Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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O QUE A PANDEMIA NOS REVELA: RETRATOS DAS INIQUIDADES EM SAÚDE A PARTIR DA COVID-19
ANNABELLE DE FÁTIMA MODESTO VARGAS, JULIA HAMMERSCHLAG LIMA

Última alteração: 2021-12-21

Resumo


A pandemia da COVID-19 pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) tem se apresentado como um dos maiores desafios sanitários em escala global deste século e a desigualdade social brasileira impacta diretamente o seu enfrentamento. A Atenção Básica à Saúde é o primeiro ponto enquanto estratégia de cuidado no âmbito das Redes de Atenção à Saúde (RAS). A pesquisa ora apresentada tem por objetivo analisar as correlações entre a pandemia e as iniquidades em saúde no âmbito da Estratégia Saúde da Família. Trata-se de uma pesquisa de caráter qualitativo, que conta com entrevistas semi-estruturadas com usuários e profissionais de Unidades Básicas de Saúde, do município de Itaperuna-RJ, além de observação participante na comunidade e registros em diário de campo. Os resultados aqui apresentados tem caráter preliminar e foram obtidos em etapa exploratória de revisão integrativa da literatura. Em uma primeira vertente, pode-se chamar a atenção para a impossibilidade da prática de isolamento social em populações que vivem diante do completo abandono do Estado em cenários urbanos de pobreza e completa desorganização estrutural, falta de saneamento básico, habitação precária e residências de cômodos restritos onde convivem pessoas que diferentes núcleos familiares. Além disso, a aquisição de determinados insumos para a proteção individual, como máscaras e álcool em gel é inviabilizada a pessoas que não tem acesso a itens mínimos para higiene pessoal. A pandemia de Covid-19 no Brasil potencializou a perversidade das vulnerabilidades sociais, salteadas por estruturas de poder e pelas iniquidades sociais. Assumindo a sinergia entre os marcadores sociais – raça/cor, etnia, gênero, orientação sexual e classe social – avista-se a particularização dos fenômenos de dispersão do vírus e seus efeitos. A invisibilidade, contudo, dos Determinantes Sociais é notória, a exemplo da escassez de dados desagregados por raça/cor no estudo epidemiológico de morbimortalidade por Covid-19, o que confirma o cenário estruturalmente racista da sociedade brasileira. Soma-se a isso outros entraves - acesso à água, higiene, saneamento básico e segurança alimentar – socioculturais e linguísticos, que aprofundam os processos de vulnerabilização, remodelando-os e adensando-os no contexto da pandemia. O desenvolvimento das alternativas imunizantes reduziu extremadamente os óbitos, no entanto, é urgente o desenvolvimento de tecnologias de enfrentamento das iniquidades, no caminho da promoção de justiça social, em vista da reinvenção radical do presente e do futuro. A pandemia demonstrou, mais uma vez, a necessidade de um olhar atento às macropolíticas voltadas à garantia de moradia, saneamento básico, renda, segurança alimentar enquanto elementos essenciais para a manutenção da saúde. É necessário o desenvolvimento de políticas públicas intersetoriais voltadas à redução das desigualdades sociais. Seja pelo efeito absoluto - que aponta, diretamente, o impacto das disparidades de renda nas questões de saúde - seja pelo efeito contextual, que abarca a incapacidade local de resposta à crise sanitária, o contraste social desempenha papel relevante nos impactos da COVID-19 na população brasileira.