Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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FREQUÊNCIA E CARACTERÍSTICAS DA VIOLÊNCIA FÍSICA NOTIFICADA NO ESPÍRITO SANTO
Luiza Albina Ribeiro, Márcia Regina de Oliveira Pedroso, Franciéle Marabotti Costa Leite

Última alteração: 2022-01-03

Resumo


Introdução: A violência de tipologia física é caracterizada por atitudes de ameaças de jogar contra o indivíduo ou dar um soco, no qual também se observa ocorrências de tapas, empurrões, socos, mordidas, cortes, estrangulamento, queimaduras, lesões por armas ou objetos. Atos como obrigar alguém a ingerir medicamentos inadequados, álcool, drogas, outras substâncias ou alimentos, tirar de casa à força, amarrar, arrastar, abandonar em lugares desconhecidos, também são ações características da violência física. Ressalta-se que a prática de agressões infringe os direitos humanos, visto que esse discorre sobre o direito das pessoas à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Outrossim, a temática da violência física requer atenção para a população e para o setor de saúde, pela inclinação ao acarretamento de consequências negativas no desenvolvimento biopsicossocioespiritual do indivíduo, cujos desfechos podem ocorrer em espaços públicos ou privados e acabam interferindo diretamente na qualidade de vida de diversos cidadãos, visto que pode gerar em mortes, impactos físicos e emocionais, como presença de dor, sono inadequado, cansaço durante boa parte do tempo, facilidade em se assustar, sentimentos de tensão, nervosismo e preocupação, tristeza, solidão, incapacidade, ódio, insegurança, presença do choro em maior frequência e abuso no uso de analgésicos, sendo reconhecida como um grave problema de saúde pública. Ressalta-se, por fim, que a atuação multiprofissional em saúde é a peça chave para detecção da violência física, já que muitos relatos abordam o primeiro contato da vítima, em busca de ajuda, sendo feito por profissionais da saúde que detectam graves danos, como fraturas, hemorragias, deformidades físicas, hipertensão arterial, problemas gastrintestinais e geniturinários, explicitando a potencialidade da ocorrência por um histórico de repetição e ciclo com outras violências, como psicológicas e sexuais. Portanto, o direito à saúde desses indivíduos deve ser preservado para que ocorra a prevenção contra agravos, manutenção e promoção da vida das vítimas. Os índices de agressões têm se mostrado cada vez mais frequentes a nível global. Desse modo, segundo a Organização Mundial da Saúde, a prevalência de violência física varia segundo o país, onde em países norte-americanos a variação é de 20% a 30% esse número pode chegar a 70% em países do sudoeste asiático e norte africano. Outro dado importante no que tange às agressões física, atendimento e notificação, estudos realizados mostram nos Estados Unidos que 46% das vítimas de violência física que buscaram atendimento no serviço de saúde não denunciaram a agressão, ocorrendo uma subnotificação dos dados. No que se refere ao território brasileiro, o estado do Espírito Santo, entre os anos de 2011 a 2018, apontou um crescimento significativo das notificações de casos, onde o número passou de 781 para 9.186 relatos de violência física. Convém mencionar que este agravo se associa a vítimas de diversas faixas etárias, sexos e orientações sexuais, sendo esses pessoas com deficiência ou não e em condições sociodemográficas e socioeconômicas distintas, moradores de zonas rurais ou urbanas e outros aspectos. Objetivo: Descrever a frequência e as características das notificações de violência física no estado do Espírito Santo no período de 2011 a 2018. Método: Trata-se de um estudo epidemiológico descritivo acerca dos dados notificados e registrados de violência física no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) no estado do Espírito Santo no período de 2011 a 2018. As variáveis em estudo: características da vítima, do agressor e do agravo. Como características gerais da vítima foram incluídas a idade em anos (0 a 9 anos; 10 a 19 anos; 20 a 59 anos; 60 anos e mais), sexo (masculino; feminino), raça/cor (branca; preta/parda), presença de deficiência/transtorno (não; sim) e zona de residência (urbana/periurbana; rural). Em relação às características do agressor temos a idade em anos (0 a 24 anos; 25 anos ou mais), o sexo (masculino; feminino; ambos), o vínculo com a vítima (conhecido; desconhecido) e a suspeita de uso de álcool (não; sim). Quanto ao evento foram descritos o local de ocorrência (residência; via pública; outros), número de envolvidos (um; dois ou mais), o histórico de repetição (não; sim) e o encaminhamento para outros serviços da rede de atenção (não; sim). Os dados foram trabalhados no pacote estatístico Stata versão 14.1, e os resultados apresentados por meio de frequência absoluta e relativa, bem como, intervalos de confiança de 95%. Resultados: No período de 2011 a 2018, a violência física compôs um número de 20.048 (56,2%; IC95%: 55,7-56,8) notificações de violência interpessoal registradas no estado do Espírito Santo. Verifica-se que 71,9% das vítimas eram pessoas do sexo feminino, com idades de 20 a 59 anos (71,1%), no qual 70,3% eram raça/cor preta/parda. Ademais, 90% das vítimas não eram indivíduos com deficiências ou transtornos e 88,3% residiam na zona urbana/periurbana. No que tange às características dos agressores, observou-se uma prevalência de 75,4% de autores do sexo masculino, sendo que 69,5% tinham 25 anos ou mais , 85,5% eram conhecidos da vítima e em 52% dos casos não houve suspeita do uso de álcool. Em relação ao evento, 63,9% das agressões ocorreram em residência, 81,9% dos casos envolviam apenas um agressor, 50,7% foram categorizados como violência de repetição e 83,8% dos casos foram encaminhados para outros serviços. Considerações Finais: Foi possível evidenciar que a violência física é a mais notificada entre as violências interpessoais. É de suma importância ter conhecimento acerca das características e frequência da violência física, visto que evidencia o público mais vulnerável a essa vivência, auxiliando na formulação de estratégias de prevenção e monitoramento. Esse estudo evidenciou que a violência física foi mais frequente em mulheres, de 20 a 59 anos, de raça preta ou parda, sem deficiências e habitar em locais urbanos ou periurbanos. Com relação ao agressor e ao evento, foram mais prevalentes homens, acima de 25 anos, conhecidos da vítima, sem ingestão de álcool, com apenas um envolvido, tendo ocorrido nas residências, com histórico de repetição e sendo realizado os devidos encaminhamentos para outros setores de apoio à saúde. Sendo assim, urge a necessidade de um olhar mais sensível ao público que se enquadra nessas características, para melhor promoção da qualidade de vida, integrando a equipe multiprofissional para assegurar ao indivíduo seu direito à saúde, à vida, à liberdade e à segurança.

Palavras-chave: Violência. Agressão. Epidemiologia Descritiva.