Apresentação: A educação em saúde é compreendida como a aquisição de conhecimento em saúde pela população através da conciliação de ações e práticas no Sistema Único de Saúde (SUS), isto é, tem como objetivo capacitar as pessoas a adquirirem conhecimentos sobre fatores determinantes e procedimentos de saúde, colaborando para aumentar a independência referente ao seu cuidado. O processo de educação em saúde na atenção básica reflete sobre a atuação dos profissionais da psicologia como parte integrante e norteadora na valorização das potencialidades individuais e coletivas do sujeito, tanto na prevenção de doenças quanto na promoção da saúde, facilitando a construção de uma cultura do cuidado e nos saberes em saúde contribuindo para que o sujeito se torne autônomo. A população idosa está aumentando progressivamente e, consequentemente, suas vulnerabilidades. Embora o processo de envelhecimento seja universal, sua vivência se dá de forma diferenciada sendo atravessada por marcadores sociais, de gênero e raça. O grupo de pessoas em situação de rua possui em comum a utilização de espaços públicos ou estabelecimentos temporários para fins de moradia provisória, geralmente com condições subumanas atreladas à pobreza; fatores como este se agravam quando estão respaldados pelo fator idade. A condição do idoso na rua requer uma atenção maior, visto que é uma situação agravante para esse segmento populacional, principalmente no contexto de adaptação à realidade do social advinda da Covid-19: antes a sua subsistência estava atrelada, principalmente à circulação de pessoas nas ruas; agora com as normas de distanciamento social, a saúde integral do idoso de rua precisou de olhar apurado referente às especificidades desta categoria. Cabe ao profissional de Psicologia que atua na atenção básica, atuar junto ao segmento populacional representado pelas pessoas velhas em situação de rua, criando estratégias de apoio social articulado às redes e, dessa forma, buscar minimizar o sofrimento desses sujeitos. Objetivo: Este estudo tem como objetivo identificar as práticas de educação em saúde voltadas para idosos em situação de rua, desenvolvidas por psicólogos (as) que atuam na atenção básica.

Desenvolvimento do trabalho: O presente estudo faz parte de um projeto maior denominado Grupo de Estudos Multirreferenciais do Cuidado (GECUID), situado na Universidade do Estado da Bahia-UNEB.  Trata-se de uma pesquisa empírica, de caráter exploratório-descritivo e qualitativo, que buscou compreender a abordagem contextual de um grupo social específico.  Foram utilizados como instrumentos de coleta de dados questionários e entrevistas semiestruturadas com psicólogos(as) que atuam há mais de 6 meses em Unidades de Saúde e Programas de Saúde da Família, no ano de 2020. Este estudo atendeu aos princípios da bioética em pesquisa conforme as Resoluções 466/2012 e 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde. Foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa com seres humanos da Universidade do Estado da Bahia, sendo aprovada com o número de parecer 4.337.113. Os participantes preencheram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), sendo garantido o sigilo dos dados, benefícios, riscos e demais informações sobre a pesquisa. Os pesquisadores também se comprometeram a garantir as condições de sigilo nas plataformas digitais em que a pesquisa for conduzida. Todo o escopo da pesquisa envolveu a coleta de dados através da modalidade online devido às imposições médico-sanitárias trazidas pela Covid-19 e foram divididas em duas etapas: Na primeira etapa, a coleta de dados se deu através do formulário eletrônico, o Google forms, juntamente com o TCLE e os profissionais voluntários da pesquisa receberam o link do formulário por e-mail; já a segunda etapa, houve o direcionamento de perguntas específicas e pertinentes às psicólogas que atuam nas Unidades Básicas de Saúde, tudo isso efetuado pela plataforma Microsoft Teams. Os dados foram coletados entre março e junho de 2021 para posterior análise.Após a transcrição dos dados coletados, foram agrupados em tabelas e planilhas Excel para serem posteriormente analisados.

Resultados: As entrevistas semiestruturadas foram realizadas com 7 psicólogas que atuam nas Unidades Básicas de Saúde e/ou nas Unidades de Saúde da Família e conforme relatos dessas psicólogas, o perfil dos idosos atendidos nas UBS, em sua maioria, referem-se às mulheres idosas na faixa de 55 à 70 anos, negras e de baixo poder aquisitivo. As psicólogas entrevistadas evidenciam que existem muitas ações relacionadas a Educação em Saúde sendo realizadas na Atenção Básica, relatam que existem atividades com grupos de idosos que apresentam dinâmicas em que os participantes compartilham suas vivências e como os contextos em que estão inseridos influenciam no seu cuidado. Além disso são realizados passeios, campanhas de saúde, triagem clínica, entre outras atividades.  É notório que quanto mais completo o quadro de profissionais do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), mais atividades conseguem ser praticadas. As entrevistadas expõem que existe pouco suporte nas Unidades de Saúde para a execução das práticas de Educação em Saúde, sendo muito trabalhoso conseguir o suporte necessário e muitas vezes elas se desdobram com o que é possível ser feito. No cenário vigente, que estamos vivendo uma pandemia ocasionada pelo Novo Coronavírus, muitas dessas atividades foram suspensas, e as pessoas idosas foram as primeiras afetadas, pois foram os primeiros a serem suspensos por conta da sua vulnerabilidade. Os (as) idosos (as) que estão sendo atendidos(as) nesse contexto expressam muita queixa relacionada a solidão e a tristeza ocasionada pelo isolamento social. Porém, no que se refere especificamente à população idosa em situação de rua, a partir da análise de dados coletados nas entrevistas, não se verificou de forma efetiva, o atendimento a esse segmento populacional. Cabe salientar, que um dos princípios do Sistema Único de Saúde- SUS, e consequentemente da atenção básica, refere-se à universalidade, garantindo que todo cidadão tem direito à saúde e às suas respectivas ações assistenciais. Frente a isso, é evidente a urgência da necessidade de uma integralidade entre os serviços prestados para prover um acesso universal, bem como, o provimento e o aprimoramento da qualidade de vida desse grupo através de ações educativas, principalmente no que se refere ao contexto de isolamento social advindo da Covid-19 que requer um olhar apurado frente à intensificação das vulnerabilidades enfrentadas pelo envelhecimento nas ruas.

Considerações finais: A Educação em Saúde perpetrada pela Atenção Básica visa colaborar com o fortalecimento da transmutação ativa da realidade de determinado grupo social. No caso deste estudo houve a concentração no grupo social  da população idosa em situação de rua.  Esta atividade é feita ativamente através de trocas diárias de saberes e experiências; além de proporcionar uma elevação da relevância sócio existencial desse grupo, introduzindo no indivíduo uma mentalidade de ser sócio existencial agregador em prol da mudança da comunidade e de sua realidade subjetiva. Isso tudo é feito por intermédio de troca de valores entre o idoso de rua e o profissional psicólogo. Entretanto, as entrevistadas desta pesquisa relatam a carência de práticas educativas em saúde direcionada para esse público. Sendo assim, fica evidente que a Educação em Saúde deve ser prevista conforme as práticas adaptadas à realidade da Covid-19 e da categoria idosa específica. A escassez da prestação de serviços destinados a esse segmento populacional levanta a importância reflexiva para um olhar mais apurado destinado a esse assunto especificamente.

Palavras-chave: Educação em Saúde; Idoso; Cuidado; Psicologia; Rua.