Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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ENVELHECIMENTO, COGNIÇÃO E FUNCIONALIDADE DE IDOSOS MORADORES DA ZONA RURAL DE PARINTINS NO INTERIOR DO AMAZONAS-BRASIL
Hércules Lázaro Morais Campos, Yandra Alves Prestes, Maria Natália Cardoso, Higo da Silva Lopes, Lorena Forte Leão, Elisa Brosina de Leon, Elizabete Regina Araújo de Oliveira

Última alteração: 2021-12-17

Resumo


Com o crescente aumento da população idosa em todo mundo, se vê a necessidade de conduzir novas estratégias complementares às políticas governamentais e de saúde direcionada à população idosa. A velhice é vivida de formas diferentes em cada geração e que depende de múltiplos fatores ambientais e biológicos e em virtude das diferenças regionais do Brasil não há apenas um tipo de velhice, mas formas diferentes de envelhecer para cada região.O município de Parintins, chamada de ilha Tupinambarana, no leste do interior do estado do Amazonas é considerada o segundo município mais populoso do estado e é composto de diversas zonas rurais, algumas próximas ao perímetro urbano do município e outras cinco comunidades rurais em regiões mais afastadas e ribeirinhas. O envelhecimento na zona rural se impõe como uma realidade em todo o Brasil e no mundo. Objetivo: Descrevemos aqui a experiência que vivemos quando visitamos 50 idosos moradores da cidade de Parintins no interior do Amazonas no que tange aos aspectos sociodemográficos, funcionais e cognitivos. Materiais e Métodos: Estudo de característica transversal. Quatro comunidades rurais foram visitadas: Parananema, Macurani, Aninga e Vila Amazônia. As visitas foram realizadas em domicílio nas comunidades dos idosos de 20 de fevereiro a 05 de março de 2020. Apresentaram-se todas as orientações sobre o estudo e o convite de participação da pesquisa, feito isto, ao concordarem, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) dessa coleta que está aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa 08021419.2.0000.5020. Aplicou-se um questionário sociodemográfico com dados pessoais, idade, sexo, profissão, raça, estado civil, número de filhos, tempo de residência na comunidade, estado de moradia, renda, utilização de serviços de saúde, tabagismo, etilismo, audição, visão e uso de medicamentos. A avaliação cognitiva dos idosos se deu pelos pelos seguintes testes: Mini Exame do Estado Mental - MEEM, Informant Questionnaire on Cognitive Decline in the Elderly - IQCODE, Teste de Fluência Verbal, Escala de Depressão Geriátrica - GDS, Teste de Trilha e Teste de Reconhecimento de Figuras. Para avaliação físico-funcional escolheu-se testes amplamente usados na literatura apara avaliar esses componentes em idosos. Sendo estes: Short Physical Performance Battery - SPPB, World Health Disability Assessment Schedule - WHODAS e Functional Brazilian Older American Resourcers and Services Multidimensional Functional Assesment Questionnaire – BOMFAQ. Resultados: Os 50 idosos da zona rural da cidade de Parintins-AM apresentam características bem específicas: 60% (30) dos idosos são mulheres, apresentam média de ±64,5 anos de idade. Destes, 82% (41) retrataram morar com alguém e 98% (49) são aposentados e de baixa renda e 94% (47) recebem até um salário-mínimo por mês. No MEEM  apenas 18% (9) dos idosos rurais conseguiram pontuar 9, a média correta para a condição de analfabeto auto declarada. Destes, no IQCODE, 54% (27) dos idosos apresentaram piora em entender o que está escrito em revistas e jornais e piora em aprender a utilizar novos aparelhos da casa. Na GDS, 54% (27) apresentam mais de 5 sintomas depressivos. No Teste de Trilha, 56% (28) dos idosos não acertaram o teste.  No teste de Reconhecimento de Figuras 94% (47) dos idosos apresentaram boa memória incidental, maior ou igual a 5. Sobre as características físico funcionais, no SPPB, 72% (36) dos idosos pontuaram igual ou maior que 8, chama atenção que no teste de equilíbrio 50% (25) pontuaram 0 e no teste de sentar e levantar 34% (17) pontuaram 0 também. No WHODAS II, 44% dos idosos apresentaram piora no quesito ficar em pé por mais de 30 minutos, quando comparado há dez anos. No BOMFAQ, 64% (32) dos idosos apresentaram dificuldades em atividades específicas de cortar as unhas dos pés e sair de condução. Discussão: O perfil sociodemográfico assemelha-se com o que foi encontrado em estudos de caracterização de idosos da zona rural no interior do Amazonas onde a presença do sexo feminino, baixa escolaridade e baixa renda são prevalentes nas pesquisas em zonas mais afastadas da cidade. A avaliação cognitiva através do MEEM, demonstrou um bom desempenho dos idosos rurais ainda que eles possuam dificuldade quanto a leitura e escrita, no entanto, em todos os outros testes cognitivos aconteceu o inverso. Quanto ao IQCODE, destacou-se que os idosos apresentaram piora no quesito aprendizagem de coisas novas, leituras simples do dia a dia e escrita comparados há dez anos, o IQCODE e MEEM são considerados complementares um ao outro, oferecendo maior precisão à presença de algum declínio cognitivo e/ou demência do idoso, mesmo este sendo mais complexo que o MEEM. Uma realidade importante sobre a escolaridade e renda desses idosos é a necessidade pelo trabalho em lavouras desde cedo repassada pelos pais. Os idosos rurais relatam que o acesso à educação na zona rural como símbolo de desafios, devido à distância e alto custo com transportes é necessário tomar embarcações (feitos por estreitos cascos de troncos de árvores) até a escola mais próxima, sem contar com os gastos com materiais escolares. Estudos comprovam que o trabalho sempre foi uma prioridade nestas áreas, pois além de ajudar no aumento da renda familiar mensal é uma maneira de ocupação para os mais jovens e de sentir-se útil para os idosos. No Teste de Reconhecimento de Figuras os idosos rurais de Parintins apresentaram pontos positivos para nomeação, memória incidental e evocação imediata, relatando apenas dificuldades em visualizar as figuras, sendo esta queixa apontada previamente em testes anteriores. Quanto à GDS, mais da metade dos idosos apresentaram sintomas depressivos, evidências retratam que a depressão é um fator de risco importante apresentado pelo idoso para a deterioração da cognição e da capacidade funcional do dia a dia. Durante os testes de equilíbrio e de sentar e levantar da cadeira do SPPB, muitos idosos apresentaram sérias dificuldades ou nem tentaram realizar o que foi solicitado, tornando-se evidente a falta de equilíbrio e fraqueza muscular de membros inferiores, a baixa pontuação no SPPB também pode ser um forte indicativo de riscos de quedas e maiores níveis de fragilidade apresentados pelos idosos.  As atividades básicas do dia a dia foram mensuradas pelo BOMFAQ dificuldades comuns como cortar as unhas dos pés, sair de condução, subir escadas e medicar-se na hora correta foram mencionadas pelos idosos rurais, são atividades que exigem maiores ângulos de movimentos corporais ainda assim não os fazem dependentes, pelo contrário, conseguem realizar atividades complexas como subir em barcos, morros e barrancos. Conclusão: A população idosa da zona rural de Parintins mesmo apresentando alterações cognitivas e alterações da funcionalidade está imersa em atividades do campo e da pesca, assim como o artesanato e costura. Para os idosos rurais de Parintins, a felicidade está no colher, no plantar, nas corredeiras fartas de cambadas, no peixe na brasa, no pé da mangueira depois do almoço, na alegria das crianças jogando bola no barranco à espera de mais um pôr do sol. A rotina e resiliência desses idosos rurais chamam atenção e merece ser investigada com mais profundidade. Foi um desafio coletar e avaliar esses idosos em suas comunidades rurais devido às distâncias por meio do rio através de barcos pequenos ou canoas algumas dessas viagens duravam até cincos horas em média. Durante a coleta, a pandemia causada pelo COVID-19 se espalhou, limitando e impactando no número da população que participou do estudo, interrompendo a continuação de visitas aos demais idosos.