Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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ATUAÇÃO DO CAPS COMO SERVIÇO SUBSTITUTIVO: DO HOSPÍCIO À LIBERDADE
Lucas Marvilla Fraga De Mesquita, Anna Carolina Corbelli Danon, Ariane Rodrigues Da Silva, Flávio De Lima Sardinha Barreto, Kelbert Dos Santos Ramos, Raíza Da Silva Pereira, Sofia Menezes De Mattos

Última alteração: 2021-12-16

Resumo


O campo da saúde mental no Brasil passou por processos de muitas transformações ao longo das três últimas décadas. Entre os anos 1980 e 2000 a reforma psiquiátrica lançou suas bases a partir da contestação ao modelo manicomial e asilar, a ser substituído por outros espaços de cuidado e atenção à saúde mental, de base territorial e comunitária, estimulando-se o tratamento em liberdade.A proposta da Reforma Psiquiátrica visa que o sujeito se torne independente, participativo, ativo e desenvolva-se nas diversas áreas: pessoal, profissional e social. Desta forma, é importante que se estabeleça uma rede de colaboradores comprometidos com o processo de ressocialização dos usuários, já que uma das diretivas apontada para a construção dos novos serviços da rede de atenção em saúde mental é o trabalho em equipe multiprofissional organizado de forma interdisciplinar.Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) surgiram, no Brasil, na década de 1980, e foram regulamentados em 1992 através da Portaria MS 224/921 com vistas a garantir um cuidado de base territorial e serem serviços substitutivos aos hospitalares, oferecendo cuidado intensivo ao portador de sofrimento psíquico. Na Política Nacional de Saúde Mental se expandem os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). A atenção psicossocial é uma expressão que indica a necessidade de se construírem oportunidades para as pessoas em sofrimento psíquico, para que possam exercer sua cidadania e atingir seu potencial de autonomia no território em que vivem. A atenção psicossocial tem como objeto de trabalho a existência de sofrimento em relação ao corpo social, e como objetivo, a emancipação social do sujeito. Os objetivos deste trabalho foram: Observar os avanços históricos na assistência de saúde mental e Discutir sobre métodos assistenciais que sejam efetivos no cuidado em saúde mental


METODOLOGIA: Trata-se de um estudo qualitativo e exploratório, utilizando fonte escrita, secundária e contemporânea. Tendo como análise dos dados a análise temática de conteúdo. Para a exploração do material, foram localizados nas bases de dados LILACS e BVS, foram construídos os Núcleos de Significação, os quais levaram os autores a considerarem os aspectos subjetivos e também pelas questões históricas e contextuais dos dados. Finalizando, procurou-se ampliar o campo de informação sobre o tema considerando a base teórica, contexto e objetivo do estudo, realizando sínteses e identificando os elementos emergentes que precisam de maior aprofundamento.Para a busca bibliográfica optou-se pela utilização dos descritores indexados associados com operadores boleanos “AND” e “AND NOT”: "SAÚDE MENTAL" AND "MEDICINA" AND "SERVIÇOS DE SAÚDE MENTAL" AND NOT "PSIQUIATRIA" com aplicação de filtros “últimos 5 anos”, “artigos do brasil” e “idioma português”, tendo como resultados 22 artigos, que foram analisados e apresentados em 3 categorias apresentadas a seguir:

O CAPS COMO INSTRUMENTO DE DESINSTITUCIONALIZAÇÃO NA SAÚDE MENTAL 

A assistência à saúde mental no Brasil passou por profundas mudanças a partir da década de 1980. Com o movimento dos trabalhadores em saúde mental, iniciou-se uma discussão acerca dos modelos de assistência à loucura, sob a influência do modelo italiano de desinstitucionalização, levando a novas diretrizes do cuidado pautado pelo respeito à dignidade e à liberdade às pessoas com sofrimento psíquico. Progressivamente foi se organizando uma rede substitutiva aos hospitais psiquiátricos, na qual estão incluídos hoje os CAPS. Os  CAPS  se  apresentam  em  diferentes  modalidades  a  depender  da  população  de  abrangência,  do  público  a  ser  atendido  e  dos  tipos  de  demandas acolhidas. Em síntese, sua função é “... acolher os pacientes com transtornos  mentais,  estimular  sua  integração  social  e  familiar,  apoiá-los  em  suas  iniciativas  de  busca  da  autonomia,  oferecer-lhes  atendimento  médico e psicológico”. Em consonância ao processo de desinstitucionalização, tais atribuições devem ser realizadas em conjunto com  uma  rede  de  serviços  que  compartilhe  ética  e  operacionalmente  da  substituição  das  práticas  de  segregação,  tutela  e  assistencialismo,  tipicamente exercidas nos hospitais psiquiátricos.

O PROJETO TERAPÊUTICO SINGULAR COMO PROPOSTA CAPAZ DE ORGANIZAR O CUIDADO EM SAÚDE MENTAL
O projeto terapêutico singular (PTS), é um instrumento capaz de qualificar as condições de vida e recuperar a autonomia do usuário, por meio de ações que favoreçam a ampliação de espaços de relação e troca. Os projetos necessitam ser construídos, reconstruídos e reavaliados com a participação dos usuários, familiares e equipe multiprofissional. Onde através do diálogo e entendimento mútuo, pode-se estabelecer a relação entre as diversas intervenções e a interação dos profissionais de diferentes áreas, contribuindo para a realização de práticas mais integradas que levem a ações verdadeiramente transformadoras.  A reforma psiquiátrica trouxe uma mudança de paradigma na assistência em saúde mental, e, dentre os desafios e necessidades lançados a partir deste movimento, está à implantação de estratégias terapêuticas multiprofissionais que favoreçam a interação entre os profissionais de uma equipe, articulando ações para proporcionar o máximo de autonomia e dignidade possível para os pacientes.

PRECONCEITOS RELACIONADOS À SAÚDE MENTAL

Os transtornos mentais ficaram em evidência nos meios de comunicação do Brasil e, nos últimos tempos, muito se tem ouvido falar sobre o tema. Contudo, é notório que a ligação entre preconceito e sofrimento psíquico permanece embutida na sociedade, requerendo que o tema continue a ser discutido nos grupos sociais, de acordo com Cândido (2012). Como se observa, ao longo da história da loucura, as pessoas com transtornos mentais eram qualificadas como “perigosas”, “doentes”, “anormais” ou “especiais”. Contrariamente aos séculos de XV a XIX, nos quais o conceito de loucura passou de natural a  patológico, nos debates desse século XXI discutem-se pontos   nodulares entravantes pela necessidade de ressignificações sociais/culturais, sob o enfoque do novo objeto: a pessoa com o transtorno e não mais a doença e o doente mental.Muitas pessoas interpretam o fato de precisarem de um psicólogo ou um psiquiatra como sinônimo de fraqueza, de debilidade, ou até mesmo de loucura.

CONSIDERAÇÕES FINAIS: Após a leitura dos artigos selecionados podemos contribuir a importância da necessidade de uma mudança na percepção e na forma de cuidar dos indivíduos em sofrimento mental, para que eles possam ser protagonistas das suas histórias, permitido a oportunidade de ser integrados a sociedade, para que possam ter oportunidades de mudanças reais em sua vida.Os dados apresentados mostram mudanças no olhar sobre o indivíduo em sofrimento mental, assim como as  alterações nas políticas públicas  e também sociais, principalmente quanto ao acolhimento e a mudança de tratamento dado a estes sujeitos,  permitindo de forma integral uma alteração nos modelos de tratamento, apoio familiar e atividades terapêuticas durante o período de acompanhamento nos CAPS, diferentemente dos antigos e equivocados moldes  das institucionalizações.As vivências nos CAPS e a promoção de condições modificadoras contribuem profundamente na geração de resultados positivos desenvolvendo potencialidades do indivíduo em sofrimento e dando a motivação necessária a eles para o resgate de uma vida com mais autonomia e individualizada.