No Sistema Único de Saúde a Atenção Básica (AB) é caracterizada por um trabalho articulado às necessidades de cada território, lidando dentro dos serviços com questões da realidade brasileira, como a estruturação patriarcal do país. As mulheres se destacam como importante grupo a ser atendido e priorizado nos serviços de saúde, por experimentarem tal relação desigual de poder com os homens. As diferenças de gênero têm resultado em práticas de violência contra mulher que acarreta diversos danos, podendo ser consideradas um problema de saúde pública. Assim, objetiva-se com esse resumo, relatar uma experiência grupal na AB, de cuidado direcionado a mulheres, com foco no tema violência. Esse grupo acontece em uma Unidade de Saúde da Família  do município de Vitória-ES desde 2015, em continuidade no período de pandemia da COVID-19 de forma online, por meio do Google Meet. O grupo é conduzido, no momento, por duas estudantes de psicologia e uma fonoaudióloga residente, semanalmente, com duração média de uma hora e com uma participação que varia entre três e quatro mulheres por encontro. Apesar do formato remoto, o grupo se consolidou como espaço de acolhimento e escuta, onde as participantes se sentiram seguras para narrar suas vivências e refletir sobre a violência contra mulher, exatamente em um território com altos índices deste tipo de violência e em um contexto pandêmico que resultou em aumento dos casos desta. O trabalho com essa temática tinha como principal objetivo discutir o tema da violência contra mulher a partir das reflexões construídas coletivamente com as participantes do grupo. Foram realizados cinco encontros sobre essa temática, onde discutiram-se os tipos de violência contra a mulher (física, sexual, psicológica, moral e patrimonial) e a violência doméstica. Cada tipo de violência foi descrito e caracterizado segundo o site do Instituto da Lei Maria da Penha. Foram divulgados ainda, neste grupo, os serviços existentes na Grande Vitória-ES que atendem mulheres em situação de violência, e por indicação das próprias participantes, foi apresentado um vídeo contendo relatos de mulheres que vivenciaram violências e a sua maneira enfrentaram e superaram tais acontecimentos. Esse espaço, por meio das discussões coletivas, possibilitou que as participantes narrassem suas histórias e de mulheres próximas, bem como, expusessem suas análises sobre a insuficiência das políticas públicas em garantir a segurança e os direitos das mulheres em situação de violência. Foi possível também, os seguintes debates: a violência atinge todo o grupo familiar da vítima, tornando a situação ainda mais grave; as vítimas são por diversas vezes culpabilizadas, dificultando assim a saída dessas mulheres do ciclo de violência; a desigualdade de gênero é um agravante para que a violência contra mulher se perpetue e a dificuldade de compreender os motivos que levam uma mulher que foi agredida a permanecer no relacionamento. Desse modo, esse trabalho possibilitou a construção de outras narrativas e práticas entre as participantes, contrárias à perpetuação da violência contra a mulher; tanto que ao final desses encontros, as participantes construíram proposta de levarem esses debates para as escolas do território.