Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A UNIVERSIDADE FRENTE AO DESAFIO MUNDIAL DA PANDEMIA - RELATO DE EXPERIÊNCIA DO PROJETO REDE COLABORATIVA PICS
Alessandra Porto d'Ávila, Patricia Funk do Nascimento, Patricia Funk do Nascimento, Daniela Dallegrave, Daniela Dallegrave

Última alteração: 2021-12-21

Resumo


Este  relato de experiência foi desenvolvido por acadêmicas do curso de graduação em Enfermagem junto com a professora responsável e busca mostrar a trama que observa-se junto às articulações de ensino, pesquisa e extensão em Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) no desenvolvimento da REDE COLABORATIVA PICS, bem como na sua continuidade durante os anos de 2020 e 2021. Através das ações desenvolvidas na Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS, no período de enfrentamento à pandemia, em conjunto com as entidades parceiras do projeto, de forma remota construímos uma força-tarefa. A partir de histórico de ensino relacionado às PICS, elaborou-se o projeto de extensão ‘#SUStentaPICS: Práticas Integrativas e Complementares no Cuidado Integral à Saúde’. Diante do cenário de expansão da Covid-19, em 2020, as atividades do projeto, que acabara de iniciar na Faculdade, voltaram-se para a ampliação de estratégias de apoio aos profissionais da saúde, sobrecarregados pela crise sanitária, propiciando suporte e cuidado por teleconsultas em PICS. A projeção da extensão, intimamente vinculada ao compromisso social da Universidade, articulada com ensino já existente, novas ofertas de cursos de educação continuada, abriram questões para desenvolvimento de pesquisas. Costurar essas ramificações do projeto foi o desafio da Rede e, ao mesmo tempo, sua maior conquista. A experiência ativa nessa produção de uma rede de apoio, alicerçada nas PICS foi inovadora dentro da formação acadêmica.

O objetivo do relato é ratificar o caráter germinador das PICs, ressaltando possibilidades concretas de sua aplicação e ampliação, além da qualificação da formação acadêmica, por ser um recurso que exige pouco investimento financeiro e tem muito a ser replicado em diversos setores de saúde. Iniciamos o projeto da Rede Colaborativa PICS atendendo ao Rio Grande do Sul, no mês de março de 2020. Em poucos meses, ampliamos para os profissionais de saúde de todo Brasil. No ano de 2021, o desafio foi levar o projeto para um público maior, pois foi observado em pesquisas a necessidade de atender, através das PICS, também os profissionais da educação que encontravam-se em um momento de ansiedade muito grande pelo quadro sanitário e pela falta de orientações claras e protetoras da vida.

A participação em todas as etapas da construção da Rede foi fundamental para o melhor desempenho das acadêmicas como monitoras, integrando as reuniões da coordenação, construindo os planos de ação semanalmente, atuando ativamente de todos os momentos da Rede, apresentando propostas, elaborando materiais, tendo voz ativa, exercendo gestão e aprendendo ferramentas que serão úteis para atuação como profissionais de saúde relacionadas a aspectos de liderança, tomada de decisão, comunicação, diálogo e acolhimento. A produção científica, a pesquisa e bancos de dados foram fundamentais nesse momento, a apropriação do conhecimento tanto das PICS como dos aspectos relacionados a pandemia, bem como as medidas de mitigação embasaram nosso modelo de monitoria dentro da Rede, sempre evidenciando as práticas com cuidado e apropriação de conhecimento.

A Rede Colaborativas PICS está hospedada no site da Revira Saúde, com divulgação dos terapeutas que ofertam teleatendimento com Práticas Integrativas de forma gratuita aos profissionais de saúde e da educação, com a premissa de ser REDE, terapeutas engajados, diálogo com os coordenadores e monitores em todas as oportunidades. São previstos encontros periódicos com rodas de conversas sobre temas pertinentes ao contexto pandêmico, tais como violência doméstica, luto, suicídio, entre outros.

A articulação interna e externa à universidade, o uso das redes sociais (@redecolaborativapics) e o site (www.ufrgs.br/sustentapics) foram essenciais para a divulgação, organização e implementação das ações. Nestes espaços, ocorreram formação e divulgação da Rede por parte dos envolvidos, a preocupação com a construção de conteúdo digital que promovesse as vivências dos participantes, ampliasse o conhecimento da produção científica sobre as práticas reconhecidas pelo SUS (Sistema Único de Saúde), fortalecendo o vínculo da academia com a comunidade. Pode-se dizer que são costuras feitas através da extensão universitária e que consolidam a formação dos acadêmicos envolvidos. Nesse momento a gestão estadual da saúde foi um suporte fundamental, pois com ela tivemos o estímulo aos atendimentos durante o processo de trabalho, inserindo o  projeto diretamente no local laboral como uma oferta de cuidado de quem cuida.

Como desafios esbarramos em muitos: a própria pandemia (e assuntos adjacentes: estresse, suicídio, violências), a metodologia de teleatendimento (pouco conhecida por terapeutas e profissionais da saúde antes da pandemia), o gerenciamento de pessoal, a inexistência de financiamento. Na relação com ensino e pesquisa, as atividades remotas restringiam a mensuração da aprendizagem, com situações de pouco engajamento que traziam à tona a necessidade de estar sempre inovando. A inclusão de estudantes, terapeutas e público externo nas redes sociais foi uma forma de contornar esses desafios. A implementação do projeto deixou clara a necessidade de ampliação dos diálogos entre os eixos pesquisa, educação e extensão e como essa mistura pode vir a abrilhantar o conhecimento que buscamos na formação acadêmica.

Diante do panorama atual, percebemos que a REDE é um recurso que nasceu num momento de estranhamento e caos, quando percebemos o protagonismo da população de profissionais da saúde, ao mesmo tempo em que se constituía como um grupo de risco, precisava de ações de cuidado, um suporte para garantir uma forma de se manterem firmes e saudáveis no enfrentamento da pandemia. Foram dois anos de atendimentos, em um total de mais de cem terapeutas e mais de 500 horas de atendimento, mais de 20 lives e de 10 encontros com terpeutas, e um legado de produção escrita que será ao mesmo tempo um registro da história, mostrando o caminho das práticas integrativas e complementares, rumo ao exercício pleno da profissão e como suporte emocional em momentos de ansiedade e angústia. Consideramos que ainda estamos aprendendo com a experiência e que ela ainda tem muitas tramas a realizar. O segundo ano dessa estrada demonstra crescimento, aprendizagem com os erros e ampliação das ações assertivas. Confiamos que essa experiência pode e deve ser replicada, permitindo maior interação entre formação, pesquisa e comunidade, e ao mesmo tempo, as PICS ocupando espaços em locais onde pouco se fala delas, colocando um novo olhar sobre as práticas enquanto parte permanente, com embasamento científico, da formação acadêmica em saúde.