Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Elementos facilitadores e dificultadores para formação de competências em saúde mental e trabalho na atenção primária à saúde
Roberta Belizário Alves, Mônica de Fátima Bianco, Thiago Drumond Moraes, Leonardo Alexandrino de Almeida

Última alteração: 2021-12-13

Resumo


Estudos científicos e estimativas oficiais têm sinalizado alta prevalência de adoecimento mental entre os trabalhadores como efeito dos modos de produção e organização do trabalho na atualidade. Tais demandas chegam à atenção primária à saúde (APS), porém a relação entre o trabalho e o quadro de adoecimento apresentado pelo usuário não é pouco identificada, o que produz efeitos no cuidado ofertado ao trabalhador. O planejamento de formações em saúde mental relacionada ao trabalho (SMRT) na APS torna-se estratégico para qualificar a atenção prestada ao trabalhador, e para contribuir com este processo, a pesquisa teve como objetivo investigar os saberes e práticas sobre SMRT desenvolvidos pelos profissionais de saúde da APS, bem como os elementos dos processos de trabalho que podem dificultar ou facilitar a produção de competências nesta área.

Foram entrevistados individualmente 16 profissionais de saúde, de nível médio e superior, de duas Unidades Básicas de Saúde de Vitória-ES. Os dados verbais obtidos foram submetidos à análise de conteúdo temática.

Como principais resultados destacam-se: os profissionais de saúde reconhecem os efeitos diretos do desemprego na saúde mental dos usuários, mas a maioria não cita a gestão e organização do trabalho como elementos relacionados à saúde mental dos usuários, embora identifiquem esta relação em sua própria vivência de trabalho.  A SMRT é concebida como área especializada e complexa, que não faz parte das atribuições da atenção básica, que não dispõe dos recursos necessários para a atenção ao usuário trabalhador. Citam como atividades dirigidas ao trabalhador a garantia de acesso por meio de oferta de horário estendido além do horário comercial, atividades que são ofertadas para o público em geral, como acolhimento, procedimentos para tratamento e reabilitação que possibilitem o retorno ao trabalho, e atividades para alívio do estresse. Reconhecem a existência de demanda em SMRT na APS, ainda que não seja explícita. A ausência de protocolos, instrumentos, rotinas e campanhas educativas, como também a sobrecarga de demandas e a falta de tempo adequado para escuta qualificada são apontados como principais dificuldades para desenvolverem-se competências nessa área. Como facilitadores, são considerados necessários tempo adequado de escuta, serviço especializado de retaguarda, estabelecimento de procedimentos e rotinas.

Conclui-se que: não há uma compreensão ampliada sobre como o trabalho influencia a saúde mental, assim como não há especificidade no cuidado ao usuário trabalhador na APS. As representações sobre SMRT como área especializada denotam a crença de que esta questão não é vista como atribuição da APS. Para se desenvolverem as competências em SMRT deve-se conciliar a oferta de formações e a adequação dos processos de trabalho, incluindo protocolos, linha de cuidado, campanhas educativas, tempo para escuta qualificada, e inclusão do trabalho como elemento de análise nas discussões de caso, apoio matricial, acolhimento e consultas. O horário diferenciado ofertado pelas Unidades Básicas de Saúde participantes do estudo, por ser espaço privilegiado de acesso de usuários trabalhadores, é oportuno para se propor iniciativas de formação, tais como treinamento em serviço ou supervisões, que visem desenvolver competências profissionais sobre as relações entre trabalho e saúde mental.