Apresentação

Este relato de experiência apresenta o percurso iniciado a partir de Ações Reflexivas promovidas pelo Núcleo de Educação Permanente em Saúde (NEPS) do município de Itaguaí-RJ junto à equipe de Fonoaudiologia local, problematizando o cuidado em saúde e o papel do fonoaudiólogo no SUS. Através de metodologias ativas de ensino-aprendizagem buscou-se o desenvolvimento de uma clínica ampliada em conjunto com a Rede de Atenção à Saúde (RAS). Como desdobramento, os profissionais do Centro Especializado de Fisioterapia e Fonoaudiologia (CEFF) e do Serviço de Atenção Domiciliar (SAD) desenvolveram ações que tiveram por resultado transformações nos processos de trabalho das equipes e um maior acolhimento dos usuários.

Desenvolvimento do trabalho

Com o intuito de estimular a reflexão sobre os processos de trabalho desenvolvidos pelos fonoaudiólogos do município de Itaguaí, o Núcleo de Educação Permanente em Saúde vem desenvolvendo atividades problematizadoras e de capacitação clínica junto à equipe de Fonoaudiologia. As atividades educativas foram desenvolvidas entre março e novembro de 2021, com periodicidade mensal, elaboradas em constante articulação com a Coordenação Geral de Fonoaudiologia e a partir de um Questionário de Análise Situacional, que teve como objetivo conhecer as demandas para qualificação técnica dos profissionais da rede municipal de saúde. Ao longo deste processo os profissionais envolvidos identificaram como principais desafios a desarmonia na articulação dos dispositivos da rede municipal e a necessidade de ampliação da perspectiva do cuidado em saúde. Considerando as necessidades apontadas, promoveram-se dois encontros especialmente centrados no papel do fonoaudiólogo no Sistema Único de Saúde (SUS) e na produção do cuidado. Nesta atividade, solicitou-se que os profissionais produzissem ações intersetoriais em suas unidades que ocorreram em dois dispositivos: o Centro Especializado em Fisioterapia e Fonoaudiologia (CEFF) e o Serviço de Atenção Domiciliar (SAD).

O Centro Especializado em Fisioterapia e Fonoaudiologia (CEFF) é formado por uma equipe multidisciplinar (fonoaudiólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogo, massoterapeuta e assistente social) e atende à usuários de todas as idades, com perfil majoritariamente composto por pessoas com deficiência. Considerando o grande número de crianças atendidas nesta unidade, a equipe observou que existiam dificuldades na integração dos irmãos das crianças com deficiência ao contexto familiar. Aspectos como a privação de atenção, menor reconhecimento de suas dificuldades e conquistas, pouco espaço de escuta, supressão de desejos em detrimento das demandas do outro e a importância da participação no desenvolvimento do irmão com deficiência foram observados durante a rotina de atendimentos. Tendo em vista que o cuidado ofertado à criança com deficiência geralmente requer dedicação exclusiva de algum membro da família, podendo impactar todos os componentes do núcleo familiar, realizou-se um encontro em roda de conversa, na perspectiva da Terapia Comunitária Integrada, entre a equipe multidisciplinar e as famílias de crianças com deficiência.

O Serviço de Atenção Domiciliar (SAD) é composto por médico, enfermeiro, técnico de enfermagem, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, psicólogo e assistente social, divididos em duas equipes multiprofissionais (Equipe Multiprofissional de Atenção Domiciliar - EMAD e Equipe Multiprofissional de Apoio - EMA, a qual se insere o fonoaudiólogo). Nesta abordagem de atendimento é preconizada a redução no tempo de hospitalização, a oferta de uma assistência humanizada e a continuidade do cuidado em âmbito domiciliar, propiciando ao paciente fortalecer o vínculo com o seu núcleo familiar e ainda ampliar ou restabelecer a sua autonomia no conforto do lar. Durante as ações de Educação Permanente percebeu-se a necessidade de conhecer com toda minúcia as particularidades dos usuários e de intensificar as ações que objetivam a promoção da desospitalização, a humanização dos cuidados em saúde prestados em domicílio e a integração entre as equipes da AD (Atenção Domiciliar) e as Redes de Atenção à Saúde (RAS). Neste cenário, a equipe optou pela retomada dos Grupos de Cuidadores, interrompidas pela pandemia da Covid-19, visando ações de educação em saúde.

Resultado e/ou impactos

Neste processo dialógico estabelecido entre a Equipe de Educação Permanente em Saúde (NEPS) e os fonoaudiólogos de Itaguaí foi discutida a relevância da gestão participativa no Sistema Único de Saúde (SUS), enfatizando a necessidade de se considerar a integração dos diferentes saberes na oferta do cuidado às pessoas atendidas nos serviços e suas famílias.

Considerando que o usuário transita por diferentes serviços de saúde e que sua condição clínica é suscetível à mudanças, foi verificada a urgência em validar um cuidado inovador, que contemple as necessidades do usuário, de seus familiares e/ou cuidadores através do diálogo mais constante possível e de ações intersetoriais que propiciem o acesso e a participação das equipes de saúde, dos usuários e suas famílias às diversas políticas públicas.

Uma das principais questões trazidas pelas famílias quanto a participação dos irmãos no cuidado das crianças com deficiência foi sobre a inclusão escolar. Foi possível perceber a necessidade de uma maior articulação, diálogo, formação e desenvolvimento de projetos que visem contribuir para a inclusão escolar das crianças com deficiência atendidas no CEFF.

No SAD, a ausência de reuniões com os cuidadores das pessoas atendidas em casa gerou uma maior demanda de trabalho assistencial para a equipe e levou a uma menor abrangência das ações assistenciais. Tais aspectos demonstraram a importância de retomar com urgência as reuniões com os cuidadores no fomento não só ao atendimento individual, como também no acesso a outras políticas públicas que favoreçam o cuidado.

Considerações finais

O percurso e a interação entre o Núcleo de Educação Permanente de Itaguaí (NEPS) junto a equipe de Fonoaudiologia local produziu transformações nas práticas em saúde do Centro de Especialidades em Fisioterapia e Fonoaudiologia e no Serviço de Atenção Domiciliar, impactando na clínica individual, na articulação intersetorial e no cuidado com a população atendida.

A partir de um levantamento de dados para apurar quais fatores implicam diretamente na qualidade da assistência fonoaudiológica, o NEPS promoveu reflexões e atividades que produziram e permanecem produzindo redes dialógicas, de afeto e interações entre as políticas públicas envolvidas na produção de uma melhor qualidade de vida e cidadania, sensibilizando, transformando e potencializando as práticas dos profissionais de saúde do município de Itaguaí.