o Odds Ratio (OR), no modelo multivariado final, os fatores associados à percepção de qualidade de vida foram a renda até um salário mínimo (OR= 1,52; IC= 1,11- 2,08); não cooperação dos familiares no risco de acidentes domésticos (OR= 1,88; IC= 1,19 – 2,95); insatisfação com a vida (OR= 2,32; IC= 1,55 – 3,46) e; insatisfação nas relações pessoais (OR= 2,27; IC=1,29 – 3,98). Resultados estes com alto grau de significância para o estudo, pois ressaltam a renda e apoio familiar, além de questões subjetivas em relação a vida e vínculos pessoais como aspectos ligados a percepção da qualidade de vida pelas idosas.

Considerações finais: apesar da terceira idade ser vista com mais autonomia e vitalidade que em outrora, entende-se que, para uma boa qualidade de vida, vários fatores se entrelaçam, dentre eles está o apoio familiar. O suporte da família é um recurso necessário em todos os ciclos de vida e, principalmente, para aqueles com maior grau de vulnerabilidade, como os idosos. Nesse sentido, é válido ressaltar o apoio familiar como um dos aspectos basilares para a melhoria da qualidade de vida das pessoas idosas.