O presente relato parte de um projeto de pesquisa em nível de mestrado no campo da Saúde Coletiva cujo tema central é gestão do cuidado a partir de um Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas. Nosso objetivo é investigar como as dinâmicas de trabalho e cuidado se concretizam a partir de uma dimensão da micropolítica das práticas de atenção, dos movimentos e agenciamentos construídos no cotidiano de um serviço, correlacionando-os com condições precárias de atuação das trabalhadoras(es), os quadros de vulnerabilização das pessoas que procuram o serviço, bem como as dificuldades de acesso e a produção ativa da exclusão social. Para tanto, a partir da experiência de trabalho, e de uma orientação etnográfica, reunimos memórias de trabalho através do registro em diários de campo, bem como as utilizamos enquanto estratégia para interlocução com outras trabalhadoras(es) em encontros coletivos e individuais, com intuito de reunião conjunta e discussão acerca das memórias e do próprio trabalho em saúde.  Desse modo, buscamos analisar a gestão do cuidado para pessoas que usam drogas atentando para os possíveis limites de implementação de políticas públicas de saúde para usuários de drogas e para um contexto social marcado por processos de precarização que incidem sobre serviços públicos, relações de trabalho em saúde e redes de suporte social através da escassez ou distribuição desigual de recursos e exposição a esquemas de violência e vulnerabilização.

Percebemos que o CAPS AD acolhe diferentes potenciais beneficiários de políticas sociais: pessoas em conflito com a lei, em situação de rua, vítimas de violência sexual e doméstica, em situação de vulnerabilidade social, entre outros. Além disso, a recepção e acolhimento desses segmentos populacionais pode se dar em articulação com estabelecimentos que compõem outros sistemas além do Sistema Único de Saúde / SUS, como o Sistema Único de Assistência Social/ SUAS. Como também percebemos, no contexto pesquisado, que essa recepção e acolhimento passa a ocorrer principalmente de forma coletiva ou grupal, especialmente pelo fato de que a demanda seria crescente e variada demais da perspectiva de quem se encontrava em precárias condições de trabalho.

Esperamos contribuir com a literatura e discussão sobre o cuidado a usuários de drogas analisando a operacionalização e gestão das práticas de atenção a partir de contextos e situações de concretas no encontro entre profissionais e usuários.